Clássica. Como o futebol está mortiço, virámo-nos para o râguebi nacional agora travestido de qualidades budistas. E convenientemente esquecemo-nos de sublinhar que um jogador dos "Lobos" foi banido do Mundial por causa de uma agressão a um adversário no jogo de estreia ( coisa que nunca aconteceu a um futebolista da selecção) . Sempre histéricos, sempre ligeiros.
posted by FNV on 9:02 da tarde
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NARCOANÁLISE ( Nova Série):
A proposta de MJNP sobre uma Chinatown lisboeta foi bem enquadrada pelo Eduardo Pitta que lembrou os fundamentos da coisa. Na história do ópio na América, os bairros chineses serviram um propósito claro no primeiro quartel do século passado: identificar a intoxicação opiácea com uma minoria racial específica. Panfletos, livros, filmes, tudo funcionou. Um subtexto delicioso acusava ainda os chineses de corromperem a integridade sexual de jovens americanas em troca de umas baforadas saborosas. Como sempre, na história moderna das drogas, o feitiço voltou-se contra o feiticeiro: nos anos 50 a heroína já era popular fora dos bairros chineses e nos anos 60 integrava, massivamente, a dita contra-cultura. Moral da história: o que as pessoas querem - e muito - acaba por estar disponível em toda a parte.
Nos casamentos ( homo ou hetero) eficientes, o sexo é uma necessidade e um obstáculo. O que é bizarro: os obstáculos não são necessários. O sexo é necessário porque duas pessoas normais ( excepto se forem irmãos ou pobres) não vivem juntas muito tempo se não se houver atracção sexual. O sexo é um obstáculo precisamente porque é necessário. Duas pessoas que vivem juntas sentem-se compelidas a ter sexo. Caso contrário não viveriam juntas. Isto é uma estucha. A cultura evoluiu ( ou regressou) de forma a podermos ter sexo com outras pessoas. O problema é que essas outras pessoas ou vivem com outras pessoas ou são profissionais. Se vivem com outras pessoas temos outro obstáculo, se são profissionais temos outra vez a chatice da necessidade. Não há volta a dar.
posted by FNV on 8:52 da tarde
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"FACA DE DOIS LEGUMES": Pegando na aliteração de Jaime Pacheco, penso que é este o actual drama de Scolari na selecção (em termos exclusivamente futebolísticos, para além do drama de lhe terem "tirado o tapete" e de estar a ser empurrado borda fora). Por um lado, trata a selecção como um clube, onde há um onze titular e em que só entram novas caras depois de um moroso processo de integração. Ao fazê-lo, ganha a confiança desses jogadores, criando uma espécie de núcleo duro de confiança. O reverso da medalha acontece quando vários desses "titulares" atravessam períodos de forma deploráveis - como ontem se viu. Prevaleceu o primeiro mandamento em detrimento de jogadores em melhor forma. Se juntarmos a isto os "tiques de ultra-vedetismo" do nosso melhor jogador - que assim segue por mau caminho - não restam muitas armas para ganhar jogos. Não sei se amanhã Scolari ainda será o treinador, mas tenho (ou teria) muita curiosidade para ver a abordagem aos jogos que se seguem.
posted by Neptuno on 6:23 da tarde
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LAMA:Desculpa lá, ó Dalai. A gente gosta de ti, és bom rapaz, comungamos dos valores que defendes - até ganhaste um Nobel, não foi? - mas, sabes como as coisas são. Quem pode, pode e a China pode! Digamos que somos socialistas "realistas" ou, se preferires, com sentido cínico de Estado! Mas não penses que não ligamos a essas coisas dos direitos humanos! Nós somos mesmo de esquerda! O próprio Mugabe não se vai livrar de ouvir umas verdades quando o recebermos (também não queríamos mas... já sabes como é!). Cumprimentos discretos. PS: Não te preocupes com a conta do Hotel.
posted by Neptuno on 5:46 da tarde
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SCOLARI, O PRÓXIMO TREINADOR DO FCP:
É católico devoto, culpa os árbitros pelas derrotas, resolve as coisas à estalada e não quer saber de imagens que câmaras televisivas tenham recolhido.
Uma das coisas interessantes no Mal ( esse ramo da árvore geral, como dizia o cabeça de dinamite) é, como se sabe, a sua técnica dos pequenos passos. Um dia faz-se uma coisa que, sendo incorrecta, não resulta em dano de maior para terceiros. No dia seguinte repete-se. Uma semana depois avança-se um bocadinho: logo se vê. Um exame das circunstâncias indica que ainda nada de gravoso aconteceu. Continua-se. Quando, por erro de cálculo, ocorre um mal irremediável, julgamos ser tarde para devaneios éticos. E com razão: se não nos ocorreram antes, para quê agora? O Mal impõe então a sua lógica: é preciso um grande para remediar os pequenos. De fora, o praticante pode parecer um louco ou um monstro. Isto acontece porque o público vê apenas o resultado final. Dir-me-ão que é precisamente o resultado das nossas acções que conta. Sem dúvida. No entanto, experimentem sentar-se na vossa sala, à noite e às escuras, em silêncio. Pensem em todas as coisas malévolas que já vos apeteceu fazer: têm a certeza que foi sempre - e apenas - a ética que vos impediu?
Faz hoje seis anos que a Al-Qaeda atacou Nova Iorque. Em retaliação pela invasão do Iraque. Ouço o vosso espanto? Já ouvi isto dezenas de vezes.
posted by FNV on 9:28 da tarde
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ODI ET AMO (XXIX):
O Mestre alinha os quatro remédios: Deus não assusta, a Morte não se receia, o Bem está à nossa disposição e o Mal é suportável. Pois. Mas e o Tempo? No que diz respeito à Morte, gosto mais da resposta do Aluno: se a temes é porque ainda não veio; se veio, já passou. O tempo é que nos entala. O moribundo atinge um estado de equílibrio inalcançável pelos vivos a prazo. Descobriu o segredo, o último segredo: o Tempo não é uma abstracção.
Também aprecio a presença da nossa selecção amadora no Mundial de Râguebi. Mas também aprecio a presença dos neo-zelandeses e dos nativos das Feroé nos Mundiais de futebol. Só que, nessa altura, muitos dos que hojem apreciam as cabazadas que os nossos amadores encaixam, dizem cobras e lagartos dos electricistas das Feroé e dos agricultores neo-zelandeses: baixam o nível da Copa. Dizem eles. Os apreciadores do espírito amador. Os puristas. E tudo isto para não falar do acolhimento que demos às primeiras selecções angolanas de hóquei.
Qualquer comparação entre o debate actualmente em curso no PSD e o ocorrido no PS, entre João Soares, Alegre e Sócrates, é letal para os social-democratas. A corrida interna no PS também atravessou o calor e nem por isso esmoreceu. Vimos debates, lemos artigos, ouvimos históricos e notáveis que não deixaram de se envolver; pressentimos que estava em causa uma discussão definidora. No PSD no pasa nada. Esta situação revela o calculismo dos Reiters do partido. Não se querendo colar excessivamente a Marques Mendes, morto à chegada, temem ficar com um pêlo que seja de Meneses nos seus casacos aristocráticos. Tanto quanto um simples espectador pode compreender, isto passa-se porque o PSD há muito que não luta pelo país: Cavaco ganhou sozinho, Barroso recebeu o pântano de Guterres e Santana sentou-se ao lado de uma cadeira vazia.
FEITOS ÉPICOS: Esta é a segunda vez que Portugal participa num Campeonato Europeu de Basket. A primeira vez tinha sido em 1951 e por convite - sem qualificação prévia. Graças ao empenho e esforço de atletas, técnicos e dirigentes, os bravos lusos estão a um passo daquilo que até há bem pouco seria impensável - qualificarem-se para os quartos de final. Os nossos Lobos estrearam-se hoje, no Mundial de Rugby, com um jogo de grande dignidade e valentia. Foram verdadeiros campeões ao superarem-se a si mesmo e equilibrando,a espaços, o jogo com a Escócia. O comentador de língua inglesa da emissão a que assitia referiu a certo ponto: The Portuguse team brought a great spirit to this World Cup. Não é pouco - porque é de espírito que se trata e se deveria sempre tratar quando falamos de Desporto. Acima de tudo, o motivo que deve alegrar qualquer verdadeiro amante do Desporto é, pela primeira vez, a opinião pública portuguesa seguir com atenção manifestações desportivas não-futebolísticas. Sendo antigo praticante de basket (mais esforçado que talentoso, diga-se), gosto de futebol. Mas, do ponto de vista de cultura desportiva, a verdadeira tirania mediática do futebol é um sintoma de sub-desenvolvimento do país. A forma como os media portugueses cobrem obsessivamente todos os aspectos da "bola" tem menos a ver com Desporto e mais a ver com o gosto e queda pela discussão mesquinha, pela intriga e o fascínio pelos golpes de bastidores. E que, a medir pelas audiências, estão bem enraízados na sociedade portuguesa. Isto não seria relevante se a overdose de futebol não projectasse imagens e valores completamente alheios ao espírito desportivo. Mesmo que involuntariamente, esta permanente discussão sobre árbitros, dirigentes, empresários ou foras de jogo, cartões e penalties, apenas promove o culto da trapaça, da mentalidade do "ganhar a qualquer preço", do dinheiro fácil por meios legítimos (carreiras fulgurantes) ou ilegítimos (negociatas por baixo da mesa). A crescente profusão de famílias de poucas posses que educam os seus filhos na vã esperança de criarem um novo Figo é um triste sintoma destas maleitas - basta falar com algum responsável pela formação no futebol para perceber que este fenómeno é cada vez maior. Por isso, nunca é demais realçar os feitos das selecções de basket e de rugby - lutam silienciosa e quotidianamente contra a falta de meios, de apoios e contra o desinteresse dos media. Mas sobretudo combatem a triste e ancestral ignorância do que é o Desporto e dos valores que projecta - a promoção do esforço, da superação dos nossos limites, da auto-disciplina e dedicação, a ideia de que nada se alcança sem trabalho, o espírito de grupo, o gosto pela competição, o fair-play. No fundo, uma cultura desportiva enraízada ensina-nos que na Vida tão (ou mais) importante que o resultado final, é o processo, a forma como lá se chega. Por este sopro libertador, rejubilemos, pois, com os feitos épicos (num país como o nosso, são mesmo épicos) dos nossos basquetebolistas e raguebistas. Antes de voltarmos à vil tristeza do pontapé na bola.
P.S. - O Francisco tem uma óptima cobertura diária do Mundial de Râguebi.
posted by NMP on 8:41 da tarde
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ODI ET AMO (XXVIII):
O tempo foge. Petrarca mostrou-o muito bem nos seus Remédios, sendo essa, porventura, a sua decisiva mas muito esquecida costela estóica: não lamentes a solidão pois ela pode acabar em breve, não te gabes da companhia porque não tarda estás sozinho. O tempo foge. E foge-nos de forma deliciosa. Quem já viu crescer um filho, ou morrer, satisfeito, um desejo brutal, sabe-o bem. Os artifícios mecânicos ( todo o tipo de gravações e lógicas on-line de contemporaneidade) e idiopáticos ( psicoterapias, rejuvenescimentos estéticos) de que hoje dispomos quase iludem a questão. O culto da juventude, antes sagrado, é hoje uma necessidade natural. Compreendemos bem demais que só nos falta morrer.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.