O MARIA MARINHEIRO: Até a ser o candidato à câmara de Lisboa - sem o apoio do PCP e sobretudo sem ser simpático ao poderoso BE - Manuel Maria Carrilho era um querido dos (e das) jovens jornalistas lisboetas . De repente passou a ser uma entidade absolutamente abominável, fiel depositário dos maiores defeitos políticos e pessoais possíveis, entre os quais os de "canalha" e de actor/produtor de películas pornográficas. Um distraído poderia ser levado a pensar que tudo isto se deveu a maus e megalómanos projectos para Lisboa, à descoberta de envolvimento em redes pedófilas, a nomeações de amigalhaços para cargos apetecíveis no tempo em que foi ministro, só entretanto descobertas. Mas não, parece que não. Julgo que o Dr. Carrilho se esqueceu de um conselho de Séneca, que no entanto sabe de cor: Nunca tem bom vento o marinheiro que não conhece bem o seu porto".
posted by FNV on 4:15 da tarde
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ESSELEBÊ!!!!! Grande vitória ontem sobre o Sporting ( 7-4) e consequente conquista do título nacional de futsal. O pavilhão nº1 da Luz a abarrotar, a águia Vitória bem disposta, os golos de André Lima e a classe de Rogério Vilela, fizeram mais uma noite de forte comoção e união benfiquista. Sofreu-se menos do que no 3º jogo com o Olivais ( se tivessemos perdido haveria sempre terceiro jogo), mas ainda assim foi de estalo. O excelente guarda-redes do Sporting ( é o titular, este sim, merecido, da selecção nacional...) dizia no final do jogo, com tristeza e com fair-play: "Mereceram no campo e pelo público extraordinário que os apoia, ao contrário de nós que só tivemos 50 bravos.". Clube do povo, é o SLB: palavras para quê?
UMA CONSPIRAÇÃO DE ESTÚPIDOS: Um "festival de bandas rock" (sic) ocorrerá hoje a partir das 21.30h, no jardim do Liceu José Falcão, em Coimbra. Quando soube ontem, pensei: é engano, não é possível. Mas, passando hoje no local, confirmei, pois os preparativos estavam em marcha. Estupefacto fiquei: o palco do referido festival fica a escassos trinta metros (!!!) do Instituto Maternal Bissaya Barreto, onde estão internadas grávidas, mulheres com cancro no útero e muitas outras maçadas clínicas. Armei-me em repórter para tentar perceber a coisa e telefonei para a estrutura hospitalar, fazendo-me passar por José de Castro, jornalista do diário on-line "Sagital". Puseram-me a falar com alguém da administração que se negou a responder a qualquer pergunta minha por telefone. A minha pergunta era apenas esta: "sabe o que vai ter aí logo à noite?" Depois, porque o festival é organizado pela Juventude Comunista Portuguesa, telefonei para o PCP e cheguei à fala com um moça da JCP, C. M., muito simpática. Identifiquei-me como familiar de uma pessoa internada na referida maternidade e perguntei-lhe se estavam autorizados a fazer aquilo; disse-me que sim, que tinham autorização da "Câmara e da PSP". Ainda assim, disse-lhe que achava muito estranho, que eles, jovens comunistas, sempre tão preocupados com o estado da saúde das mulheres ( e não só) em Portugal, não se importassem de ir zurrar decibeis a trinta metros de uma maternidade. A rapariga desarmou-me: "Olhe, não nos tinhamos apercebido disso, sabe...". Escusado será dizer que liguei para a PSP, novamente na pele de José de Castro, jornalista do Diário on-line "Sagital", para saber quem tinha autorizado tal disparate; disseram-me que a Câmara e o Governo Civil, "mas não tinham a certeza". No Governo Civil, às 17.00h, já ninguém atendia. Neste país viola-se a lei e o bom senso, com o beneplácito daquela e o desconhecimento deste.
Ó 1313, eheheh..., pode ser que sim, mas também é verdade que o PCP já não é o que era: agora é que estão mesmo com paredes de vidro. Aquele abraço . Paulo???!!! Anónimos, estou habituado, mas heterónimos são mais chatos de aturar. Mas enfim, é a vida, como dizia o engenheiro...
posted by FNV on 5:24 da tarde
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O TRIUNFO DE CUNHAL: Analisando a situação actual do país, ocorre-me a imagem da ditadura do proletariado na sua tenebrosa "concretização" soviética: o insuportável peso do Estado no que isso acarreta de insustentabilidade económica, de clientelismo e de imobilismo. No patrocínio da mentalidade reinante de que tudo é devido pelo Estado, só há direitos adquiridos e onde o risco e a livre iniciativa são vistos como actividades tão perigosas como andar de comboio na linha de Sintra. E, paradoxalmente, a sublimação dessa ditadura acontece... nas eleições. Os dois partidos políticos com possibilidades reais de governar são reféns dessa clientela que, normalmente, decide o resultado eleitoral e que, por isso mesmo, dificilmente será afrontada por políticas aparentemente hostis. Quando se conseguir ter a coragem de corrigir esta situação - essa sim, uma verdadeira reforma que exige mais do que "medidas" contra o défice - tudo o resto será mais fácil.
DUAS VEZES DOIS: Dois blogues com grande pinta (verdadeiros gorazes do mar blogosférico) completam o segundo aniversário: o Blogo Existo e o Avatares de Desejo. Vivó João, vivó Bruno!
posted by PC on 2:18 da tarde
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MOLÉCULAS: Numa carruagem de um comboio suburbano um velho lento teme não chegar a tempo ao aniversário da neta a cabeça cheia com os filmes da TV e os pretos a assaltar deviam ser todos mortos depois pensa que todos é uma categoria que o pode abranger e recolhe-se sob o jornal / Ao lado dois tipos sem medo de nada nem deles próprios namoram o celular da morena que bom que era e que fácil / Na TV zurra o engravatado a dizer que tudo isto é novo mas do lado de lá do mar de cá duzentos mil deles acenam-lhe espera que já vais ver a novidade / Estragamos o que não podemos ter enquanto esperamos o que nem em sonhos conseguimos desejar quando os sociólogos perceberem isto a guerra civil já terá passado ao estado larvar.
A VITÓRIA DE MASOCH: Estes dias de medo e calor são bons para continuar com a Sofia do Mal a raptar o tal de amor. Ela segue o romântico, eu inclino-me mais para o túmulo das sete filhas de Níobe. Não é ela, Antígona, que deseja mais do que pode? E isto é violência, só violência. A palavra, como no deserto, engana a água: o que acontece quando amamos mais do que podemos? Dir-me-ão, tal não é possível. Mas é, desde logo na ausência. Se o outro morreu ou fugiu, o nosso amor é tão sedento quanto o de Antígona. Queremos, podemos, e não encontramos o que perdemos. A força de tal besta é incontrolável e os músculos procuram, cegos, outros trabalhos. Assim fazemos coisas em nome daquilo que amamos, contrato a termo incerto estabelecido com uma legião de estivadores alucinados. Mas há ainda aquele que, vivo e perto, não suporta tanto amor. Prefere berlindes e reposteiros novos. E a violência de novo, na sua mais réptilinea forma, a da contenção obrigada; E passamos a regular, de pipeta na mão, a dose certa, como Bulgakov na sua cinzenta clínica moscovita. É a vitória dele, de Sacher Masoch.
Meu caro DTC: eu vivo do medo. À minha (muito pouco) anónima e brasileira amiga "Maria": Masoch é a vitória da regulação da violência bastarda, apenas isso; é a pipeta, a suspensão.
posted by FNV on 11:24 da manhã
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À ATENÇÃO DE CERTOS BENENOSOS: Relembra e bem o José Manuel Delgado, que se Trapattoni ( o tal "que não percebe nada de futebol", como Mourinho, e por isso foi campeão europeu e nacional em três países) fosse treinar a A.S. Roma, a 575km de Milão (onde reside), ninguém estranharia; mas como escolheu Estugarda, a 507 km de casa, rebolam-se. Coitados.
AYAAN HIRSI ALI: Holandesa de origem somali, que vive sob ameaça de morte em virtude da denúncia da repressão sofrida pelas mulheres muçulmanas, autora do argumento do filme Submissão - I - curta-metragem de Theo Van Gogh, entretanto assassinado por um fundamentalista islâmico - deu uma entrevista à Veja (juro que não recebo comissões!) desta semana, de onde destaco a seguinte passagem, quando questionada sobre o impacto do referido filme: "...eu esperava uma dose maior de indignação dos liberais laicos, intelectuais e políticos de esquerda. O pessoal que acha ter o monopólio dos bons sentimentos. Na verdade, eles padecem do velho paradoxo da Revolução Francesa, que promoveu os direitos humanos em casa, mas manteve a escravidão nas colónias. Em nome da convivência multicultural, do respeito às tradições de outrém, esses intelectuais do Ocidente hesitam em colocar em evidência a situação subjugada da mulher dentro do Islã. Eles têm receio de ofender, de suscitar cólera e assim ajudam a perpetuar o sofrimento e a injustiça. Ora, aqui não cabem relativismos. Abuso e mutilação sexual são crimes e ponto final. Hoje, agora, já! Tampouco deve ser tolerado o assédio, a perseguição da qual são vítimas os homossexuais muçulmanos. Os ocidentais não podem fazer vista grossa nem calar, como já fizeram durante a existência dos gulags soviéticos."
posted by Neptuno on 4:57 da tarde
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SOIS MUITO GENTIS: A ETA avisou esta semana que vai deixar de perpetrar atentados contra políticos espanhóis. Quer dizer que aquela modalidade de abater autarcas do PP ( e não só) à saída de suas casas, com um tiro na nuca, está oficialmente extinta. Uns corações-moles, estes rapazes. Só uma coisa me escapa. Se bem me lembro, a lenga-lenga desculpatória destas e de outras patifarias, consistia em afirmar que elas eram uma "resposta à violência de Estado". Quando e como acabou, a tal "violência de Estado"? Se bem reparei, nos últimos anos, foram presos dezenas de chefes etarras e o braço político da ETA até foi impedido de participar em actos eleitorais. Mas isso agora, como dizia a outra, já não interessa para nada, pois não?
posted by FNV on 12:48 da tarde
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COMER NO QUARTO: A TSF com a ajuda de um especialista português em medicina da reprodução, está a comentar um estudo inglês que diz que a população europeia arrisca-se a começar a desaparecer dentro de dez anos. Parece que o problema são as mulheres com gordura nas trompas de Falópio e os homens com fraco sémen. Estes estudos enfiados assim antes do almoço são um bocadito indigestos, mesmo para mim, que já fiz três filhos à mãe deles. Agora reparo, a moça é magra.
HOSPITALIDADE, TOLERÂNCIA E DIFERENÇA:Hospitalidade e tolerância são duas ideias que por vezes se confundem, provavelmente porque ambas giram em torno da diferença. E, todavia, não pertencem à mesma área da experiência social, por força da diversidade das respectivas raízes, dos deveres em que se traduzem e dos sujeitos que beneficiam. Num momento em que, paradoxalmente, regressam as pulsões do Estado territorial e da cartilha moral única - partilhadas pelas correntes mais desvairadas, sob o máximo denominador comum da luta contra o politicamente correcto -, proponho-me escrever aqui um post, mais que correcto, politicamente impecável.
1. Hospitalidade No Terceiro Artigo Definitivo para a Paz Perpétua, Kant definiu a hospitalidade como o dever correlativo do direito de visita (Besuchsrecht), sc., o direito que assiste a todo o estrangeiro que pisa terra alheia de não ser tratado com inimizade. Este direito (que Kant distingue expressamente do direito de residência / estabelecimento [Gastrecht]) não deriva de uma qualquer preocupação "filantrópica", mas sim da originária posse comum da superfície da Terra. Não é uma graça, uma atenção, sequer uma virtude, mas um dever: enquanto se mantiver em paz, o estrangeiro tem o direito de ser deixado em paz. A hospitalidade é devida, portanto, ao estrangeiro que nos visita temporariamente. A primeira nota interessante a destacar na formulação de Kant é o conteúdo meramente negativo da prescrição: não tratar o estrangeiro com hostilidade. Tudo o que vá, positivamente, além dessa obrigação de abstenção - receber o estrangeiro, fazê-lo sentir como que em casa - não será um dever jurídico, mas um acto de cortesia. A segunda nota, que agora mais me importa aqui, é a concessiva implícita. A paz doméstica é um direito de todos os cidadãos (entendidos como membros de certa comunidade)e, por isso, o conceito de hospitalidade só faz sentido se quisermos dizer: apesar de estrangeiro, ele tem direito a ser deixado em paz. Mais de 300 anos depois, apetece reexaminar o âmbito do dever de hospitalidade e o círculo dos seus beneficiários. No que ao primeiro diz respeito, nós, feitores de aquém e além Adamastor, estamos bem colocados para apreciar o valor da hospitalidade. Sabemos que ao estrangeiro, por sua própria condição, não basta ser deixado em paz - embora essa seja a dimensão básica do seu direito, ainda hoje incompreendida por aqueles que, olhando para o passaporte na fronteira, perguntam a quem chega se vem dedicar-se à prostituição. Na verdade, o deslocamento confere ao visitante o direito a prestações especiais por parte do anfitrião, sem dependência de uma futura e eventual retribuição (pois é um direito, e não a assunção de uma dívida), embora assente, naturalmente, numa base de reciprocidade, não por causadarelação que aí se estabelece, mas por causada universalidade do dito direito. Prestações que não tornam o visitante num residente - sob pena de perder aquele estatuto especial -, mas que atendem à posição especial e temporária de quem visita. Coisas simples: o visitante tem direito, p. ex., a que não lhe buzinem quando, hesitante, pára o carro num cruzamento; ou a obter, sempre que possível, as informações de que necessita numa língua que compreenda; ou que lhe expliquem, junto à fonte de montanha onde pretende comungar com a natureza, o significado da expressão "água imprópria para consumo" gravada na tabuleta. Acima de tudo, o anfitrião não pode tomar para si a máxima segundo a qual em Roma se deve fazer como os romanos - Roma, em todos os seus regimes, era uma cidade imperial. No que diz respeito à segunda nota, e atendendo ao contexto d'A Paz Perpétua, é possível que Kant, referindo-se ao estrangeiro como Fremdling (hospes, stranger, estranho) tivesse em mente apenas o Ausländer (hostis, foreigner, forasteiro). Seria precisamente essa diferença radical suposta no estatuto do estrangeiro que justificava uma consideração específica sobre a sua condição, igualando-o na garantia da paz doméstica atribuída aos cidadãos. Mas hoje, à luz da mesma lógica de diferenciação positiva do estrangeiro que proponho, talvez se justifique regressar ao conceito mais amplo de Fremdling como estranho, o outro-outro que não pertence ao nós. Porque hoje o estrangeiro não é só (ou nem é tanto) o nacional de outro Estado. Os processos de fragmentação, estratificação e aglutinação social criaram sociedades complexas onde habitam, por vezes, várias comunidadesseparadas, ainda que inseridas no mesmo Estado e assim sujeitas a essa nivelação formal. Por isso, estrangeiro é também o homem do campo que tenta obter, no hospital da capital do seu distrito, que desconhecia até aí, informações sobre a mulher internada; ou o analfabeto que tenta perceber, numa repartição de finanças, o que é o IRS; ou o turista que não conhece os vícios das marés más e se faz, perigosamente, ao passeio. Todos eles, estrangeiros-visitantes-temporários, têm um direito de hospitalidade relativamente à comunidade anfitriã, que não só não pode hostilizá-los por serem estrangeiros, como deve suprir as agruras do deslocamento. Nada disto tem que ver com tolerância.
2. Tolerância Diversamente da hospitalidade, a tolerância não tem por destinatário um estrangeiro-visitante (um outro-outro), mas sim os restantes membros da nossa comunidade. Não brota do deslocamento a que está temporariamente sujeito aquele primitivo compossuidor da superfície da (nossa) terra, mas sim da própria liberdade que, conjuntamente com os outros-nós, nos garantimos mutuamente na nossa quotidiana convivência. Liberdade, portanto: pois esse nós é uma reunião (e, de algum modo, redução) de múltiplos nós-diferentes. Evidentemente, a tolerância deverá encontrar-se na razão directa da liberdade: numa sociedade sem liberdade, nada há a tolerar; por outro lado, a instauração de vastas liberdades numa sociedade intolerante conduz ao conflito permanente, quando não à anarquia. É certo que as teorizações de Montaigne e de Locke (na Letter concerning Toleration, não nos Two Treatises), relativas à liberdade (e tolerância) religiosa, não podem transpor-se, sem mais, para os problemas que levanta uma sociedade secular. Mas o princípio básico continua inalterado: a tolerância é co-natural à liberdade, na exacta medida em que esta implica um direito (de todos) de ser diferente (de todos). A tolerância é a acomodação das liberdades de todos e, por isso, tem de ser tanto mais ampla quanto mais latas elas forem. Ainda assim, sobra o problema da identificação da diferença que reclama tolerância, e isto num duplo sentido: por um lado, há que descartar as dissemelhanças que não chegam a ser diferenças e que, por isso, não reclamam tolerância; por outro lado, há que demarcar a diferença intolerável - e essa só pode ser aquela que a liberdade não cobre. A primeira questão é relativamente simples, mas, como há evidências que hoje convém repetir, enuncia-se assim: se a tolerância é a acomodação das liberdades diferentes, só a diferença que potencialmente contende com a minha liberdade tem que ser tolerada. Deste modo, não tem sentido falar de tolerância em relação aos homossexuais, protestantes, brancos, benfiquistas, pretos, budistas, heterossexuais, mulatos, transsexuais, católicos e comedores de pepino cru. Ser qualquer uma destas coisas não limita a liberdade de ninguém e, portanto, não requer tolerância: só o simples respeito cívico. A segunda é, apenas, todo o problema da constituição da cidade, do qual me escusarei, obviamente, de falar em abstracto. Porém, sejam quais forem os arranjos e os equilíbrios que aí se encontrarem, uma coisa é certa: a expansão da tolerância não é apenas função, mas também motor, do aumento das liberdades.
posted by PC on 4:30 da manhã
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CURIOSIDADES: MB, do E Depois do Adeus, está espantado por certas pessoas serem agora contra o direito à greve, especialmente dos funcionários públicos, e de serem a favor de medidas repressivas por parte do governo para que a autoridade do Estado não seja posta em causa. Eu não conheço MB (deve ser um rapaz novo) mas posso dizer-lhe que há trinta anos já eram assim. Bastava-lhes que o Estado, como agora, fosse governado por quem elas queriam.
posted by VLX on 1:02 da manhã
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FÉRIAS JUDICIAIS (last, but not the least...): há uma coisa nisto tudo que eu ainda não compreendo. Esta atitude politiqueira inventada pelo governo de reduzir as férias judiciais, em boa verdade, afecta pouco os magistrados. Aqueles que eram cumpridores, certamente continuarão a sê-lo (mais desagradados, provavelmente, ou mesmo ofendidos), e os que não o eram também continuarão na mesma (agora cobertos pelo manto justificador da ofensa). A medida vai prejudicar, principalmente, os advogados, para quem alguns prazos continuarão a correr por períodos enormes (sendo que muitos prazos, de processos cada vez mais utilizados, já nunca se interrompiam). A coisa é particularmente grave quando se pensa no clássico advogado, sozinho, como ainda há muitos pelo país fora, que utilizava aqueles quinze dias de Julho para arrumar as questões, o mês de Agosto para descansar e os primeiros quinze dias de Setembro para preparar os novos processos do ano (ou poderão os advogados fazer férias - e assim suspender os seus prazos - também a partir de 15 de Julho, com mais seis dias durante o ano?...).
Esse advogado solitário - base da profissão - vai deixar de ter férias (propriamente ditas) e, se o advogado não tem férias, a população que necessita de advogado é quem vai ficar mal. E a justiça deveria servir essa população.
No meio disto tudo, compreendo mal que o Bastonário dos Advogados vá à televisão dizer umas balelas sobre um tipo que se charrou no Dubai e esteja caladinho quanto a este problema.
posted by VLX on 12:36 da manhã
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FÉRIAS JUDICIAIS (again and again and again): É verdade: a maior parte dos magistrados, durante as férias judiciais de verão, trabalha bem mais do que os 9 dias supostamente conquistados pelo governo. Mas agora, ofendidos, muitos deles ameaçam (cfr. Público e JN de 19/6) cumprir rigorosamente esses dias mas absterem-se de trabalho fora do horário normal durante todo o ano. Ora, quem está ligado ao meio judicial sabe que se os magistrados deixarem de trabalhar fora do seu horário normal, se deixarem de trabalhar à noite, ao fim-de-semana ou em férias judiciais, o sistema entope de vez. Mesmo quem não está dentro do sistema, mesmo o simples telespectador que vê nas notícias os magistrados e os funcionários judiciais a trabalharem pela noite fora, sem receber horas extra, nos casos mediáticos, deve desconfiar que isso é verdade.
Daí que se conclua uma única coisa, que deve ser dita bem alto: este governo não quer resolver problema algum da justiça; quer enxotar a água do capote, acusar ignobilmente os magistrados (muitos deles dedicadíssimos), esconder o real problema, esconder as suas miseráveis condições de trabalho, fingir que faz alguma coisa, ganhar votos à custa da ignorância popular e pouco mais. Poderá ter votos, mas não resolverá coisa nenhuma. O chato é se estraga o bom que havia.
posted by VLX on 12:19 da manhã
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FÉRIAS JUDICIAIS (again and again): a acreditar no que se lê no Expresso, esta guerra que o governo socialista abriu tem já uma solução proposta: como é impossível (terá percebido entretanto o governo) que todos os magistrados gozem as férias a que têm direito entre 1 e 31 de Agosto (por alguma razão as coisas eram como eram...), os socialistas propõem-se reduzir as férias judiciais (leia-se, período de suspensão de determinados prazos judiciais) a esse mês de Agosto mas permitir que os magistrados façam férias (como certamente farão) a partir de 15 de Julho. Poderão ainda ser dispensados de serviço durante 6 dias por ano. O que, tudo somado, dá que - na aritmética muito própria do governo - todo este grande burburinho através do qual pretende reduzir as férias judiciais de verão dá, no limite, um ganho de 9 dias durante o ano. Para este ganho de 9 dias, e ainda segundo o Expresso, vai ser preciso criar uma burocracia monumental - bem ao gosto socialista -, com mapas de férias coordenados e aprovados pelos conselhos superiores de magistratura, etc., etc.. Enfim, um desperdício de tempo burocrata. E para esse ganho de 9 dias, o governo resolveu ofender gravemente todos os magistrados cumpridores (a grande maioria dos que conheço trabalhava bem mais do que 9 dias durante as férias judiciais de verão).
posted by VLX on 12:14 da manhã
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FÉRIAS JUDICIAIS (again): Um dos grupos que este governo assumiu como alvo foi o dos magistrados. Ao invés de justificar os falhanços das sucessivas reformas e alterações legislativas (na maioria das vezes feitas em cima do joelho, para paspalho ver, só servindo para complicar), ao invés de explicar a falta de meios materiais e humanos, ao invés de investir nos miseráveis tribunais de que dispomos, o governo preferiu ofensivamente acusar os magistrados de trabalharem pouco e confundir a população fazendo-lhe crer que férias judiciais são "férias dos juizes" e constituem a raiz de todos os males na justiça. Com a sua actuação, o governo socialista poderá conseguir o apoio popular dos que não conhecem o funcionamento da justiça e esconder dos mesmos os verdadeiros motivos das falhas que inundam este sector. Como bónus, poderá ainda atirar o odioso para os magistrados, muitos deles (talvez a maioria) servidores dedicados da causa pública que usam as noites e os fins-de-semana para tentar resolver os problemas das pessoas, não obstante as carências dos tribunais. Isto pode passar despercebido à maioria da população mas não a qualquer um que tenha de se relacionar com a máquina da justiça.
posted by VLX on 12:12 da manhã
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GREVES: Durante a última campanha eleitoral, pelo menos o PSD e o CDS tentaram alertar as pessoas para o inusitado facto do PS não se apresentar, em bom rigor, com propostas reais para coisa nenhuma, antes preferindo proferir montanhas de banalidades ocas sobre qualquer assunto. Daí que não possa causar surpresa que, uma vez no poder e com a maioria que a população - profundamente enganada - lhe concedeu, o PS faça o que lhe dá na real gana, contra tudo e contra todos, muitas vezes ofendendo profundamente aqueles que tentam fazer com que o sistema funcione. Em boa verdade, o que o PS anda a fazer é a fingir que governa, a fingir que tem e assume posições e atitudes, a fingir que toma medidas, com a arrogância que lhe é muito própria. As coisas têm-lhe saído bem porque se tem metido com classes que têm sentido de responsabilidade: dificilmente os professores deixariam os seus pupilos atrapalhados nos exames com uma greve de que eles não têm culpa nenhuma. Mas isto pode acabar.
DIGA 133: Ou seja, o número de alunos que não puderam fazer os exames devido à greve dos professores na região centro. Segundo o Ministério, isto é bom porque "demonstra o elevado sentido de responsabilidade dos professores", que pouco aderiram à greve convocada. Em que é que ficamos? Então uma classe não adere à greve e isso "demontra um elevado sentido de responsabilidade"? Entretanto ouço na rádio um dirigente sindical, que me fala de Coimbra, de um "grave clima de repressão", que terá impedido uma maior adesão dos professores à greve. O que terá acontecido? A GNR e a PJ, em vez de andarem à procura dos foragidos da Penitenciária de Coimbra, andaram a reprimir os professores, obviamente. Está visto que nunca mais os encontram. A eles, aos foragidos. É preciso inventar um novo dispositivo repressivo-educacional, no qual os estudantes estudem, os professores façam greve, os guardas vigiem e os presos fiquem quietos.
posted by FNV on 12:34 da tarde
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FAVORES EM CADEIA: Os presos fogem, é notícia em Coimbra. Não sei porquê. Na prisão de Coimbra ( verifiquem) são comuns as fugas, e para mais, o que é que se espera de um preso? Que fuja, é evidente. Aliás gosto desta ideia de cadeia-aberta-ao-mundo, claramente heideggeriana, que se regula numa espécie de osmose aleatória. Antes destes rapazes de Leste se evadirem, tinha fugido um quando foi pôr o lixo; agora, felizmente, a arma do guarda encravou-se e ele não pôde disparar. Ainda bem, porque teria disparado para o exterior, para a rua de Tomar, onde aquela hora passam estudantes a caminho da universidade. Reparem: se a coisa tem corrido mal, um estudante do 3º ano de Farmácia teria levado um balázio no rabo por causa da fuga de um esloveno.
BOM, MAU E ASSIM-ASSIM: Só a descobri agora, já tem seis meses (ou um pouco mais) a edição da 101noites com tradução de Sandra Silva, de um pequeno conjunto de documentos relativos ao haxixe parisiense de meados do século XIX, sob o título comercial de O Clube dos Fumadores de Haxixe. O célebre texto principal de Gautier que dá o nome à edição está bem acompanhado de uma deliciosa carta de Boissard e da receita de dawamesk do Dr Bouchardat. Tudo bom, portanto. Um pequeno senão, a introdução de Sandra Silva oblitera o papel de Antoine Rabelais, o pai do famoso Rabelais (o François), que foi o primeiro cultivador europeu de haxixe, na sua propriedade de Chinon, bem como não dá o justo relevo, embora o mencione de passagem, a Moreau de Tours ( já aqui o trouxe, em tempos, ao Mar Salgado) que iniciou aqulea malta toda na coisa; A Sandra Silva também exagera ( excesso de zelo?) um bocadinho na afirmação "na época o haxixe era geralmente ingerido em vez de fumado...". Não cara Sandra, o haxixe na época não era "consumido", no sentido que o leitor dará às suas palavras, nem de uma forma nem de outra, a não ser por uma deliciosa minoria de extravagantes: Gautier, Sacy, Nerval, Balzac, Baudelaire, Tours, etc. Nada de grave, apenas um assim-assim de pequenas imprecisões. O mau da história não envolve a edição nem a tradutora. O mau é a ausência permanente de edições acerca da História das Drogas em Portugal. Desde o desleixo vergonhoso a que estão votadas as edições de Garcia da Orta e Cristovão da Costa, passando pela ausência de tradução de clássicos como os de Butel, Rudgley, Musto ou Walley. Uma boa parte da nossa miséria de conhecimentos sobre as drogas assenta na olímpica indiferença perante textos essenciais. A má prática vem a seguir.
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