SOLIDARIEDADE: O momento de euforia do Euro 2004 não nos deve fazer esquecer aqueles que mais precisam da nossa ajuda. Paulo Sousa, antigo internacional português que foi recrutado para comentador da RTP 1, aparece desde o início do torneio com o mesmo fato e com a mesma gravata. Alguém ajude o homem, por favor.
ERA DIFÍCIL?!?... Era difícil, Sr. Scolari? Era? Eu pergunto: era muito difícil? Nós só lhe pedimos para deixar os nossos jogadores jogarem à bola. Nós oferecemos-lhe quase toda uma equipa campeã da Europa, à qual adicionámos excelentes jogadores espalhados por esse mundo fora. Proporcionámos-lhe um grupo organizado por um dos melhores treinadores do mundo, um grupo experimentado e habituado às pressões e aos grandes jogos. Demos-lhe o Deco, o apoio de uma inteira população e o silêncio dos críticos. Embandeirámo-nos. Emprestámos-lhe 18 meses de brincadeira e sossego para tirar ilações e fazer experiências. O dinheiro e as condições que se pretendiam. E nós só lhe pedimos para organizar a equipa óbvia e evidente e treiná-la minimamente para o que viesse a suceder. Engolimos até que por birras inexplicáveis deixasse de lado o melhor guarda-redes nacional e demos de barato que por obsessão neurótica e masoquista pusesse o Simão no início dos jogos a atrapalhar o trabalho dos colegas. Dávamos isto tudo de graça e ainda lhe pagávamos caríssimo pelo pouco que lhe pedíamos. O seu esforço resumia-se a uma ou duas conversinhas com o Figo para que ele se apercebesse e se consciencializasse das vantagens de passar a bola ao colega nascido noutro país, mas agora português, e a um lamirézito ao outro médio ofensivo para que compreendesse a importância de só entrar a meio do jogo, quando o ritmo do adversário o fizesse parecer estranhamente rápido. No mais, o Sr. Scolari só tinha de encaixar a massaroca depositada na sua conta e deixar aquela malta excelente jogar à bola tal como sabe: era difícil? Era mesmo preciso ter perdido com a Grécia? Andar a fazer experiências inúteis no primeiro jogo a sério? Era preciso estarmos ainda nesta indefinição e sofrimento quando podíamos já ter passado esta fase do campeonato? O Sr. Scolari conseguiu o impossível, deve estar muito satisfeito consigo. Mas é o único.
posted by VLX on 3:31 da tarde
#
(4) comments
ESTÃO DE PARABÉNS duas referências da blogosfera: o Comprometido Espectador que lamentavelmente se descomprometeu a continuar a brindar-nos com os seus excelentes textos e o Aviz, onde mora a escrita cuidada e uma serena inteligência.
posted by NMP on 4:41 da manhã
#
(0) comments
O DISCURSO DOS CÃES: Narra o Guardian que a general Karpinski (foto aqui) afirmou ontem, no programa On the Ropes da BBC, que um tal de Miller (provindo de Guantanamo), seu superior hierárquico, a aconselhou a tratar os prisioneiros "como cães": "She said the senior officer told her prisoners 'are like dogs and if you allow them to believe at any point that they are more than a dog then you've lost control of them'".
É curioso que essa seja precisamente a expressão usada pelos tais terroristas fundamentalistas que tanto nos chocam quando tratam os ocidentais por "cães infiéis".
Alguém estabelecerá que é uma invenção da general Karpinski. Ninguém aludirá, oficialmente, ao seu apelido polaco.
posted by PC on 3:30 da manhã
#
(0) comments
ATÉ JÁ, MARINHEIRO: Do extraordinário Luiz Melodia, carioca maldito do Morro do Estácio, que, sem o saber, escreveu estas linhas sobre o nosso FNV:
em qualquer boteco
em qualquer esquina
eu entro
e se houver motivo
é mais um samba que eu faço
ABSTENÇÃO: Como se previa, a abstenção nas eleições europeias foi esmagadora. E continuará a ser até que os principais partidos decidam reformar o sistema, conferindo uma efectiva representatividade na relação eleitores-eleitos, desse modo permitindo uma responsabilização destes últimos. Até que isso aconteça, assistiremos a um progressivo desinteresse da população.
Já por diversas vezes escrevi que o corporativismo - na forma como é praticado em Portugal - é um dos cancros da nossa sociedade. É deplorável a forma como as várias categorias profissionais protegem os seus (como se de uma cosa nostra se tratasse), impedindo a normal responsabilização de quem erra, sejam juízes, médicos, advogados ou outros. O mais inacreditável é que esse tipo de corporativismo é também extensível aos políticos, únicos interessados na manutenção do status quo e que, dessa forma, protegem coutadas adquiridas e perpetuam-se nos cargos ao dispor. O sistema político tal como existe hoje é um sistema para os próprios políticos e não para os cidadãos, os quais não só não têm possibilidade de os responsabilizar directamente (só ao partido) como também não têm hipótese de participar senão pelas regras da própria "corporação", sujeitando-se aos sinuosos caminhos dos "aparelhos". Se fossem necessárias provas desta afirmação, veja-se a recente campanha eleitoral, em que não houve sequer a preocupação de debater as causas europeias (nem sequer a constituição!). É apenas um jogo de caras e lugares e de ganhar ou perder mandatos.
Perante este "totalitarismo" e perante a vontade instalada de que nada mude, as alternativas passam pela abstenção, pela adesão a projectos extremistas ou pela revolução.
Uma vez que as pessoas (ainda) entendem que a democracia é um bem supremo, a abstenção é a opção imediata. Outra consequência é a adesão ao bloco cripto-comunista de inspiração totalitária que, sob o disfarçe da modernidade, cavalga com competência o descontentamento crescente. A revolução, que seria o último recurso, pode ganhar corpo como alternativa se a degradação continuar a este ritmo.
posted by Neptuno on 12:00 da tarde
#
(1) comments
É PRECISO ACREDITAR:"...que o suor de quem trabalha é um bem para se guardar..." Transportando para o futebol este fado de Coimbra, hoje queremos sangue, suor e lágrimas. Um jogo é um jogo e perder é sempre uma possibilidade. Mas não podemos nunca perder a dignidade. Quem entrar em campo hoje tem que dar tudo o que tem, sem queixumes, tremideiras ou ciúmeiras ridículas de vedetas empedernidas. A derrota é digerível, a falta de atitude não.
posted by Neptuno on 11:49 da manhã
#
(1) comments
PONTO DE ORDEM: Como acontece sempre que tem havido alterações na tripulação do Mar Salgado, aqui fica um ponto de ordem relativamente à idiossincracia deste blogue:
- O Mar Salgado é uma nau caótico-pluralista. Significa isto que aqui escreve sem controle de alguma espécie gente com diferentes opções de vida, político-ideológicas, estéticas, clubísticas, filosóficas e que usam roupas e perfumes bem distintos.
- Os textos são da exclusiva responsabilidade individual de quem os assina. Nunca se praticou, não se pratica nem se praticará qualquer tipo de censura nesta escuna. Os limites da escrita serão única e exclusivamente ditados pela consciência individual de quem aqui escreve.
- Mantemos com muito orgulho e honra a nossa filiação na União dos Blogues Livres, uma vez que o seu ideário anti-totalitarismo marxista na blogosfera corresponde à tendência maioritária deste blogue. Mas somos e seremos uma página pluralista.
Muito obrigado pela atenção dispensada.
posted by NMP on 3:47 da manhã
#
(2) comments
UM ADEUS PORTUGUÊS: A única coisa permanente na vida é a mudança. A esta regra não foge o Mar Salgado. O que começou por ser uma navegação solitária, rapidamente se transformou num esforço colectivo (que não colectivista). A tripulação desta nau foi reforçada em sucessivas vagas de adesões que muito nos alegraram. Até agora, só tínhamos tido a felicidade de anunciar novas adesões. Chegou finalmente a hora de anunciar uma partida.
Devido a afazeres profissionais e pessoais de outra índole e a uma opção pessoal, FNV deixará de colaborar regularmente com o Mar Salgado. Ou pelo menos, com a regularidade que o tinha transformado no verdadeiro patilhão desta embarcação. No ano em que aqui diariamente escreveu, FNV assumiu-se como uma das referências da blogosfera lusa, com o seu espírito livre, o seu humor corrosivo, a sua combatividade argumentativa e um certo jeito para descrever e enquadrar o que outros apenas conseguem intuir. Perdemos o prazer quotidiano da companhia da sua inteligência fulminante. Consolamo-nos com a esperança de que nos vá brindando a espaços com a sua cortante lucidez.
A tripulação inclina-se agradecida e respeitosamente ao ver um dos seus melhores partir. Os leitores, estou certo, sentirão, durante muito tempo, um enorme vazio quando demandarem a esta escuna.
Para o velho lobo do mar FNV, aqui fica um grato adeus português. Que como se sabe pode ser expresso por um simples até logo.
posted by NMP on 3:27 da manhã
#
(2) comments
DIÁLOGOS DO ALÉM. PEÇA EM UM ACTO PARA HOMEM E TELEMÓVEL: 16912: Boa tarde. Queria falar com o Sr. Pedro Caeiro.
PC: Sou eu. Boa tarde.
16912: Estou a ligar-lhe da Vodafone porque nos faltam alguns dos seus dados pessoais e queríamos completar o seu registo de cliente. Tem tempo disponível, agora?
PC: Sim, se for rápido.
16912: Muito bem. Em primeiro lugar, qual é a data do seu nascimento?
PC: ... Como?
16912: A data em que nasceu!
PC: (pausa perplexa) A data do meu nascimento? Mas para que é que a Vodafone precisa de saber a data do meu nascimento?
16912: Bem... para completar o seu registo de cliente.
PC: Mas isso serve-vos para quê?
16912: Olhe... pode ser que lhe façamos uma surpresa no seu aniversário, por exemplo!
(Ao fundo do palco, começam a crescer, em sombra chinesa, umas enormes orelhas de burro. Subitamente, a Presença de Espírito, numa das suas raras aparições, desce sobre o homem em forma de Faltava-me Esta No Fim Do Dia).
PC: Pois... mas eu não aceito presentes de estranhos... Desde pequeno.
16912: Bem... se não quiser, não dá.
PC: Muito obrigado. E a questão seguinte...?
16912: Tem endereço de correio electrónico?
PC: Sim, tenho.
16912: E pode dizer-me qual é?
PC: Também acho que a Vodafone não precisa dele. Já recebo tantas mensagens escritas, vossas, a anunciar coisas que nunca pedi... Imagine o que seria por e-mail.
16912: Bem... só um momento, por favor.
(Em off, ouve-se um teclado a matraquear. O homem começa a inquietar-se. Nunca se sabe).
16912: A última questão: tem outro contacto telefónico?
PC: ... (voz sumida) Mas se a rede deste é vossa... Preferem telefonar-me para outra rede?
16912: É que... é só para completar os registos.
PC: Ah. Não, não tenho outro contacto telefónico para vos dar.
16912: Bom, sendo assim... muito obrigado pela sua disponibilidade e por ter respondido às nossas questões! Boa tarde!
PC: Boa tarde...
(O pano desce com o homem olhando, pensativo, para o telemóvel deitado na palma da mão).
THE BRIGHT SIDE OF THE MOON: Pois eu acho que quando nos aparece uma adversidade o que temos a fazer é olhar para o lado bom das coisas. A esquerda ganhou as eleições europeias?... É chato, realmente. Mas nós ganhámos a manutenção deste líder da oposição até às legislativas - o que não é coisa pouca - e nessa altura se verá quem ri melhor.
AV. ARISTIDES SOUSA MENDES, S/N: Depois do triste episódio das hesitações em atribuir o nome de Sousa Mendes a uma rua de Coimbra, vi no sempre bem informado Diário da mesma que se escolheu para o efeito a "avenida" (?) que liga a rotunda do fim da R. Fernando Namora à rotunda da Estrada da Beira.
Se é mesmo onde penso que é, trata-se de um miserável viaduto, um segmento de nada de onde se sai antes de se entrar. Sem casas, nem lugar onde plantá-las.
O mundo é estranho. Dar uma rua deserta e inabitável a quem preservou tantas vidas.
posted by PC on 3:06 da tarde
#
(5) comments
STO. ANTÓNIO, OS PEIXES E OS VÍCIOS DELES: Como hoje é dia de Sto. António, aqui fica uma lembrança do de Coimbra pela voz do Pe. António Vieira:
"E começando aqui pela nossa costa: no mesmo dia em que cheguei a ela, ouvindo os roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram a riso como a ira. É possível que, sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar? Se com uma linha de coser e um alfenete torcido vos pode pescar um aleijado, porque haveis de roncar tanto? Mas por isso mesmo roncais. Dizei-me: o espadarte por que não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada tem pouca língua. Isto não é regra geral; mas é regra geral que Deus não quer roncadores, e que tem particular cuidado de abater e humilhar aos que muito roncam".
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.