A minha casa é, e será sempre, o Mar Salgado, ao qual regresso de tempos a tempos para abrir as janelas, sacudir o pó, verificar se não ficou por cá esquecida uma garrafa de rum, e fumar um melancólico cigarro com ela.
Tenho esperança de um dia conseguir convencer a tripulação a uma pequena e festiva regata na semana que antecederá e na que se seguirá à magnífica e histórica vitória da Briosa no Jamor, aqui fica o repto.
Mas foi com enorme orgulho que aceitei o amável convite para escrever no Corta-Fitas. E vai dar-me imenso prazer escrever lá.
A Faculdade de Direito de Lisboa, julgo que por intermédio da ELSA (associação de estudantes), promoveu uma suposta conferência sobre um determinado processo judicial ainda em curso. Para o tal debate convidou o arguido já condenado, em primeira e segunda instâncias, por unanimidade dos respectivos colectivos, o seu advogado no dito processo, e um psicólogo clínico editorialista que vai à TV. Imagino que o contraditório (que se pretende neste tipo de debates) estivesse assegurado, embora não veja como. Pelo meio, promoveu-se o livro do arguido. É simplesmente extraordinário, o que se passa hoje nas Faculdades de Direito…
Já tinha ouvido dizer que há gente que vale por três mas nunca tinha realizado isso com tanta objectividade: Pedro Nuno Santos foi à TVI 24 defender-se chamando a si e colando-se às afirmações de Sócrates sobre a dívida pública e ancorando-se nas propostas de Seguro sobre as sanções aos Estados cumpridores. É fantástico, este três em um.
E continua a dizer que mantém o que disse, embora dizendo coisas diferentes do que então disse. Daí que eu não perceba se ele percebeu o que disse, como ele já não tinha percebido o ferro curto que Nuno Encarnação lhe tinha cravado com gosto no final do debate na Assembleia da República.
O homem não percebeu que é uma sorte para Portugal que os nossos credores não lhe reconheçam qualquer responsabilidade e seriedade, não percebeu que o próprio estava a reconhecer ser um irresponsável e, com isso, a arrastar o país e os portugueses para a irresponsabilidade, não percebeu que queria fazer arrebentar uma bomba atómica no nosso país, não percebe que a bancarrota a que os socialistas nos levaram e a necessidade de ajuda externa a que nos obrigaram é que implicam esta austeridade de que se queixa, não percebe que quem tem de explicar posteriormente os discursos ou conferências que faz só revela impreparação ou incompetência, ele continua sem perceber nada.
Talvez por isso se tenha defendido dizendo ainda que não sabia que as suas declarações eram públicas e estavam a ser gravadas. É outro Nersão.
posted by VLX on 10:33 da tarde
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(36) comments
OS TRÊS ESTAROLAS:
Em menos de oito dias, três grandes do PS ofereceram-nos três enormidades colossais que merecem referência por nos revelarem a total irresponsabilidade e a falta de preparação daquela gente.
Armado em conferencista, e filmado por um vídeo igualmente amador, Sócrates apregoou que pagar a dívida era ideia de criança, pois assim teria estudado, embora não saibamos muito bem onde nem em que fim-de-semana.
Depois veio António José Seguro, envergando os seus melhores óculos de conferencista, defender a aplicação de sanções aos países cumpridores. Leram bem: quer sanções para aqueles Estados membros da zona euro que tenham excedentes financeiros e não acorram a salvar os incumpridores. Notável. Notável como a plateia se não desmanchou à gargalhada.
Agora veio um Pedro Nuno Santos berrar para a rádio Paivense FM que se estava a marimbar [sic] para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal, que se estava a marimbar que nos chamassem de irresponsáveis [sic], pois nós tínhamos a bomba atómica [sic] que era dizer que não pagávamos, pelo que ou os alemães se punham finos ou nós não pagávamos [sic]. De acordo com o iluminado, isto deixaria os banqueiros alemães com as perninhas a tremer [sic]. Simplesmente fabuloso, merece ser ouvido .
Para além de se evidenciar que a bomba atómica não pode estar na mão de tolos irresponsáveis, todo este conjunto de disparates obriga a algumas reflexões. Os disparates têm de semelhante provirem de dirigentes socialistas, dirigentes daquele partido que nos colocou à beirinha da bancarrota e negociou como quis há meia dúzia de meses os empréstimos de que falamos. Têm ainda de coincidente a benevolência da comunicação social, tantas vezes tão crítica quando lhe interessa como silente quando lhe convém: é extraordinário que não haja manifestações de gozo relativamente a estas afirmações, que mais parecem saídas de um personagem do Herman, dos Gatos ou do saudoso Raul Solnado.
A irreflexão, irresponsabilidade e inconsciência desta gente, aliada à evidente falta de preparação, só nos pode levar a concluir que eles não podem ser levados a sério. Ou então, se querem ser levados a sério, teremos de concluir que são incompetentes. Claro que, acaso não queiram ser catalogados de incompetentes, terão de ser rotulados como intelectualmente desonestos. Em qualquer dos casos, nenhum fica bem na fotografia e todos parecem estar a gozar com o esforço actual dos portugueses.
Nada disto me surpreende, vindo desta gente, e até Zorrinho considerou as afirmações adequadas aos personagens e aos locais, mas não posso esquecer as fabulosas atenuantes invocadas pelos próprios: Pedro Santos defendeu-se dizendo que falava num jantar partidário no interior do país, estilo bacalhau basta, e Sócrates alegou não ter consciência de que estivesse a ser filmado. Pois... o Nersão também não tinha.
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