SAMPAIO vs. SANTANA: Finalmente, para além das insólitas explicações do tipo "vocês sabem do que estou a falar", Jorge Sampaio explicou por que motivo demitiu Santana Lopes. Não o fez na Grande Entrevista mas sim numa recente campanha televisiva para a prevenção de doenças coronárias. No respectivo anúncio, quando interrogado sobre a forma como cuida do seu coração, Sampaio afirma, entre outras coisas, que é importante afastar o stress da sua vida...
PENSA RÁPIDO:Comecei a trabalhar como psicoterapeuta em Montpellier, em Novembro de 1989. O que aprendi em 17 anos? Qualquer coisa como isto:
1) O amor é um acidente. Envolve neurotransmissores da última geração ( receptores Mu), olhos suaves e abertos, vontade de sair de casa e de apanhar bocados. É um bocado abocanhado, é o que é.
2) A morte é essencial. Sem ela morreríamos. Um velho viúvo que vê um casal na rua fica com tesão e põe-se a ver telenovelas. É o progresso Medeia fashion.
3) O corpo é uma maçada. Um aluguer de longa duração. Apenas.
4) Os outros são uma parte de nós. Amigos, sogras, irmãos, habitam a mesma cidade entregue a um empreiteiro louco. Somos todos vizinhos, convencidos que nos escolhemos.
5) A sobrevivência é um affair de obsessivos. Dos que fazem a sesta com pijama e comem pornografia infantil. Herdarão a terra ou o que dela sobrar.
posted by FNV on 8:44 da tarde
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A LER: O artigo de Richard Cravatts, "The Uneasy Relationship Between Money and Morals in Book Publishing", na edição desta semana da History Net News, em www.hnn.us. Algumas histórias interessantes, uma conclusão ligeira. Em 1948, 373 editoras publicaram 85.000 títulos; em 2005, 70.000 publicaram 85.000 livros. Cravatts refere a concorrência feroz da TV e da parafernália electrónica ( web, tubes, i-pods, etc) mas também a falta de escrutínio por parte dos editores. Os episódios - da enraivecida Oprah Winfrey e do livro de O.J.Simpson - alimentam a conclusão, algo simples, de Cravatts: o negócio dos livros não se compadece com o nobre propósito de difundir ideias preciosas.
posted by FNV on 3:14 da tarde
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INTOXICAÇÕES (III):
" Ao cair da noite, a hora mais terrível, ouvi nitidamente uma voz no apartamento, monótona e ameaçadora, que repetia: - Serguei Vassilievitch, Serguei Vassilievitch. Depois da injecção, tudo cessou imediatamente."
( Boulgakov, "Morfina", 1927)
posted by FNV on 11:32 da manhã
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PROVÉRBIO DO DIA: Calças brancas em Janeiro são sinal de pouco dinheiro.
UM BLOGO - ABRAÇO: Ao aniversariante Eduardo Pitta ( e restante equipa) que continua, e bem, no seu www.daliteratura.blogspot.com, e ao marreta do Luis M. Jorge, sempre a saltar, desta vez do seu www.ofrancoatirador.blogspot.com.
posted by FNV on 11:54 da manhã
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TOP INTOX: A aquisição de um terceiro exemplar do "Opium" de Cocteau ( perdi o primeiro há mais de vinte anos mas não volto a emprestar mais nenhum) obrigou-me a uma redefinição do ranking: qual é a melhor reflexão pessoal sobre a intoxicação? Segue-se uma classificação, discutível e incompleta, como todas são: Em poesia, Trakl, Pessanha, Pessoa ( o "Opiário" é um manual) e Baudelaire ( nas "Flores do Mal " ) são imbatíveis; em pequenas diversões, Balzac ( "Dos Estimulantes Modernos ") e o cachimbo de ópio de Gautier são essenciais. Não gosto de De Quincey, o Baudelaire de " Os Paraísos Artificiais " é monótono. Depois, pequenos salpicos: Keats, Sara Coleridge e novamente Balzac, espalhado pelos seus romances, entre muitos outros. Num outro estilo, pré-terapêutico, o referido Cocteau, Guy Debord com o agreste e alcoólico "Panegírico" escrito à beira da morte, e o "Morfina ", de Boulgakov, publicado em 1927 e enterrado durante muito tempo sob o frio soviético. Inclassificáveis e imperdíveis, os nove capítulos do " Sonho do Quarto Vermelho" nos quais Ts'ao Hsueh -ch'in ( 1715-1763), "o Proust chinês", descreve os rituais de intoxicação taoístas do chefe da casa com ouro e sulfato de mercúrio. O topo, no entanto, continua alemão: Ernst Junger e o seu " Drogas, Embriaguez e Outros Temas " ( 1978), e Walter Benjamin com uma colecção de ensaios ( "Uber Haschich") publicada muito depois da sua morte. Escritos entre 1928 e 1931, são, como diria o Eça, de chupeta. Assim:
" Para aquele que comeu haxixe, Versailles não é suficientemente grande e a eternidade não dura demasiado."
" Le duc de L... payait les concierges du château pour soigner son vieux caniche. Un jour il arrive à l'improviste. Un chien jaune accourt avec une peau blanche de caniche qui trâine derrière lui. Depuis trois ans les concierges déguisaient leur chien avec la peau du mort. "
( Jean Cocteau, "Opium", 1930 )
posted by FNV on 11:55 da tarde
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ANO NOVO?: As pessoas que elegeram Cavaco Silva ganharam novo alento com o discurso de "Ano Novo". Foi um desempenho frontal, directo, sem floreados, condizente com a imagem rigorosa e de "corta a direito" que lhe granjearam a admiração dos seus eleitores. Esta imagem do trabalhador sério e apolítico continua a prevalecer, inspirando uma forte esperança de que o professor está de olho no Governo, de chicote na mão, garantindo que tudo entre nos eixos. No entanto, a realidade lembra-nos que também existe outro Cavaco Silva. O político, dos tabús, dos projectos pessoais e dos recados via comunicação social e que fez o que foi eleitoralmente necessário para ganhar as eleições. Qual deles teremos em 2007?
posted by Neptuno on 6:36 da tarde
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«DIREITOS HUMANOS EM PORTUGAL»: «Enquanto continuarem a morrer e a ser maltratadas crianças em Portugal», ainda dentro do ventre materno, «vítimas de» aborto, «sem que o Estado e a sociedade intervenham para pôr fim à agressão e proteger quem é agredido, independentemente de depois levar à justiça ou» a local de apoio adequado «quem é agressor, não podemos considerar-nos num país civilizado.»
Quantos mais pequenos seres indefesos «têm de morrer, para nossa infâmia colectiva, até que» alguma Comissão «tenha os recursos (humanos e outros), a autoridade e a diligência necessária para intervir exemplarmente e a tempo», apoiando as crianças, as mulheres e a maternidade, em vez de se pugnar pela criação de uma lei nefasta que legitime essas atrocidades?
Agradeço a Ana Gomes, do Causa Nossa, todas as palavras que me inspiraram neste post (as que estão entre aspas). Este post está também no bloguedonão.
posted by VLX on 4:34 da tarde
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VERDADES INDISCUTÍVEIS II: A maioria dos comentários deixados ao meu post anterior demonstra essencialmente duas coisas, uma boa e outra má. A má é que grande parte dos leitores continua sem conseguir ler correctamente nem interpretar devidamente os textos escritos, por mais simples que eles sejam. A boa é que a generalidade das pessoas, ou todas elas, são contra a pena de morte.
O que não consigo perceber é que se seja tão veementemente contra a pena de morte e se aceite com a maior das descontracções a morte sem pena. Na verdade, constitui uma incongruência irresolúvel criticar-se um sistema judicial que entende condenar à morte um facínora assassino de milhares de vítimas como sanção pelos seus terríveis actos e admitir-se com a maior das naturalidades que uma única mulher possa decidir terminar a vida inocente que se desenvolve naturalmente no seu ventre, sem qualquer tipo de justificação ou motivo.
Sou pela vida sim, Praça Stephens; em qualquer das circunstâncias (mesmo que elas não sejam completamente comparáveis) critico a morte. Mas não sou eu quem tem o problema de consciência para resolver perante a vida e a morte. De todo o modo, continuo a desejar-lhe que resolva o seu rapidamente, se possível a tempo do referendo para não correr o risco de ficar mais tarde com dois.
posted by VLX on 4:06 da tarde
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PELO SIM PELO NÃO: João Teixeira Lopes, do BE, não quer Rui Rio no " Movimento Pelo Sim " ( ao aborto), apesar de Rio já ter votado, enquanto deputado, o projecto de despenalização na altura apresentado pelo PCP. JTL tem medo que " Rio capitalize simpatias junto do eleitorado do centro-esquerda ". E eu que julgava que "o aborto" era uma questão de dignidade da mulher e etc.
posted by FNV on 1:28 da tarde
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OPÇÕES: O único erro de Zapatero foi ter acreditado nas boas intenções de uma parte da ETA. A mesma irreformável ETA que matava jornalistas com tiros na nuca e que Louçã dizia, ainda há uns pares de anos, se limitar a " responder com violência à violência do Estado" ( em Portugal só os reaças e os beatos são ridicularizados quando dizem disparates). Zapatero errou o cálculo e depois corrigiu, e bem. Os que sorriram diante do erro inicial desrespeitam as próximas vítimas.
posted by FNV on 12:12 da tarde
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COLO DE GARÇA: Anda tudo muito irritado, por isso aqui vai uma modesta terapêutica. Como sou um romântico - acredito que todo o amor é uma tragédia essencial -, deixo-vos esta definição da beleza de D. Inês de Castro pela pena de Afonso Lopes Vieira ( " A Paixão de Pedro o Cru"):
" Tinha na carne esse tom de certas corolas tão alvas à luz que, na fineza da pele, pica pontinhos melados o ar as afaga."
VERDADES INDISCUTÍVEIS: Nós podemos ser todos contra a pena de morte e, muito particularmente, contra certas formas da sua execução. Mas a verdade é que, num país onde esta pena existe, o que seria realmente estranho era ela não ter sido aplicada a este homem.
INQUÉRITO MAR SALGADO: Periodicamente, recebemos queixas acerca do template do Mar Salgado, sobretudo em relação à legibilidade das letras brancas contra o fundo azul. Por outro lado, é um dos poucos blogues que mantém o template original. Já tivemos algumas conversas sobre o assunto, e o início do ano poderia ser uma oportunidade para mudar (Ano Novo, template novo). Gostaríamos que deixassem a vossa opinião, em comentário ou para lobosdomar2@gmail.com. Obrigado.
posted by PC on 3:27 da tarde
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QUEM MUITO DORME POUCO APRENDE: Um pouco por todo o lado se sentencia que a execução de Saddam é um acto igual aos que ele perpetrou. Esta tendência para a salada - que para ser boa se quer temperada por um louco e e mexida por um cego -, colocando tudo no mesmo nível, é muito intermitente. Veja-se, a título de exemplo, como as televisões portuguesas se referem sempre a Fidel como "o líder cubano" e a Pinochet como "o ex-ditador ".
posted by FNV on 2:47 da tarde
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BLUE STARS: A América cresceu com os imigrantes, a Europa pretende crescer com os aderentes. A América, de Lincoln e da Temperança, acolheu hordas de apanhadores polacos de batata bebedores de khom, irlandeses esfomeados e italianos descalços; mais tarde, toneladas de latinos. A Europa integrou, por convénio redigido, os deserdados do testamento socialista. Os verdadeiros imigrantes ainda estão à porta, do outro lado do pequeno mar. Uns cresceram por interesse, os outros por desespero.
PROVÉRBIO DO DIA: Entre a honra e o dinheiro, o segundo é o primeiro.
posted by FNV on 7:42 da tarde
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UNAMUNO: Nos 70 anos da sua morte, cumpridos ontem, pouco se falou por cá. É pena, ele sabia de nós. Numa carta a Teixeira de Pascoaes, escrita em Dezembro de 1905, Unamuno voltava a um dos seus temas favoritos, o nosso "pessimismo patriótico ". Cita António Nobre - e o seu famoso "Que desgraça nascer em Portugal!" - e quer saber se "o maravilhoso Quental também falava da pátria ". Os eruditos e académicos terão outras preferências, a minha é o " Paz en la guerra", contada por Unamuno/ Zabaldide, que bem poderia ter posto na boca de Pedro Iturriondo a frase mortal: "Hay certa tolerancia que es la fórmula del desamor".
posted by FNV on 3:50 da tarde
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RESOLUÇÕES DE ANO NOVO:
Não morrer. Mentir, sempre que a verdade seja maçadora. Sossegar o corpo e executar a alma. Pedir desculpas todas as noites. Evitar os maus livros. Continuar carnívoro. Cercar o tédio. Trocar o próximo pelo distante. Olhar para a luz. Voltar.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.