ECONOMIA: No seguimento de vários posts que davam conta desse risco, o espectro da deflação entrou definitivamente no debate de políticas económicas. Este risco é diferente de local para local (ver aqui), mas parece não haver grande forma de o contrariar através das tradicionais receitas de baixa da taxa de juro para estimular o investimento (ler artigo).
No meio desta incerteza, a cimeira do G8 reúne-se esta semana com a clara missão de passar por cima das diferenças políticas entre esses paises e de se concentrarem na economia. Ainda vamos continuar a passar por dificuldades por um bom bocado de tempo (antes do 2º semestre de 2004 não devem aparecer boas notícias - isto senão ocorrerem ataques terroristas ou outros fenómenos imprevisíves).
posted by NMP on 4:15 da tarde
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BELISQUEM-ME: Esfreguei os olhos. Atirei água para a cara. Será um sonho ou um pesadelo ? O EPC a elogiar uma iniciativa cultural de uma vereadora e de um Presidente da Câmara que não são de esquerda ? Confessamos os nossos mixed feelings. Já não sabíamos em quem confiar e agora... isto. O mundo era tão mais simples até há pouco. Sentimo-nos perdidos, sem referências cartográficas. Se isto pode acontecer a um marco geodésico da nossa vida cultural e política, o que acontecerá às nossas bússolas ?
posted by NMP on 3:30 da tarde
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EUROPA DO FUTEBOL: Um artigo que ilustra como o futebol pode funcionar como um catalisador de processos políticos, sem necessidade de promiscuidades. Será a Champions League um exemplo para a integração europeia ? A medir pela sonolenta final de quarta-feira, é preciso um pouco mais de ousadia - os jogadores da Juventus e do Milan pareciam um bando de eurocratas com medo de arriscar.
posted by NMP on 12:37 da tarde
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DEUS E CÉSAR (2): O companheiro de luta JV no Quinto dos Impérios assina uma bem sustentada e amável contradita ao nosso post sobre a introdução de referências religiosas no preâmbulo da Constituição Europeia. Comecemos por um mea culpa: os Estado são laicos, não necessariamente as sociedades (tem razão, sim senhor). Gostava também de deixar claro que não padeço nem um bocadinho de anticlericalismo.
A questão que levanto nem é quanto à presença no texto ou não da menção à matriz cristã da Europa (chego a afirmar que alguns argumentos a favor dela me parecem razoáveis). Isso é um pretexto para uma discussão mais vasta. O problema político substancial é se esta expressão corresponde ou não a uma tentativa política de inibir ou condicionar o alargamento da Europa a sociedades não cristãs. O que está aqui em causa fundamentalmente é o caso turco, se bem que a mesma discussão se poderá ter relativamente a alguns estados dos Balcãs.
A construção europeia tem sido um agente de estabilização e de democratização ímpar no continente europeu, como nós portugueses bem o sabemos. A adesão da Turquia seria, a esta luz, um enorme progresso para a paz na Europa e para o reforço do papel europeu no mundo islâmico. Claro que não pode ser feita a todo o custo: a Turquia tem de proceder às adaptações legislativas e do seu aparelho político e económico necessárias.
A posição que mencionei de Giscard d'Estaing é bem diferente desta. É, no fundo, um entendimento que defende que os países islâmicos não podem ter democracias liberais, nem têm de ser ajudados pela União Europeia na busca desse desiderato. Relembre-se que este argumento já chegou a ser usado contra o catolicismo: lembro-me (e não foi assim há tantos anos, nem eu sou assim tão velho) de ser quase voz corrente em Portugal que a democracia e a economia de mercado eram exclusivos dos países protestantes.
A União Europeia foi e é, na sua essência, um projecto de garantia da paz e de desenvolvimento económico e social e eu não vejo nenhuma razão para excluir deste processo a Turquia, um dos poucos estados islâmicos que consagrou a laicidade do Estado. A posição contrária envia este país para os braços do fundamentalismo islâmico, o que certamente não dará bom resultado. Turkey belongs to Europe era há uns meses a frase de capa do The Economist, uma revista conservadora de um país com referências à Fé e em Deus nos seus textos constitucionais (como bem nota JV). Esta tem de ser a posição de quem defende a disseminação do modelo de democracia liberal em que vivemos. Foi esta opção política que quis expressar, mais do que uma discussão em torno do clericalismo ou de religião. Espero agora ter sido mais claro.
P.S. - Expressões como "não pode ser outra a opção" ou "tem de ser a posição" são figuras de estilo, destinadas apenas a conceder força aos argumentos. Podem não ser muito elegantes mas daí a concluir que são pouco democráticas vai uma grande distância. Pergunto-me se o escrutínio tão detalhado da linguagem alheia não será uma involuntária e inconsciente adesão às teses mais extremas dos defensores de um uso politicamente correcto do Português.
DELÍRIO: Só agora pude ler o artigo do Prof. Rosas no Público de ontem. É um caso perdido. Não há uma linha que não destile um facciosimo pestilento e um primarismo argumentativo delirante. A propósito de um processo de um crime pessoal, como é o abuso sexual de menores, que nada tem a ver com o exercício de cargos políticos, lança-se numa espiral de recriminações gratuitas.
A pretexto das escutas (cujo regime actual, relembre-se, foi proposto por António Costa) mistura e adultera o que for preciso: a culpa do que se passou em Felgueiras não é de nenhum socialista, mas "da demagogia populista da direita e da extrema-direita". E depois vai por aí fora: o caso Moderna, o deputado Cruz Silva, as declarações do procurador Souto Moura, a actividade da PJ e até as intervenções do Presidente da República são todos resultado do "caceteirismo fascizante" ou de conivências com manobras sinistras da direita. Ele há coisas que roçam a paranóia...
posted by NMP on 7:12 da tarde
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DEUS E CÉSAR: Um dos assuntos quentes do debate sobre a Constituição europeia é a questão religiosa. Giscard d'Estaing é um lídimo representante da direita católica francesa (por contraposição à gaullista, mais nacionalista mas também mais laica). Encontra-se actualmente debaixo de bastante pressão: o Vaticano, os cristãos-democratas alemães e europeus e até a sua base de apoio francesa sustentam que a matriz cristã da Europa deverá ser incluída no texto. Optou-se, para já, por menções menos polémicas às civilizações gregas e romanas como base cultural da Europa.
Reconhecemos a matriz cristã da Europa, onde aliás nos revemos, mas temos como princípio que "a Deus o que é de Deus e a César o que é de César". A panóplia de credos e religiões do espaço europeu aconselham alguma prudência nesta matéria. Esta variedade só tende a aumentar, com alargamentos e imigração crescente que se vai verificar por mais que a União Europeia controle as suas fronteiras. Somos da opinião que se deve afirmar o projecto europeu como laico, com uma total separação entre religião e estado. E mais, pensamos que esta deve ser a posição de todos os que têm um pensamento liberal.
É que o problema não é a mera menção no preâmbulo do texto (pode até argumentar-se com razoabilidade que ela é justificável), mas sim ao que é que essa menção corresponde. A medir pelas infelizes declarações de Giscard d'Estaing a propósito da possível adesão da Turquia, a construção europeia é interpretada por alguns como um exclusivo da cristandade. Ora bem, se há coisas de que nos orgulhamos e constantemente invocamos, nomeadamente quando analisamos e criticamos o mundo árabe, é da laicidade das nossas sociedades. Não pode ser outra a opção de quem defende e promove sociedades liberais e os ideais democráticos.
posted by NMP on 5:39 da tarde
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SEGUIR ATENTAMENTE: Já aqui foram recomendadas as revistas Blue. Agora o respectivo link (com a devida vénia ao Fumaças).
posted by NMP on 3:36 da tarde
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EUROPA: Entretidos com escândalos e noticiário judicial, temos passado ao lado de questões essenciais para a nossa vida colectiva. Uma oportuna chamada de atenção num artigo de JPP no Público sobre a Constituição Europeia. Um ataque de Prodi ao texto proposto por achar que ele fica aquém do desejável. Um link para o material que está em discussão. Um aviso aos mais indolentes - este último material leva uns dias a ser lido e apreendido, o que só por si é um sinal do grau de hermetismo e complicação desta discussão. Pode ser um erro de intuição, mas isso não é nada bom sinal. Voltaremos ao tema.
SER OU NÃO SER: Já aqui dissemos que achamos que é muito cedo para falar de presidenciais. O Prof. Carlos Amaral Dias (que nos merece o maior respeito), no entanto, está ansioso por manifestar apoio ao Dr. Santana Lopes (o que também é merecedor do nosso maior respeito). Vai daí, ao seu melhor estilo, escreveu um artigo quase ilegível no DN para sustentar a sua opção. O que vale é que segundo o psicanalista inglês W. Bion por ele citado, «Aquilo que você é, fala mais alto do que o que você diz». Se assim não fosse, íamos achar que ele era chato, prolixo e precipitado. Não é.
posted by NMP on 5:22 da tarde
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POEMA: Porque o encobrimento do que se passava na Casa Pia assume contornos de crime colectivo, este poema de Miguel Torga pareceu-me bem adequado ao espírito do tempo:
Deponho no processo do meu crime.
Sou testemunha
E réu
E vítima
E juiz
Juro
Que havia um muro,
E na face do muro uma palavra a giz.
MERDA! – lembro-me bem.
– Crianças......
– disse alguém que ia a passar.
Mas voltei novamente a soletrar
O vocábulo indecente,
E de repente
Como quem adivinha,
Numa tristeza já de penitente
Vi que a letra era minha.....
Miguel Torga, Depoimento
posted by NMP on 4:05 da tarde
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ESPECTADOR OU FANTOCHE ?: O relativo FN ficou tão atarantado como eu com o filme Mulholland Drive. Uma palavra de apoio: o problema não é só nosso - consultei inúmeras pessoas e não conseguimos chegar a uma interpretação consensual. Ver o filme foi para mim uma das experiências mais fortes que tive nos últimos anos com o cinema: primeiro fiquei preso à história e acabei surpreso (para não dizer estupefacto), cheguei a ficar irritado quando apenas estava baralhado (aliás completamente confuso). Andei dias a matutar no assunto. Procurei no DVD e nada. Naveguei incessantemente pela net à procura de um guia de interpretação. Isto foi o melhor que consegui arranjar.
Não conheço outro filme que me tenha deixado tão curioso. Provavelmente fomos apenas manipulados pelo talento de David Lynch. Mas não me importo nada de ser um fantoche nas mãos de um contador de histórias tão brilhante.
posted by NMP on 12:23 da tarde
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LER DEVAGAR: A transcrição de uma cena de Júlio César de Shakespeare publicada na Montanha Mágica. É uma ilustração ímpar da volatilidade das massas (ou numa linguagem mais moderna, das opiniões públicas) bem oportuna nestes tempos conturbados que atravessamos.
ONE FROM THE HEART: Nestes feios tempos que correm, nada melhor do que desintoxicar com uma verdadeira obra prima de F.F. Coppola. Bela história de amor numa enebriante Las Vegas, a Kinsky no pico da forma e uma banda sonora eterna (T. Waits). A brincadeira arruinou os Zoetrope Studios. Hoje, na RTP 2.
posted by Neptuno on 5:46 da tarde
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NÓS: O Mar Salgado é um blog generalista mantido por uma tripulação escassa de velhos lobos do mar (os ratos abandonaram o barco e está difícil contratar marujos) composta pelo comandante NMP (ver biografia aqui), sob a égide divina de Neptuno, que de tempos a tempos desce do Olimpo para nos guiar. Mensagens para lobosdomar@hotmail.com.
posted by NMP on 5:00 da tarde
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SAUDAÇÕES ATRASADAS: Temos seguido atentamente a participação do Prof. José Adelino Maltez na blogosfera. Com as chegadas de JPP (que como já tinha pouco para fazer atacou logo com dois blogs, Abrupto e Estudos sobre o Comunismo, um grande bem haja para ele), de Nelson de Matos, de Miguel Vale de Almeida e do Prof. Paulo Ferreira da Cunha, a blogosfera está-se a tornar o melhor espaço de discussão que há em Portugal. Dos que vale a pena ler, faltam poucos. Mais uns quantos e não nos resta alternativa senão pendurar as botas e assistir - ficaremos condenados a comentar miúdas, programas da TVI, música pop e revistas sociais.
Abraços calorosos para o No Quinto dos Impérios, grande reforço da UBL e saudações de boas vindas para a Linha dos Nodos e o Intelligo.
posted by NMP on 4:50 da tarde
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PARADOXOS E IRONIAS DA VIDA: Em Portugal tem sido a direita (supostamente mais autoritária e securitária) a pugnar por um regime processual penal mais garantístico e com maior ênfase nas liberdades e garantias do cidadão perante o aparelho judicial. Isto é explicável pela forma lamentável como foram conduzidos os processos judiciais do final do cavaquismo, numa aliança objectiva entre a magistratura e a imprensa, atentatória dos mais básicos direitos dos arguidos e cidadãos.
A esquerda - que gosta de se proclamar campeã das liberdades, direitos e garantias - sempre apoiou e promoveu o actual sistema. Os socialistas nunca lhe quiseram mexer, tendo até acrescentado legislação preocupante sobre as escutas (da autoria de António Costa). Agora quando lhes tocou à porta e experimentam as perversidades do sistema, gritam aqui d'el rei. Estão apenas a provar do próprio veneno, instilado pelo monstro que criaram (as expressões são de dirigentes socialistas).
posted by NMP on 3:52 da tarde
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REPÚBLICA DOS JUÍZES: Muita gente tem manifestado nos últimos dias o medo da implantação em Portugal de uma espécie de república dos juízes. Não partilhamos esse temor, até porque não nos parece que haja condições para tal. Mas não nos parece que estejamos condenados a escolher apenas entre duas alternativas: a República das bananas ou dos juízes.
posted by NMP on 3:43 da tarde
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EXPORTAÇÕES: Na esteira dos têxteis, pasta de papel e demais produtos de baixo valor acrescentado que normalmente exportamos, a medir por esta notícia, Portugal prepara-se para enviar para a Europa o ex-primeiro-ministro Guterres. Ficamos contentes - mais um português num cargo de relevo e menos um putativo candidato a Presidente da República. Mas já agora, alguém os devia avisar da sua peculiar doutrina política. Demite-se no dia em que houver uma eleição na Alsácia, na Toscana ou no Peloponeso com um resultado que não corresponda aos seus desejos.
MUSAS: A propósito das discussões de musas da blogosfera, os velhos lobos do mar manifestam a sua admiração incondicional pelas inúmeras e apaixonantes qualidades do eterno feminino, normalmente em número bastante superior às do género masculino. No entanto, como a ansiedade é má conselheira nestes assuntos, alertamos os nossos amigos da Coluna Infame para os doutos ensinamentos do nosso alter-ego, Corto Maltese: Les femmes seraient merveilleuses si nous pouvions tomber dans leurs bras sans rester dans leurs mains. Não se precipitem, rapazes. (ver a propósito da exaltante polémica mulheres letradas/beleza uma inspirada carta de Maria Bochicchio nesse blog)
posted by NMP on 5:24 da tarde
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ESTÉTICA E POLÍTICA (4): Viver num tempo mais livre permitiu que surgissem mais oportunidades de expressão artística e cultural que não são necessariamente manifestos políticos. A profusão de géneros de música, de literatura, pintura e, sobretudo, o mais fácil acesso implicou, na minha opinião, uma separação entre estas duas opções. Procurar música de «direita» e música de «esquerda» é um exercício complexo (a Coluna Infame já o tentou, comprovando esta dificuldade), como tentar encontrar motivações políticas em todas as manifestações do génio humano hoje é espúrio. Achar que recomendar a audição de A ou a leitura de B é uma atitude política é não perceber esta realidade de hoje.
Isto é o resultado da sedimentação acumulada da nossa experiência colectiva, do voluntarismo dos anos sessenta e seu posterior desencanto, dos excessos da Revolução e do usofruto quotidiano da Liberdade em toda a sua plenitude. Como sintoma de uma sociedade mais livre e mais liberal, é bom sinal. Façam o favor de ser livres e de não viverem obcecados com a Política.
posted by NMP on 4:41 da tarde
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ESTÉTICA E POLÍTICA (3): Ouvir os Joy Division (nome sugestivo) e o seu desencanto suicida, seguir os U2 e a sua postura contestatária mais pragmática (contra repressões específicas ou temas parcelares como o ambiente), curtir os Talking Heads ou os Smiths ou idolatrar os Nirvana e o seu niilismo heroínomano são as marcas de quem foi adolescente entre 80 e inícios de 90. As crónicas do MEC, os poemas do Pedro Ayres de Magalhães com as suas declarações de amor a Portugal, sem medo de serem consideradas nacionalistas, ou o surrealismo de um Reininho foram em Portugal as rupturas estéticas com a herança dos anos sessenta. Ser muito mais anglófilo e menos afrancesado é uma marca indelével das diferenças entre a minha geração e a dos anos sessenta. Refira-se que falo mais de música do que de literatura porque, pela sua massificação, o poder da música como referencial estético é hoje muito superior ao dos livros, mas isso já é outra conversa.
Ser vanguardista (gostar dos Telectu ou dos Pop Dell'Arte ou de espectáculos de performance ou de música tecno-industrial alemã - consagrada através do techno dos Kraftwerk) passou a ser uma atitude estética, mas sem grandes consequências políticas posteriores.
Todos os movimentos contestatários da minha geração (PGA ou propinas) tinham como motivação mais funda a mobilização de sentimentos corporativos, de defesa de interesses próprios. Esta diferença é clara e motivou uma barreira intelectual na interpretação do que se passava - alguns cavaleiros andantes do Maio de 68 projectaram o seu quadro mental (que entende que os jovens têm sempre vontade de mudar o Mundo como eles tiveram, felizmente com insucesso), apelidando-os apressadamente de geração rasca.
posted by NMP on 4:09 da tarde
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ESTÉTICA E POLÍTICA (2): A glorificação dos anos sessenta (que para efeitos desta discussão se pode dizer se estenderam, em Portugal, pelo menos até ao Verão Quente de 1975) feita pelas classes dominantes (terminologia bem ao espírito do tempo) sempre despertou em mim a maior desconfiança, tendo chegado a criar, ainda que apenas temporariamente, uma certa repulsa estética pelos vestidos às flores, calças à boca de sino e generosas jubas que eram emblemas dessa época. O mesmo posso dizer relativamente aos colectivismos e voluntarismos políticos típicos dessa geração. Penso que a minha opinião reflecte de certa forma o que grande parte das pessoas da minha idade pensam.
Graças à liberdade pós 25 de Abril (provavelmente devedora da geração dos anos 60) a minha geração teve sempre uma atitude mais pragmática, mais cínica ou desconfiada e mais despreocupada ou livre. Para quê manifestarmo-nos pela liberdade sexual se só serviria para perder tempo que poderia ser utilizado, por exemplo, a dormir com a namorada do liceu ? Porquê glorificar ou recomendar o uso de drogas, como sinal de uma via alternativa de vida, se os charros eram de acesso tão livre como os rebuçados e o maior problema era evitar cair nas malhas do vício ? Porquê fazer da música ou da poesia um instrumento político se em casa se ouvia falar das desilusões dos aventureirismos políticos ?
posted by NMP on 3:37 da tarde
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ESTÉTICA E POLÍTICA (1): A propósito de uma sua tradução de um Haikai, JPP avança a ideia de que, para a sua geração, as opções estéticas precederam a radicalização política. Este testemunho fez-me pensar se para a minha geração (nasci em 1970, no dia em que o Jimmy Hendrix morreu) estabelecer uma ligação tão clara entre estética e política fará sentido. Cresci, como quase todas as pessoas do meu tempo, habituado a assistir à glorificação estética e política dessa década. A ruptura geracional que o 25 de Abril também trouxe, fez com que muita gente que era jovem nos anos sessenta ascendesse a lugares e cargos de influência política, económica, cultural e social. Como resultado, as pessoas da minha idade tornaram-se consumidores precoces e forçados de horas infindáveis de discos dos Beatles, do Jacques Brel, de música de intervenção em geral, de poesias anti-guerra colonial ou Vietname, de horas de documentários sobre o flower power, dos livros do Jack Kerouac, e de glorificações de seres esotéricos e profundamente desinteressantes como o Tim Leary. Os anos sessenta foram-nos impostos como anos irrepetíveis e extraordinários. Hoje, com uma visão mais clara sobre esse tempo, penso apenas que éramos vítimas forçadas de doses maciças de ataques nostálgicos de meia idade.
OMELETE MAN: "Go que a terra requebra, You are my resurrection, Éter now, Baribiraba deep deep, Shakundun shakundun, Baribirah, Sábado Sábado Sábado Sábado Sábado Sábado". Liberar total! Carlinhos Brown está de volta, agora na pele de Carlito Marrón. Oba! Esta Terça na Aula Magna.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.