Os jornais que se interessam pelo tema ( políticas de drogas) não se interessam nada pela minha leitura do dito. Preferem outros pontos de vista - sob a forma de redacções ou de panfletos evangelizadores. Não faz mal. Há quem se interesse.
Soltas: Estamos quase em Novembro e ainda vejo humanos de chinelas na rua. A chuva e o frio são, bem ia Hegel, decididamente civilizadores. Ouvi dizer que o Jim Hacker vai concorrer ao PSD. Óptimo, óptimo. Ao vivo tem mais graça. Castanhas assadas com 29,5º de temperatura? Um Outubro de combinações improváveis e de mau gosto. Já tinha notado.
posted by FNV on 10:58 da manhã
#
(0) comments
OU HAVAIANAS:
Uma companhia aérea japonesa está a pedir aos passageiros para fazerem xixi antes de embarcarem. Alegadamente para reduzir o peso do avião na descolagem e reduzir as emissões de CO2 (tudo preocupações ambientais, nada que tenha a ver com poupança de combustível). Qualquer dia será cocó, muito mais vantajoso do ponto de vista dos quilos e do ambiente: as pessoas só embarcarão depois de terem demonstrado ter defecado nas últimas duas horas, pelo menos. O passo seguinte será viajarem de alpercatas.
1) O cancelamento do telejornal de Moura Guedes prejudicou o PS, porque favoreceu a ideia ( e a matéria ) da asfixia democrática. É favor indemnizar o senhor Primeiro-Ministro pelo inconveniente de as coisas parecerem o que são.
2)A ocultação da identidade de quem forneceu ao DN as mensagens trocadas entre jornalistas da concorrência prejudicou o senhor João Marcelino, porque, dada a ausência de publicidade a tão heróico feito, no futuro a referida identidade pode perder motivação.
...explicar Passos Coelho sobre a precocidade do anúncio da sua candidatura. Não aguentou retardar mais, considera urgente passar à fase de arrumar a casa. Desculpas, desculpas...
posted by VLX on 6:42 da tarde
#
(1) comments
OUTOMO (VIII):
As horas que antecedem o veredicto irreversível. Como se houvesse duas vidas separadas por um minuto. Os minutos que antecedem o veredicto irreversível. Como se houvesse duas vidas separadas por uma palavra. Não. Só há estátuas de bronze dedicadas aos rapazes do coro de Messénia. E ao mestre que morreu com eles.
posted by FNV on 12:32 da tarde
#
(0) comments
PODER SOBRE A JUSTIÇA:
Leio no Diário Económico que o Partido Socialista defende que "se o Estado considerar que a decisão do juiz não foi tomada em tempo útil e que, por isso, não foi prestado um bom serviço ao utente da Justiça, o montante pago em custas judiciais pode ser reduzido ou até eliminado". Que, se o sistema global da justiça falhar ou se atrasar, os utentes não paguem as custas, até me parece bem. O que considero assombroso é que o Partido Socialista ponha a tónica sempre do lado do magistrado judicial, que, na sua opinião, aparece sempre como o culpado de todos os males da Justiça. Por outra via, acho graça à expressão "se o Estado considerar que a decisão do juiz não foi tomada em tempo útil...". Quem, do Estado, irá "considerar" semelhante coisa? O Ministro da Justiça? O Primeiro-Ministro? Algum primo, possivelmente o tio? Ou então um independente nomeado para o efeito? Talvez o candidato derrotado em Almada, com ajuda do irmão, por avença? A ERC? O que isto me parece é mais uma tentativa (a adicionar às imensas que nos últimos anos o PS tem feito) de condicionar os magistrados judiciais. Porque não propõem de vez o fim da separação dos poderes, tão incómoda, e colocam o poder judicial debaixo da alçada do Primeiro-Ministro?
posted by VLX on 12:03 da tarde
#
(1) comments
PROFISSIONALISMO:
Ler o jornal de campanha de Pedro Passos Coelho: bons textos, embora demasiado encomiásticos, secções bem arrumadas; nem falta uma secção lateral ( na edição em papel percebe-se melhor) , do género who is who, onde podemos ver a lista dos rolhas. Fluctuat nec mergitur. Quando começarem a vasculhar maliciosamente o passado dos vários candidatos, Passos Coelho terá uma enorme vantagem sobre os outros: não encontrarão rigorosamente nada.
posted by FNV on 10:41 da manhã
#
(0) comments
O PORTUGAL MODERNO E COSMOPOLITA:
As televisões estão em orgasmo procariótico continuado porque uma brasileira fez um programa e disse umas coisas desagradáveis sobre a gente.
posted by FNV on 12:52 da manhã
#
(16) comments
COCTEAU, SEMPRE:
Il a oublié l'usage des mots. La vie brûlant et somnolente... Plante immobile, et plantes qui bougent: les animaux.
Se Obama conseguisse o que Vital Moreira diz, sobretudo a última coisa, até eu sonharia.
posted by FNV on 11:01 da tarde
#
(1) comments
MFL, OS INTERESSES DO PARTIDO E O INTERESSE DO PAÍS:
Calculo que do ponto de vista dos interesses do PSD a substituição expedita de MFL seja essencial. Para as falanges, grupelhos, autómatos do telemóvel e viciados da carne assada, é vital reunir, negociar, desdizer, engolir sapos, fazer e desfazer alianças. São movidos por uma gasolina aditivada e muito especial: o seu manoir e o bem-estar dos seus prebostes. Acontece que os tempos que aí vêm vão ser mais difíceis do que os tempos que já passaram. O Estado está exangue, a paciência está no limite, a guerra aproxima-se. O discurso de MFL, assente na contenção, na sobriedade e no realismo, vai fazer muita falta. Bem sei que a propaganda faz o seu caminho (ainda há bocado ouvi o dr. Menezes na SIC-N dizer que MFL quis acabar com o RSI), mas a realidade é que conta. A mentira é apenas um preservativo com sabor a mentira.
O Nuno Mota Pinto que afixe na coluna ao lado, sff.
posted by FNV on 2:04 da manhã
#
(0) comments
PRÓS & CONTRAS/ESCUTAS:
1) O mesmo João Marcelino que dirigiu o Correio da Manhã *, na altura quente do processo Casa Pia, é afinal um modelo de deontologia. Compreendo agora que os trabalham sob as ordens de tal figura se sintam no direito de nos dar lições de ética.
2) Como é que o Público tem sido dirigido por alguém da qualidade de José Manuel Fernandes? É aquilo a excelência Sonae?
3) Já sabíamos que o Bloco tem muita influência nos média, isso não foi novidade. É um partido que pode ser varrido eleitoralmente sem que um jornalista/comentador interrogue, sequer timidamente, o futuro da liderança, uma eventual crise, etc.
4) Henrique Monteiro ( e parece que os colegas também) diz que o Semanário é um mistério que vende 2000 exemplares. Muito engraçado: investiguem.
*experiência muito mais sumarenta do que a que é referida aqui.
O electricista para mim: "Ó dr., o seu* PSD está completamente balconizado!". Como se eu não percebecesse, explica-me ele, entre o enfadado e o professoral: " Não os tem ouvido? Está tudo ao balcão a ver o que é que dá!".
Proíbam. E proíbam os cães em casa e os gatos e os periquitos nas gaiolas e ofereçam recompensa a quem denunciar que o vizinho tem formigas numa caixa de fósforos. E patrulhem as ruas. Procurem indícios de tabaco, de palavrões sexistas, de galinhas a pôr ovos até que o cu lhes doa, de matança do porco. E não esqueçam: quem deu ao homem o direito de montar o cavalo?
posted by FNV on 7:06 da tarde
#
(8) comments
COISA DE SOMENOS:
posted by FNV on 4:32 da tarde
#
(0) comments
POLÍTICAS DE DROGA, POLÍTICAS DE CIDADE(III):
Regressemos à evolução dos perfis de consumo. Para pais, educadores, polícias, políticos locais e outros agentes no terreno, a questão é decisiva. O que é que vai chegar ao meu bairro e qual vai ser a moda na minha cidade? O quadro geral registado pelo UNODC é burocrático, impreciso e tendencioso. Por exemplo, a produção mundial de ATS ( anfetaminas-tipo) subiu de 70 toneladas em 1990 para um valor médio de 465 para os anos 2005/6, estabilizando no ano seguinte. O UNODC diz que este valor tem "estabilizado" para logo a seguir reconhecer que as técnicas de produção e tráfico tem sofrido alterações que tornam muito difícil assegurar essa conclusão. Recuemos e estudemos. Os EUA viveram a partir de 1985 aquilo que ficou conhecido como a epidemia do crack. Toda a gente foi apanhada de surpresa por essa nova forma de consumir cocaína, só que não era propriamente nova. Em 1974, na Califórnia, o freebase fez a sua entrada. Aquecia-se hidroclorido de cocaína em água com amoníaco e obtinha-se uma forma pura de cocaína cristalizada que podia ser fumada em cachimbo. Já nessa altura grande parte do freebase era feito da mesma forma que mais tarde popularizou o temido crack: usando bicarbonato de sódio. O nome crack vem, como se sabe, do ruído que os cristais fazem ao serem fumados no cachimbo. Esse ruído não foi suficiente para alertar os decisores políticos. Reagan e a sua mulher, Nancy, tinham declarado uma guerra sem quartel à tolerância , tímida , dos anos Carter. Um pai , membro da NFP, tinha descoberto, horrorizado, que a High Times e a Rua Sésamo se vendiam na mesma loja. O tom era a dureza e o slogan "war on drugs"; os financiamentos para estudo, prevenção e tratamento foram brutalmente diminuídos, o Sentencing Reform Act implantado ( na prática, prender simples consumidores) em 1984. Este episódio da História das drogas é exemplar. Enquanto Reagan cancelava programas de estudo e de investigação, porque o slogan guerreiro não admite essas coisas, o freebase deslizava sorrateiramente para o crack , iniciando milhares de jovens americanos na cocaína barata e acessível. Também é exemplar porque demonstra que a alteração dos perfis de consumo depende menos das políticas internas do que da organização geopolítica do mercado do narcotráfico. Neste caso do crack, e como já aqui referi abundantemente noutras séries, o problema passou pela mudança dos donos do negócio: os mexicanos, por essa altura , tinham decidido deixar de ser os meros correios (mal pagos) dos colombianos. Seja como for, a atenção à geopolítica das drogas ( essencial) não deve suspender a reflexão e o estudo do que se passa na rua.
Bibliografia: Musto, Rudgley, UNODC, etc.
posted by FNV on 10:44 da manhã
#
(0) comments
TVI24-BLOGGERS:
Na TSF. Pedro Marques Lopes diz que não é uma vitória clara do PSD, porque tem menos mandatos e menos votos do que nas anteriores autárquicas. Verdade. Acontece que, há três semanas, nas legislativas e em circunstâncias idênticas - o PS teve menos deputados e menos votos - o mesmo comentador assinalou uma claríssima vitória do PS. O ódio não é necessariamente mau. Tem é de ser usado com parcimónia. Como o sal.
Onde está o Bloco? TV's e rádios, népias. Na cabeça da maior parte dos jornalistas está de certeza: fosse com outro partido qualquer e já teria sido declarada uma derrota estrondosa. Lá tive de ir ao sítio do costume para saber novas.
posted by FNV on 10:46 da tarde
#
(1) comments
POLÍTICAS DE DROGA, POLÍTICAS DE CIDADE (II):
O sucesso do slogan mais conhecido - guerra à droga - só é compreensível à luz de uma mistificação: a droga como "flagelo", súbito e importado. Isto é um dado clássico da História das Drogas. Que os chicbas pré-colombianos, os Orang-Ulu do Bornéu, os incas, os iroqueses e muitas outras culturas pré-coloniais já usassem substâncias psicoactivas, ou que, por exemplo, o ópio já fosse um problema de saúde pública na Inglaterra vitoriana, pareceu nunca interessar à propaganda oficial. É verdade que os esforço repressivo dos control advocates ( como já referi aqui nas várias séries) , cujo zénite registámos no Opium Protocol de 1953 e na Single Convention de Nova Iorque de 1961, não foi capaz de prever, nos EUA, o rock, o Vietname e a vontade de cabriolar de gerações inteiras de rebeldes sem causa ( um eufemismo para meninos aborrecidos). Também não foi capaz de prever que os imensos subúrbios de negros, de latinos, de jovens operários e de desempregados encontrariam nas drogas um conforto justo. Seja como for, o fogo encontrou a palha. Muita coisa mudou desde então, e agora é necessário ser capaz de prever. O WDR de 2008 estabelece uma linha: em 2007, 4,9% da população mundial ( 15-64anos) usou drogas pelo menos uma vez, mas só 0,6% esteve dependente . Dito de outro modo: 208 milhões de utilizadores casuais e 26 milhões de drogados. Sendo que os número são estáveis relativamente aos anos anteriores, isto significa duas coisas:
a) Uma enorme margem de progressão para o narco-tráfico. b) Uma enorme margem de progressão para o trabalho de dissuasão.
O problema é a definição dos perfis de consumo. Sempre foi. No único estudo* feito em Portugal sobre a evolução das políticas de droga (que resultou de uma tese que tive o prazer de co-orientar ) assinala-se o esforço feito pelo então ministro Almeida Santos. Workhops, seminários, projectos, tudo valeu em 1978 porque coisa começava a apertar. Muita consciência, muita preocupação e, pese a boa vontade, muita cegueira: o slogan continuava a funcionar e a iludir qualquer possibilidade de uma estratégia racional. O resultado foi , como se sabe, catastrófico.
* Lúcia Dias, As drogas em Portugal/ O fenómeno e os factos jurídicos-políticos; de 1970 a 2004, Pé de Página, 2007.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.