AGORA ADEUSINHO: Que me vou para Moledo do Minho. Chuva, cabritinho de Padornelo, robalo de Afife; capoeira suave na praia do Conde do Camarido ( a idade não perdoa) e um presuntivo presunto de Melgaço no saco. A seguir ao(s) café(s) tomado(s) num alpendre debruçado sobre um espigueiro, mais uma edição francesa de Séneca e umas cartas inéditas de Blanchot, não vá o sono despertar a alegria.
posted by FNV on 12:54 da manhã
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HOW MUCH IS MUCH? Fez ontem oito dias, o The Wall Street Journal trazia aos seus leitores um arrazoado de teorias psicológicas sobre a culpa. Desde a culpa dos que fazem sesta até à novidade que é a culpa política para os americanos, passando pela certeza científica sobre qual a idade exacta a partir da qual os humanos a sentem. O meu xamã favorito é a dra. Tangney, que nos ensina a elencar tudo aquilo do qual nos devemos culpar: as coisas que sobrarem, "drop them", avisa ela. Os psicólogos são os verdadeiros pragmáticos da culpabilidade: quanto maior o pecado, maior o cheque.
posted by FNV on 12:39 da manhã
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O PLANO DIABÓLICO: Como o BE está de escabeche e o PCP ainda não recebeu instruções, tenho de ser eu a escrever isto: foram os EUA que estimularam o programa nuclear iraniano de modo a terem uma desculpa para invadir a Pérsia.
posted by FNV on 12:36 da manhã
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OU FICAS TU OU VOU EU: Se o Laurent Robert for embora, não me incomoda a permanência de Koeman. E vice-versa.
posted by FNV on 12:33 da manhã
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A ATLANTIZAÇÃO DO NARCOTRÁFICO (III): Em 2003, foram apreendidas oficialmente em todo o mundo um pouco menos de 500 toneladas de cocaína. Nos últimos 16 meses, foram apreendidas em Portugal ( contabilidade inexacta) 32 toneladas. Não sei por que motivo isto não tem levantado grande celeuma: é um número absolutamente excepcional. A RCMP ( Royal Canadian Mounted Police) registou em 2004 apenas 2,068 t. apreendidas em território canadiano; a Bélgica apreendeu apenas 6 t. em 2005. No corrente ano, em Portugal, já foram feitas ( entre outras ) duas apreensões de 6 e 7 toneladas ( no Prior Velho e em Esposende). No Guardian de ontem, J. Maria da Costa, do UNDOC, dizia que Portugal "is geographically under trheat". Já os rapazes da DEA continuam mais preocupados com "a política desleixada" de descriminalização do consumo em Portugal do que com as mudanças do eixo do narcotráfico. Problema deles. A mesma edição do Guardian, confirmando o que aqui se tem escrito, referia Cabo Verde como um dos principais entrepostos da cocaína atlântica: 326 kg apreendidos no ano passado ( uma ínfima parte do que realmente por lá terá passado) , recorde africano absoluto. Quando esta malta descobrir uma pastilha de cocaína, dispensando parafernálias mais ou menos complexas, vai ser o bom e o bonito.
NO MEU LICEU: Lembro-me ainda muito bem da trabalheira que era gazetar às aulas de ginástica. Tínhamos de passar o dia todo, desde as oito e meia, a averiguar as intenções de cada um e a auscultar quem pretendia faltar à aula de ginástica do fim do dia. Não interessava o motivo, podia ser um namorico, desfazer uns finos no Fernando do Avenida, ir para casa mais cedo ou simplesmente preguiçar mas era fundamental combinar com os colegas, saber quem iria faltar, se necessário negociar a falta, trocá-la com a de semana seguinte, enfim... fazer qualquer coisa para não dar nas vistas.
A razão desta trabalheira é óbvia: não havendo clareiras na aula, o professor de ginástica nem fazia a chamada e não marcava falta. Claro que se faltasse muita gente ele notava e socorria-se do livro de ponto (o desgraçado do tipo que carregava o livro de ponto tramava-se sempre porque não podia gazetar, não era realmente dos cargos mais amados...).
E, pior, se faltasse tanta gente que não possibilitasse sequer quórum suficiente para se organizarem equipas para jogos de basquetebol ou de andebol, o velho Câmara Pestana encaminhava-nos para a odiosa sala de ginástica, obrigando-nos a trepar por aquelas malfadadas cordas e sujeitando-nos a tratos de polé que ainda hoje me causam pesadelos e calafrios. De forma que a combinação prévia sobre quem e quantos faltavam evitava também que os presentes sofressem suplícios aterradores e era igualmente uma forma de respeitar os outros, os cumpridores.
Hoje já não é assim. Hoje perdeu-se tudo, a começar pelo respeito pelos outros. Dizem-me os garotos que faltou mais de meia turma à aula de ginástica, só para irem para casa mais cedo descansar no fim-de-semana. Os desgraçados que foram à aula não puderam formar equipas nem para organizar um jogo de berlinde. Parece que nem foram de castigo às malditas cordas e demais adereços hediondos. Apenas nada tinham que fazer.
Nós, contribuintes, ficamos a pensar porque estranho motivo se pagará tanto e a tantos, porque se gastarão enormidades em edifícios, condições agradáveis, contínuos e demais pessoal se a rapaziada animada e brincalhona trata com tamanha desconsideração as condições que lhes oferecemos e mesmo os seus próprios pares.
Até se perceberia a atitude na adolescência mas não numa idade que se presume adulta.
O GLORIOSO REGRESSO DO MANTEEIRO: No ano passado, Filipe Soares Franco, referindo-se a Pinto da Costa, disse que o "Papa estava quase a morrer". Pinto da Costa respondeu incitando os jornalistas a descobrir se tal afirmação tinha sido "feita depois do almoço". Em português corrente: um era senil e o outro um bêbado. Ontem , com a final da Taça e o campeonato no papo, Pinto da Costa ( ou seria o Jorge Nuno?) elogiou Soares Franco - "é uma pessoa com quem se pode estar" - e referiu a "azia daqueles que só querem guerra".
posted by FNV on 11:56 da manhã
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PERGUNTA DO DIA (II): Por um qualquer acaso, conseguimos escutar uma conversa entre dois assaltantes nas escadas do nosso prédio. Preparam-se para assaltar o nosso apartamento, estão armados e afirmam que tanto faz se estiver gente em casa ou não e que, mesmo que alguém chame a polícia, terão tempo para escapar. Começam a subir as escadas. A mulher e os filhos estão dentro de casa e, por isso mesmo, em perigo. Se não tivermos uma arma, tentaremos impedir o arrombamento e/ou fugir por outra porta, se houver. De qualquer modo, neste caso, ficaremos sempre à mercê dos bandidos. Se tivermos uma pistola, há um patamar das escadas em que conseguimos um bom ângulo de tiro, podendo dessa forma atacar os criminosos antes que eles nos ataquem a nós, eliminando assim a ameaça. Sabendo que este "ataque preventivo" não constitui uma situação clara de legítima defesa (o nosso marujo PC poderá iluminar esta questão) sabemos, no entanto, que é a única forma eficaz de nos defendermos a nós e à nossa família. Atacamos os bandidos? Se se tratar do apartamento e da família de um amigo, encontrando-nos nas mesmas circunstâncias, atacamos? Se se tratar do apartamento e da família de um vizinho que não conhecemos, atacamos?
posted by Neptuno on 11:12 da manhã
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ESPELHOS E HOMENS: É Borges que conta a história, que lhe foi narrada por Bioy Casares: numa velha enciclopédia, existia uma referência a uma "memorável sentença" de um dos heresiarcas de Uqbar: os espelhos e as cópulas são incompatíveis porque multiplicam o número de homens. Não sei se será assim, mas os homens que gostam de copular em quartos espelhados são seres frágeis e generosos.
PERGUNTA DO DIA: Deve-se bombardear o Irão apenas quando tiver a bomba ou será preferível antecipar a peleja e impedir que o projecto nuclear se concretize?
posted by Neptuno on 10:43 da tarde
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LOVE ON THE ROCKS: Anteontem, no New York Times, George Johnson deu-nos a conhecer o modelo matemático que explica por que razão as águas do Mar da Galileia permitiram a Cristo caminhar sobre elas: formou-se um caminho de gelo.
DEDO EM RISTE: Apesar da retórica ortodoxa, o Prof. César das Neves é um gnóstico. Não, é meio gnóstico: sabe bem os caminhos secretos da redenção, mas, o Mal, conhece só de ouvir dizer.
posted by PC on 2:31 da manhã
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A FRONDA: O objectivo das manifestações era rebater o CPE ou demitir Villepin? Quem vai assinar a nova Paz dos Pirinéus?
posted by FNV on 1:05 da manhã
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O CARTEIRO: O tipo atropelou-me a Marta e os miúdos numa passadeira, sobreviveu o mais novo qual missanga desenfiada. No julgamento, não foi dado como provado que a Marta tenha posto o pé na zona de protecção antes de o gajo se poder imobilizar no espaço livre e visível à sua frente. Ainda por cima o tipo mostrou-se muito combalido, exibindo 33 relatórios de psis a comprová-lo. Deixei passar seis meses. Entreguei a criança sobrevivente a um tio, aluguei um casório nos arrabaldes e desapareci de cena. Fui a um leilão dos Correios e comprei uma farda antiga. Rapei o cabelo, engordei dez quilos, cresci o bigode e assim protegido, vigiei-lhe os passos. No dia certo, com uma resma de papeis debaixo do braço, toquei-lhe à campainha. Quando abriu a porta mil anos de raiva estoiraram-lhe o nariz: caiu redondo. Fechei a porta e sentei-o no sofá da sala; enquanto o tipo tentava voltar a si, despejei-lhe gargomilo abaixo um punhado de Dormicum dissolvido em água. Esperei uma hora e comecei o trabalho: cortei-lhe todas as falangetas que recolhi num frasco com conservante e esmaguei-lhe todos os dedinhos dos pés com um martelo. Ainda hoje lhe envio, no início de cada mês de 31 dias, uma falangeta remetida de uma estação dos correios. Quando acabarem as ditas, volto pelos dedinhos dos pés, já maduros da faisandage.
O EFEITO JAMES DEAN: O que é mais prejudicial para o sr. Silva: sorver passivamente o fumo num restaurante ( pese os sistemas de ar condicionado que existem em muitas casas) ou sofrer um embate de um automóvel conduzido por um condutor com 0,4 de alcoolemia? Ninguém duvida que o tabaco e o álcool rodoviário se podem colocar no mesmo plano de efeitos colaterais. O que se pode argumentar é se a taxa de 0,4 de alcoolemia poderá causar, exclusivamente, o acidente. De facto, poderá ter sido um cão na estrada, uma mão marota ou Deus. Mas também poderá ter sido o ligeiríssimo relaxamento dos reflexos causado pela absorção de uma substância depressora do SNC. O problema está no efeito: respirar infrequentemente o fumo de terceiros não nos envia imediatamente para os Cuidados Intensivos. Por que motivo alguns governos se mostram tão duros relativamente ao tabaco e tão tolerantes face ao álcool na estrada? Suspeito que parte da resposta passa pela política de modelação de comportamentos, herdeira das engenharias sociais que se entretiveram, noutras eras, a modelar ideias. Pretende-se banir o tabaco ( não tenham dúvidas que é esse o caminho) , não se pretende banir o álcool. É em função dessa interpretação capciosa do conceito de liberdade positiva que se entrega o álcool rodoviário ao método quantitativo ( definindo limites), tanto quanto se negará ao fumador, cada vez mais, o direito à liberdade negativa.
CONTRIBUIÇÃO (PARA A SÉRIE "PÔR-SE JEITO"): Miccolli a enfiar despudoradamente a cara na mão do pobre defesa do Marítimo, em plena grande-área madeirense.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.