Como dizia Vitor Cunha Rego, as coisas são o que são. Não interessa discutir as culpas da bancarrota, as cinco legislativas em onze anos, a justiça esclerosada ( na opinião dos seus fautores) , a crise internacional.
O meu dever de cidadão é discutir o que devemos fazer. Só em liberdade é possível participar. Que grau de participação é possível, quais os obstáculos, quem são os inimigos da cidade.
Os inimigos da cidade são os obstáculos: os partidos, o aparelho de dominação cultural e os media. O que fazer dependerá da forma como os soubermos derrotar. Da liberdade que conseguirmos. Comecemos pelo meio - o aparelho de dominação cultural:
1) As universidades. As escolas superiores são, hoje, na generalidade, escolas de subserviência. Em troca de um diploma, os alunos aceitam não saber pensar, não saber ler, não saber perguntar. Quem julgou que a diluição da bafienta autoridade dos lentes traria um ventinho de inovação, enganou-se. Professores e alunos comungam do mesmo interesse corporativo: não fazer ondas. A burocratização de Bolonha caiu como mel na sopa numa cultura universitária que extravasa no folclore iniciático das praxes, dos copos e do Quim Barreiros a única centelha de autonomia. O resultado é um escol de amputados, que, atarantado, vai para a rua pedir contas.
2)A cultura popular é que nos diverte enquanto estreitamos laços. O que temos? Toneladas de novelas todas iguais, centenas de lojas todas iguais em centros comerciais todos iguais, falsificações radicais da proximidade ( as redes sociais onde até um mendigo tem mil amigos), a homogeneização uterina dos comportamentos grupais : os hobbys, as estéticas do rejuvenescimento ,a americanização melódica e cinematográfica, etc. Podemos divertir-nos ( é uma categoria que não discuto), mas de certeza que não criamos laços. E sem laços não há koinonia e sem koinonia não há participação.
3)A cultura marginal. Quase toda subsidiodependente até ao tutano, perdeu qualquer possibilidade de destruir criando ( para usar a velha expressão de Tristan Tzara). Acantonada na masturbação compulsiva de grupúsculos aparentemente marginais, mas na realidade quase sempre obedientes às baias que as bolsas e esmolas estatais lhes permitem, a cultura marginal é hoje realmente marginal. Não convoca as pessoas, não consegue arrancá-las aos lameiros da cultura popular e, o que é suspeito, não se importa com isso. Vive a vidinha burguesa.
E estamos a três ou quatro meses do mais comum dos passe-par-tout: " Desconhecíamos o verdadeiro estado das finanças públicas".
posted by FNV on 11:19 da manhã
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LE CIRQUE (III):
Na patriótica escala de Augusto Santos Silva ( que, ao contrário da metáfora bélico-colonial de Cavaco Silva, não incomodou a bovina esquerda socrática ), no inicio de Junho, quantos desertores haverá em Portugal?
E o ministro não se ficou. Hoje, na TSF, ouvi-o dizer que o PSD tem um fétiche pelo poder. Estas alusões sexuais caem sempre bem.
posted by FNV on 9:18 da manhã
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LE CIRQUE (II):
Miguel Macedo encerrou o seu discurso brandindo uma esperança reformista. É um grande progresso, porque se mudou uma palavra. No meu tempo de liceu, o slogan da JSD era " (por um) associativismo reformista ". Desde que o João Núncio redefiniu a sorte à tira ( e o quarteio em geral) , não se via nada assim na arena.
Por outro lado, o PSD , na linha da última campanha eleitoral, vai dizer a verdade. Vai prometer despedir 200.000 funcionários públicos. Espero que não use a fórmula do deputado Mota Soares, do CDS-PP: "rescisões atractivas" ( vejam a gravação) . As pessoas são capazes de desconfiar de tamanha bondade demagógica.
posted by FNV on 1:08 da manhã
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LE CIRQUE (I):
Alberto João Jardim nem se dignou a entrar no edifício da AR da Madeira, quando, no início deste mês, foi votada uma moção de censura ao seu governo. Não ouvi nenhuma figura do PSD fazer a mais minguada crítica. Em contrapartida, ouvi hoje vários deputados do PSD, muito aprumados e em cima de um banquinho, palmatoar Sócrates pela arrogância de ter saído da AR a seguir ao discurso do ministro das Finanças.
Dizem-me que Sócrates não se demitirá e que contará com a ajuda de Cavaco Silva na procura de uma solução de compromisso.
posted by FNV on 2:54 da tarde
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NO ENTRETANTO...:
O Ministro da Justiça vai passando pela chuva de granizo sem se aleijar. Isto é uma choldra, realmente.
posted by VLX on 1:29 da tarde
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METAM NESSAS CABECINHAS!
Se, qualquer que seja a razão, o FMI vier aí, isso só se deve ao PS e à governação de José Sócrates. A mais ninguém.
posted by VLX on 1:23 da tarde
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MAS MESMO MUITO CURTA:
Quando Jorge Sampaio apregoou que havia mais vida para além do défice esqueceu-se de esclarecer os portugueses de que essa vida era curta.
posted by VLX on 1:16 da tarde
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E APELOS AO PM?
Vejo por aí muitos apelos mas não vejo ninguém a apelar ao PM para que reconheça que não podia ter feito o que fez nas costas dos portugueses, para que tenha mas é juizinho, se deixe de amuos e chantagens e não faça mais mal ao país e aos portugueses do que aquilo que tem feito.
Como é que vêem renovação em dois ultra-veteranões da política portuguesa, Paulo Portas e Passos Coelho, é coisa que me intriga.
PP e PPC conhecem os truques todos? Sem dúvida.
posted by FNV on 11:19 da manhã
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COLIBRIS DE MARÇO (3):
Nada melhor do que a Nova Sapho, do 1º visconde de Vila-Moura, esse portuense ( de Baião) exótico que estudou em Coimbra, felizmente para ele há mais de 100 anos.
Peregrina apresenta o seu anão, comprado numa barraca de feira em Atenas : Tem vinte e nove annos. Não perdoa a altura dos outros. Chego a suppô-lo justo.
Não era estimulante; era depressiva, obsessiva, uma visionária mística. O que interessou foi a sua opinião sobre o casamento.
Recordando Kraus: Pai, perdoa-lhes, porque eles sabem o que fizeram.
Um golpe militar é uma possibilidade mais real do que imaginam. Começa porque temos essa tradição peri-moderna ( 1640, 1820, 1926 e 1974) e acaba porque as actuais circunstâncias são propícias a uma iniciativa desse género: a bancarrota, a perda de soberania e o beco sem saída.
Dir-me-ão que :
a) é impensável. Será. Muitas coisas que têm acontecido recentemente no mundo eram impensáveis segundos antes de terem acontecido. Como sempre.
b) as Forças Armadas estão domesticadas e aburguesadas. Os comandos talvez estejam, mas as patentes intermédias talvez não. Ninguém sabe.
c) um golpe não resolveria nada. Meus caros amigos: essa não é a lógica de um pronunciamento militar. Um golpe acontece porque tem de acontecer. É um imperativo fisiológico. d) que a nossa filiação na UE impede este tipo de aventuras. Dizem bem: a nossa filiação na UE. Acontece que nesta altura estamos mais desfiliados do que filiados.
Depois, a realidade. Se no dobrar do semestre não houver dinheiro para a satisfação das necessidades básicas ( salários, transportes, etc), a desmoralização instalar-se-á. Pouco importará que no (des)poder esteja um governo de concentração ( e não de concentração nacional, uma tautologia dispensável): na rua, ou melhor, em mil ruas, estará a desconcentração regional.
Dir-me-ão que este meu exercício é disparatado. Será, mas sempre vos recordo que existem três maneiras de fazer as coisas: a certa, a errada e a militar.
posted by VLX on 3:55 da tarde
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SOCRATES ROUBOU AOS PORTUGUESES A SUA LIBERDADE!
A questão nem é só material. É verdade que Sócrates gastou o que tínhamos e o que não tínhamos, torrou à tripa forra durante anos e escondeu ao país a sua real situação, garantindo que tudo estava bem. É verdade que foi atempadamente alertado e que desdenhou arrogantemente de todos os portugueses que o avisaram. É verdade que estraçalhou as finanças do país e nos meteu neste buraco. É verdade que a Sócrates se devem todos os sacrifícios que os portugueses hoje sofrem, e todos aqueles outros ainda mais gravosos que irão sofrer no futuro. É verdade que constitui uma ignomínia miserável Sócrates ter ido a Bruxelas comprometer os portugueses sem os avisar previamente do que fazia e uma inacreditável afronta só dizer agora que “era este PEC IV ou o FMI”. Isto é tudo verdade mas não é o pior.
O pior é o resultado de mais esta chantagem que Sócrates agora faz sobre os portugueses. Sócrates ameaça demitir-se se não lhe aprovarem o PEC IV. E ameaça que a sua demissão e a verificação de novas eleições fará o FMI invadir-nos de imediato.
A ser assim, a consequência disto é muito simples e evidente. Sócrates conseguiu que os portugueses tenham deixado de ser livres para escolher os seus governantes. Pela primeira vez desde o fim do PREC, os portugueses não podem, em total liberdade, tomar a decisão de eleger os seus governantes e escolher livremente o momento de o fazer: estão limitados na sua liberdade por força da actuação de Sócrates.
No fundo, o que Sócrates fez foi roubar a liberdade aos portugueses. E isso é imperdoável.
posted by VLX on 3:46 da tarde
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"NÃO SOU O PIOR MAS NÃO HÁ PIOR DO QUE EU"
Que o PSD está sedento de poder. Não me parece nada. Se o PSD estivesse sedento de poder, há muito teria anunciado um governo-sombra com cúpidas indicações sobre as futuras políticas de saúde, justiça, educação, etc. E , claro, já teria apresentado, em concreta impaciência, as medidas para reduzir a despesa do Estado ( extinção dos governos civis, das delegações regionais de turismo, etc).
Os comentadores são lampreias. Têm uma tripa que deve ser tirada com cuidado. Agarramos na cabeça do comentador e, três dedos abaixo do olho mais bonito, abrimos dois pequenos orifícios. Depois é só puxar com cuidado.
Se não o fizermos, o cachet que cobra e os favores que faz contaminam a carne e o o bicho fica intragável.
posted by FNV on 7:14 da tarde
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COLIBRIS DE MARÇO (I):
Mandei vir uma bielorussa. Nenhum entendia o que o outro dizia. E assim ficámos, a saborear a esplanada. Passou uma recessão e depois outra. Não conseguimos ver nada, foi tudo muito rápido.
Para desanuviar fomos comprar uma revolução. Em Abril são caríssimas.
posted by FNV on 7:09 da tarde
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ANTENA ISLÂMICA:
posted by FNV on 3:15 da tarde
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A RESPONSABILIDADE DO PS:
Se as hipóteses em cima da mesa iriam ser “ou este PEC IV ou o FMI” e “ou aprovam este PEC IV ou demito-me”, estas não eram razões suficientes para Sócrates ter falado primeiro com os portugueses, com os restantes líderes partidários e Presidente da República antes de criar e apresentar o PEC IV a Bruxelas?
Nas armas. Primeiro, o novo livro de arma. Muito bem. Depois, a licença de uso e detenção. Muito bem. Depois, os cadeados individuais para cada arma. Muito mal, mas comprei.
Agora, porque deve haver alguém com poucas encomendas, a obrigatoriedade de um armário. E o desgraçado que só tiver duas ( não é o meu caso) tem de arranjar um armário nem que seja para duas anãs 6.35.
Isto enquanto o pessoal ataca de arma em punho ( sem perder tempo com a parfernália acima referida, como é óbvio) os alvos do costume ( churrasqueiras, ourives, bombas de gasolina, etc).
Isto deve estar certo mas não estou bem a ver como.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.