HABLA COMIGO: Um verdadeiro prazer ouvir Pinto da Costa ( PDC) vociferar contra o Benfica numa reunião de acólitos em Resende ( no salão nobre da Câmara Municipal). Mas porque é que eu tenho a impressão que desta vez, nem os dotes oratórios de feira de PDC farão esquecer a compra de uma camioneta de brasileiros, ou os quatro-4-quatro meses de jejum de vitórias no Estádio do Dragão? Desde que tiraram aquela bola de dentro da baliza, nada ficou na mesma.
posted by FNV on 8:53 da tarde
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TRABALHA MALANDRO: Misturando a tradução de Miguel Serras Pereira (sobre a versão francesa de Marie-Claire Amouretti e François Ruzé) com a de Maria de Fátima de Sousa e Silva ( directamente do grego), resolvo (ó heresia!) apresentar a minha versão:
"Que prazer incomparável ver os deuses enviar a chuva depois das sementeiras, e poder perguntar a um vizinho: "Diz-me Comárquides, o que havemos de fazer agora?" E ele responder: "Beber uma boa golada, já que o céu trabalha para nós".
Aristófanes, A Paz, 1140-1145.
posted by FNV on 11:25 da manhã
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A HORA DOS CÃES: É esta. De sexta para sábado, no calor de Março. A japonesa pequenina ri-se porque ouve ( o ouvido é o orgão sexual da mulher) o que não esperava, e se for inteligente ( não é Sofia?), cala-se. Ao fundo da ravina, encostado ao baobá gigante, um urso romeno lava vidros. Amanhã há carne para o almoço e festas na barriga para quem puder. Quem não for, que corte a água ao meio, que o tempo está de poupança.
A NATUREZA JÁ NÃO É O QUE ERA (À ATENÇÃO DO MANO 1313): A investigação sobre a necrofilia homossexual entre os patos garantiu a Kees Moeliker o prémio Ig-Nobel da Biologia. Estas descobertas são muito úteis. Sobretudo quando, numa discussão sobre modelos culturais e civilizacionais, surge aquele argumento, já de si extraordinário, que qualifica certa ideia como contrária à natureza.
CEIA DOS BLÓSCARES: O Miguel já lançou os Blóscares 2005 e encarregou-me de escolher a ceia que será degustada na noite de 1 de Abril, após a atribuição dos prémios, enquanto assistimos, calmamente, ao fim da blogosfera. Topei logo que o pedido trazia, por assim dizer, água no bico: aposto que o Miguel estava convencido de que o Mar Salgado forneceria, de borla, uns santiaguinhos (bruxas, ou lagostins-da-pedra, por aquelas bandas), seguidos de uma sopa clara de robalo e, a coroar o prândio, um imperador assado no forno, escoltado pelas inevitáveis batatinhas. Mas pareceu-me que a ceia deveria, de algum modo, prestar homenagem ao nosso anfitrião - só que, como imaginam, não é fácil combinar peixe e crustáceos com a passarada. Enfim, com a preciosa ajuda de Lucas Rigaud, lá descobri o que queria:
"O Galeirão he hum passaro, que quasi sempre vive no mar, ou nas lagoas, onde mergulha até ao fundo, para procurar peixes miudos, mariscos, e outros insectos, de que se nutre; e como participa da natureza de peixe, e o seu uso he permittido na quaresma, direi nos Artigos seguintes os melhores modos de se prepararem.
Galeirões cozidos ao Corbuyon.
Depenados, e chamuscados os galeirões, tirão-se-lhes as tripas, põe-se-lhes os pés por detraz das coxas, entezão-se em huma fornalha, limpão-se, e escanhoão-se, atão-se com barbante, lardeão-se com bocados de anguias, e enxovas, põe-se a cozer em hum adobo com agoa, vinho branco, sal, pimenta, o miolo de duas nozes, huma capella de hervas finas, cebolas cravejadas, hum bocado de manteiga, e deixem-se ferver pouco e pouco; estando cozidos, tirem-se fóra do adobo, e sirvão-se com môlho de manteiga, salsa, e enxova picada, vinagre, e as suas alcaparras".
In: Cozinheiro Moderno, ou Nova Arte de Cozinha, onde se ensina pelo methodo mais facil, etc., dado à luz por LUCAS RIGAUD, Hum dos Chefes de Cozinha de Suas Magestades Fidelissimas,&c., Quinta Edição correcta, e emendada. Lisboa: na Typografia Lacerdina. Anno 1826. Com licença da Meza do Desembargo do Paço.
posted by PC on 2:16 da manhã
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A SAGRADA FAMÍLIA III: A criança estava no caixão, mas ele e ela não se entendiam: é minha, não, é tua, não sei. À sua volta, os coveiros e os tipos da funerária avisavam da necessidade de horas extraordinárias. O céu, lampeiro, esperava também pelo petiz, mas eles continuavam a discutir violentamente. Alguém disse então que foi boa coisa o infante ter morrido.
A "NOVA" DIREITA: 1) O FORMIGUEIRO: O fracasso da direita institucionalizada nas últimas eleições deu novo élan à chamada direita ideológica. A situação não é completamente original: a continuada incapacidade do CDS moderado, desde 1985, de superar a barreira dos 10% dos votos, abriu as portas do partido à direita ideológica, que se apropriou de uma estrutura e de uma marca para iniciar, de dentro para fora, um novo projecto; primeiro, sob a inspiração, depois, sob a batuta executiva, de Paulo Portas. A novidade da situação está no aparente fiasco da estratégia: Portas - que era, seguramente, o melhor líder partidário a que a direita ideológica podia aspirar - nunca conseguiu resultados superiores aos de Manuel Monteiro em 1995. Perdeu, nas últimas eleições, dois deputados, por razões que continuam a ser-me misteriosas - mas já tinha perdido, em 2002 e em plena derrocada do PS, um deputado. De maneira que a direita ideológica que apostava na força renovadora de Portas percebeu que não será o CDS-PP a dar-lhe expressão, pelo menos nos próximos anos. Nem, evidentemente, a fantasia aguirreana do PND. La vie est ailleurs. Assim, esta direita já começou a agitar-se. Porém, as suas manifestações recentes não lhe auguram, politicamente, grande futuro - nem como projecto estético, nem como projecto ético-social. Tomemos como tópicos ilustrativos dois artigos do Expresso desta semana: Tirar o retrato, de João Pereira Coutinho (JPC), e A (re)fundação da direita (1), de Jaime Nogueira Pinto (JNP).
A "NOVA" DIREITA: 2) UMA ESTÉTICA DA RUDEZA?: Em Tirar o retrato, JPC, a propósito do famigerado envio da fotografia de Freitas para o Largo do Rato, regressa a um tema que lhe é caro: a exaltação da aristocrática arte da rudeza. O ambiente dos seus textos sobre o assunto - e, aliás, sobre outros assuntos - recorda, inelutavelmente, a rebeldia de Miguel Esteves Cardoso. Mas há algumas diferenças importantes. MEC nunca pretendeu instituir uma estética que identificasse positivamente um quadrante político, nem, muito menos, esta ou aquela personagem. MEC fazia rir aqueles que se reviam nas manias, nos tiques, nas misérias morais que retratava de forma impiedosa. A política era pretexto do gozo - mesmo quando teve intervenções políticas activas. JPC faz, exactamente, o inverso. Constrói a estética apropriada para certo quadrante político e para os seus actores. Instrumentaliza o gozo e o sentido de humor para criar honras e coutos para os seus eleitos (cito de memória: "Portas tem classe"; "Portas é um cavalheiro"; "Os cavalheiros podem e devem ser rudes"), achincalhando, do mesmo passo, o "país medroso e servil" e a sua "ridícula pequenez". Mesmo que, para tanto, tenha de proferir afirmações contra-fácticas, como "Portas tem piada": a verdade é que, independentemente das qualidades que evidencie na sua vida pessoal, Paulo Portas nunca transmitiu - certamente porque não a quis - uma imagem pública de pessoa "com piada", ou sequer com sentido de humor. Nem como jornalista, nem como político. Claro que este tipo de discurso exclusivista, sobretudo quando dá forma à estética das gestas de cavalaria e dos duelos, gera sempre alguns prosélitos acidentais. Mas, para além do enorme risco de propiciar a confusão entre rudeza e vulgaridade, que JPC abomina, por parte de não iniciados, não parece que seja capaz, hoje, de promover uma apreciável adesão dos eleitores. E, em nota de rodapé, sofre de um pecado original: naquilo que possa ter de nobre, a estética da rudeza não é susceptível de proclamação. Não consta que Waugh ou Churchill a tenham apregoado.
A "NOVA" DIREITA: 3) UMA NOVA ÉTICA, OU A PERENE DEPENDÊNCIA DO CENTRO?: O artigo de JNP tem um título claríssimo: "A (re)fundação da direita (1)". Depois de explicar as razões que levaram os partidos "democráticos" (no entender do A., o PS, o PSD e o CDS) a banir os princípios "de direita" e a incorporar "valores de esquerda, linguagem de esquerda e 'tiques' de esquerda", JNP avança que "não sairá daqui uma alternativa, porque esta tem de ser por definição ('alter', outro) diferente do que está". A direita (a "verdadeira", portanto) deve (re)começar pelas ideias, que, como JNP admite, "são sempre as mesmas (...): uma concepção idealista do mundo e do homem; uma consciência crítica de realismo antropológico e social, que valora as comunidades e instituições, como a nação, a família, a propriedade; e que combate a tábua rasa que desconstrói e destrói tudo isto na planificação da utopia". Por fim, diz JNP não saber "se estes valores são património exclusivo da direita", valores que enuncia em seguida: "a defesa dos princípios cristãos", "o valor da nação como comunidade solidária dos cidadãos" e a "família e a propriedade, como realização do homem nos afectos e nas coisas e garantia da sua liberdade". Sabendo que se trata, apenas, do primeiro artigo da série com o mesmo nome, não devem fazer-se juízos apressados. Mas torna-se já manifesto que este acervo ético, de tão vago e principial, é insuficiente para fundar, não só uma "nova" direita, como qualquer corporação política autónoma, pois dele comungam todas as doutrinas mais ou menos radicadas no(s) personalismo(s). Excepção feita aos "princípios cristãos" - que também não podem ser, enquanto tais e sem mediação social, objecto de promoção política num Estado laico -, creio que todos os três partidos a que JNP concede o epíteto de "democráticos" reclamam, com gradações diferentes, aquela matriz fundacional. O problema não é a defesa da "nação": é saber se dela participam, mais ou menos limitadamente, para um número maior ou menor de efeitos, os residentes não portugueses. O problema não é a protecção da "família": é saber se deve ou não aceitar-se a constituição de famílias não tradicionais. O problema não é a exigência de "solidariedade": é saber se o Estado deve ou não levar a cabo, e até onde, uma política de efectiva redistribuição do rendimento. O problema não é a garantia da "propriedade": é saber se a propriedade deve ser radicalmente alodial, ou se só pode conceber-se no quadro de uma sua, mais ou menos apertada, vinculação comunitária. De outra maneira, o discurso é passível de apropriação por muitas tribos e, por isso, equívoco, e, por isso, incapaz de gerar uma doutrina política autónoma. Enfim, não pode esquecer-se que houve já, durante o regime democrático, algumas tentativas (tímidas, é certo) de fundar uma direita "diferente", nos valores e na retórica - que resultaram em estrondoso fiasco. Para além dos grupúsculos que nem chegaram a eleger deputados, foi assim com o anti-europeísmo de Manuel Monteiro e (então) Paulo Portas, contra a "venda da soberania a Bruxelas". Com a oratória contra a venalidade da classe política. Com a reabilitação da "lavoura" no léxico da propaganda. Com a necessidade de restrições à imigração. Com a equiparação do 25 de Novembro ao 25 de Abril. Enfim, com a representação irrealista de um Portugal retirado dos manuais da antiga quarta classe que os sucessivos resultados eleitorais mostraram não existir. Os "êxitos" onde se revê a direita ideológica (as privatizações, a oposição à descriminalização do aborto, a "flexibilização" da legislação laboral, o apoio à invasão do Iraque) só foram possíveis através do concurso activo e empenhado do "centro sociológico", o qual, como se vê, nem por isso passou a votar na direita partidária, que era até singularmente representativa da direita ideológica. Esperam-se, por isso, propostas mais concretas por parte da "nova" direita ideológica, que lhe confiram uma marca de água própria, no plano ético e político. Correndo sempre o risco, é certo, de redundar numa ideologia sem destinatários e de continuar a reduzir-se a uma estética - que, ainda por cima, reivindica uma natureza, hoc sensu, aristocrática. Uma peça de teatro a que o público não acorre, porque não gosta ou porque não o deixam, mas onde os actores se cumprimentam mutuamente pelas magníficas prestações.
GIUSEPPE MEAZZA: "A grande ironia da vida é que, quando consegue dinheiro pra ter um tremendo apartamento com quatro banheiros, o cara começa a fazer pipi nas calças". Do inesgotável Millôr.
posted by PC on 11:11 da tarde
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SÃO PIORES DO QUE A CELESTE RUÇA: A ex-peixeira da Figueira da Foz e actual industrial da restauração em Buarcos, devota de Santana Lopes. Na ausência de gaffes de Sócrates ou dos seus ministros, o beau monde discute Santana, as suas opções, as moradias, os seus dinheiros, os convites que teve ou deixou de ter. Eu bem digo que há gente não pode viver sem ele. Mal por mal, prefiro peixeiras desbragadas a costureirinhas manhosas.
PS: E não me venham com a treta da "defesa da dignidade de Lisboa": a cidade não é aviltada quando se cumpre a lei. Têm todo o direito em abominar o personagem ( eu ando lá perto), e o que os incomoda é o homem ter um palco por mais seis meses ou por mais quatro anos: assumam-no. O resto é conversa para boi dormir.
posted by FNV on 10:28 da tarde
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A SAGRADA FAMÍLIA II: No dia seguinte ele entrou na cozinha, apeteceu-lhe línguas de sogra. Com leite. Leite havia, línguas de sogra não. Subiu as escadas e foi ao quarto onde a sogra acabava de pôr creme na cara. Mandou-a abrir a boca e arrancou-lhe a língua. Sabia a creme. Repreendeu a sogra.
posted by FNV on 9:59 da tarde
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A SAGRADA FAMÍLIA: Ela deitou-se e adormeceu, ele deitou-se e adoeceu. E assim ficaram, até que o cão os veio lamber. O animal era dado a pesadelos e ela foi à cozinha arranjar-lhe um biberão. Ele disse que não, ao cão, não. Ela regressou à cama, sozinha, e acusou-o: se não queres um cão, deixa-me ter um filho. Ele saiu da cama e foi para o corredor rezar. Talvez este Verão.
posted by FNV on 9:47 da tarde
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RESPEITO PELOS (E)LEITORES: O editorial do Público de hoje termina com a afirmação (desabafo) de que Santana não tem respeito pelos eleitores. Esta afirmação, em si, representa, ironicamente, uma falta de respeito pelos leitores do jornal. Uma coisa é o tratamento objectivo dos factos e a opinião (quase unânime) sobre a falta de preparação de Santana para exercer cargos públicos. Coisa diferente é o campo da subjectividade, do processo de intenções: vai-se para além da avaliação da actuação de Santana, como boa ou má, para se atribuir como motivação subjectiva para tal actuação a falta de respeito que, alegadamente, Santana tem pelos eleitores. Seguindo o mesmo raciocínio, analogicamente, podemos afirmar que a mesma falta de respeito foi recentemente demonstrada pelo jornal relativamente aos seus leitores, quando interpretrou os instintos de Cavaco na primeira página. Mais um tema para reflexão na próxima edição do Livro de Estilo?
posted by Neptuno on 11:52 da manhã
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P.S. - MENSAGEM DO LÍDER: "Camarada! Sabes lavar, cozinhar, esfregar, aspirar, engomar e servir à mesa? Junta-te às mulheres socialistas!"
UM JORNAL ÀS ORDENS: ... para nos tranquilizar quanto à escolha de Freitas para o MNE, num quadrado devidamente assinalado a vermelho - para que o bom povo tome nota - informando que Sócrates já acalmou Bush (!) e que não há qualquer problema com os fascistas americanos. E também para opinar que, entre argumentos políticos relevantes, o pobre Santana não deve voltar à CML porque isso não se faz a um amigo (!). Parafraseando o nosso FNV, é bom ter o vento pelas costas.
posted by Neptuno on 6:30 da tarde
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FICHEIROS SECRETOS: Na imprensa, ontem: "Manuel Monteiro foi desafiado pelos seus companheiros de partido a candidatar-se à Presidência da República". Mas, pergunto eu, qual "partido"?
posted by FNV on 12:26 da tarde
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MAIO MADURO MAIO: Dizem-me que uma grande festa está a ser preparada para inícios de Maio. Virá a chuva, a terra fecundada ( argghh...) vai oferecer a floração, tardia mas certa. Milhões de portugueses sairão à rua, ele vai ser o 25 de Abril, o 1º de Maio, o Dia da Mãe, eu sei lá. Mas dizem-me que cravos e rosas vermelhas acompanharão as papoilas saltitantes numa orgia ( argghh...) vermelha de vinho tinto e línguas soltas. Vai ser lindo pá, mas ainda é cedo, demasiado cedo. Aguarde-se a festa com o coração arranhado, gotas de sangue rubro ( argghh...) há muito aprisionadas, mas ordeiras e pacientes. Lá mais para a frente, a explosão.
posted by FNV on 11:44 da manhã
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DA ACTUALIDADE: Vai ser interessante ver o que o governo vai fazer quando a Associação Nacional de Farmácias exigir o pagamento dos ( quantos ao certo?) milhões de euros que o Estado ( via hospitais e comparticipações) deve. Já interessante é o apoio da imprensa ( o Público, por exemplo) à medida de Sócrates. Nada como ter o vento pelas costas.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.