UMA QUESTÃO DE TEMPO: Ontem, num debate na RTP-N, um indivíduo defendia a exclusão dos representantes da Igreja Católica do protocolo de Estado "porque Portugal é um estado laico no qual existem 60 confissões religiosas não cabendo lá todas". Pelos mesmíssimos motivos, aguarda-se a extinção dos feriados religiosos católicos. Proponho desde já outros: Dia do Touro Manso, Dia do Telemóvel, Dia do Benfica, Dia das Minorias Étnicas, Dia da Dona de Casa Desesperada.
posted by FNV on 9:22 da tarde
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MAIS UM BOCADINHO E JÁ TEMOS EQUIPA: Se se confirmar a inclusão de Kaz Patafta no grupo dos 23 australianos mundialistas, o Benfica passará a contar com sete - 7-sete futebolistas no Alemanha 2006. Alguém precisa de creme de arnica para o epicôndilo?
posted by FNV on 3:34 da tarde
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500 ANOS DE VERGONHA: Faz hoje 500 anos, morreu esse miserável agente do imperialismo europeu, da globalização e do colonialismo, o proto-racista Cristovão Colombo.
QUEM UMA VEZ SE RENDEU SEMPRE É RENDIDO.... Em 1597 são publicados os sonetos de Lisardo dedicados a Sílvia, da autoria de Frei Bernardo de Brito. São das melhores páginas amorosas da literatura portuguesa, "orgulhosamente anti-espanholas" como sublinha Fiama Hasse, citando o primeiro editor da obra. Deixo-vos o Soneto em que ( Lisardo) promete ( a Sílvia) firmeza em sua ausência:
"Bem pode, Sílvia minha, qualquer serra tirar a estes meus olhos sua glória, qualquer monte terá de mim vitória, qualquer pequeno espaço, enfim, de terra.
Mas contra um pensamento fazem guerra, que traz em si pintada vossa história, e quanto mais contrastes, mais memória conserva um coração que vos encerra.
Parto-me desses olhos graciosos, mas por eles vos juro eternamente,
Que a mágoa de os ver ficar chorosos estímulo será para a lembrança de quem se vê de vós ficar ausente."
"UMA PALAVRA COM MIL LETRAS": O grandioso Almocreve das Petas festeja o seu terceiríssimo aniversário. E nós com ele, claro está, porque muito nos aumentam o humor requintado e as finas lucubrações que lhe transbordam dos alforjes. E sobretudo a escrita - a escrita, Senhores! - do masson, sápida e única: quando os estilos se resignam, cada vez mais, ao pronto-a-vestir dos figuraços, está ali um dom que é uma frescura. Saúde, portanto, e "fahr' immer, immer zu!".
DESAGRAVANDO SCOLARI: Algo surpreendentemente, anda para aí muita gente "perplexa" por Scolari não ter convocado Quaresma para o Mundial. Pois eu compreendo perfeitamente por que é que Quaresma e Baía não foram chamados - não percebo é a convocação de Bruno Vale e Postiga (e mesmo Maniche, Deco, Costinha, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Nuno Valente... não estarão inquinados?). De qualquer maneira, assim de repente, lembro-me logo de 10 razões para preferir, p. ex., o Simão Sabrosa a Ricardo Quaresma: 1) O Simão ocupa menos espaço no avião. 2) Temos bons marcadores de livres e Quaresma cai pouco à entrada da área. 3) Quaresma não tem ambição: nem sequer briga pela braçadeira de capitão. 4) O Simão fala com mais desenvoltura para a comunicação social. 5) A convocação do Simão não pode ser interpretada como um acto de discriminação positiva. 6) O Simão não corre o risco de Petit se baralhar todo e de lhe dar uma trancada a meio do jogo. 7) O Simão defende-se mais. 8) O Simão protesta com mais pinta. 9) Não há razões para acreditar que vamos ter oportunidades de baliza aberta. 10) Os penteados do Simão, sempre diferentes, confundem os adversários.
CRITÉRIOS: As pessoas que, ontem em Barcelona, queimaram caixotes do lixo, saquearam lojas e apedrejaram a polícia, foram catalogadas ( pelo menos) na SIC como "vândalos". Outros, que fazem precisamente a mesma coisa sob o pretexto da luta "anti-globalização", são "manifestantes". Esses até têm honras, em blogues de cascalho, de fotos e textos solidários com a "violência policial" que sofrem. Kamarada, não olvides: se quiseres queimar carros e saquear as lojas da Springfield, não esperes pela vitória do Barça.
posted by FNV on 9:43 da tarde
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ANTENA ISLÂMICA: O The Middle East Media Research Institute publicou on-line, nos seus Inquiry and Analysis Series nº 275 da passada 4ªfeira, um recomendável artigo sobre a luta titânica entre blogues moderados e blogues fundamentalistas. O www.tajdeed.org.uk, fabricado na Inglaterra por um adversário do regime saudita, o dr. Sheik Muhammad Al-Mas'ri, acusa o www.alhesbah.org de contribuir para a prisão de bloggers moderados. O www.alhesbah.org é um blogue asssociado à Al Qaeda, tendo mesmo sido nas suas páginas que o grupo reivindicou a autoria do atentado de 25 de Fevereiro último contra campos petrolíferos na Arábia Saudita. Vários bloggers sauditas foram já presos, nomeadamente o ( dizem eles) famoso "bin Roma" e o "Irhabi 007".
posted by FNV on 8:33 da tarde
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TV 2: No meio da profusão mundialista, vejo uma "iniciativa das mulheres dos futebolistas" da selecção quase-nacional ( há que respeitar as sensibilidades regionais). São quase todas louras, como se tivessem saído de uma edição juvenil da Cidade dos Malditos. Gostei. Fiquei a saber que as mulheres dos broncos têm as mesmas fantasias das meninas (e das maduras) aspirantes a intelectuais. Os homens são todos iguais.
posted by FNV on 12:54 da manhã
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TV 1: Boa análise do affair Carrilho na Quadratura do Círculo. É verdade que, como lembrou JPP, Carrilho não diz nada de novo quando discorre sobre as agendas ressentidas de muitos jornalistas. António Lobo Xavier avisou, profiláctico, que " há muito doido calado". Mas também Jorge Coelho fez bem em sublinhar que "não se pode meter no mesmo saco comentadores e jornalistas", se bem que o saco seja cada vez maior. Acrescento uma nota trivial: alguns dos ( e das ) jornalistas que Carrilho menciona serão "objectivos e isentos" quando Cristo descer de novo à Terra ( ou quando "a Bárbara" engordar...)
OS FESTEJOS DE CEDOFEITA: É sempre divertida, desde que não haja condutores suicidas, a combinação festiva de Cedofeita com as conquistas do Futebol Clube do Porto face à severa angústia dos que são sempre e provincianamente derrotados. Parece-me ser o caso de uma falange de adeptos benfiquistas que está em estado cataléptico por causa dos sucessivos e tormentosos desaires. Caso eles tivessem apreendido o que todos queriam (ver o unanimemente considerado melhor jogador do ano participar na defesa das cores do nosso país), não entenderiam isso como o desejo de empalamento de quem quer que seja, merecedor ou não. Mas é o que eu digo: sem condutores suicidas, a festa de Cedofeita é sempre uma combinação divertida. Basta pensar que desde que o actual seleccionador, há pouco mais do que um par de anos, se mandou para cá provavelmente até ao infinito como prémio pela derrota na final contra a Grécia, Cedofeita já festejou três Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal, uma Champions League, uma Taça Uefa, uma Taça do Mundo e umas quantas Supertaças. Quaresma não vai à Alemanha? ? Baía também não. Who cares?
posted by VLX on 7:27 da tarde
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BONS TEMPOS: Que tipo de relação existe entre as dificuldades éticas da política ocidental e a civilização-pânico ( termo roubado a Sloterdijk) que ela tem amassado? * Ao mundo alternativo - o comunismo de estado - sucedeu o mundo catastrófico, declinado na variante natural - buraco de ozono, água, etc - e na variante política - Islão fundamentalista, globalização, declínio da natalidade, etc. As catátrofes actuais revelam essa dualidade: Tchernobyl ( no lusco-fusco comunista), Katrina, Tsunami, mas também o 11 de Setembro e o Irão nuclear. Não sei o que Fr. João dos Santos pensava quando, em finais do século XVI, passeava em Moçambique e se escandalizava com os costumes canibais do mumbos, lá para as bandas de Tete. Uma coisa é certa: não temia a catástrofe às suas mãos - leia-se, às mãos da cristandade. Alguns tipos aborrecidos - Heidegger, Nietzsche - foram-nos dizendo que a decomposição da verdade implicaria uma reconstrução total. O século XX pode ter feito parte dessa tentativa de reconstrução: comunistas e nazis, cada um à sua maneira, bem tentaram. Mas os pedreiros foram despedidos e os remendos subsistiram. Das terras médias vem, de novo, um apelo à salvação: um livro, uma verdade e profetas belicosos. Um minúsculo estado europeu, alojado nas entranhas de Roma, já percebeu e tenta reagir . Depositário do último resquício de solidez ocidental, desespera porque já não tem súbditos. As ideias e a fé, sem gente para ler as primeiras e sentir a segunda, são uma agonia suave. O pânico e a profecia legitimam hoje um olhar oblíquo sobre a nossa obra. Se é verdade que qualquer um capaz de contar até três pode ser um Nostradamus, isso significa que já não prevemos nada; não aprendemos com os nossos erros, somos os nosso erros.
* A aproximação de Bush ao novo - Kadafy - ex - Lockerby é um bom exemplo.
OS SHAHID DA CEDOFEITA: É sempre divertida, desde que não haja bombistas suicidas, a combinação da mania severa com o provincianismo. Parece-me ser o caso de uma falange de adeptos blogosféricos do FCP, que está em estado cataléptico por causa de Scolari. Caso este tivesse convocado quem eles queriam - um dos deles - era um tipo aceitável ( visão provinciana do mundo) ; assim, não passa de um calhorda a quem - juntamente com a selecção (!) - se deseja nada abaixo do empalamento ( efeitos da mania dissociativa) . É o que eu digo: sem bombas, é uma combinação divertida. Outros, de outras tribos, criticam também Scolari. E bem. Fazem-no sem nos divertir tanto, mas esquecem-se, talvez, que agora é tarde. Quando o actual seleccionador, há um par de anos, mandou uma jornalista ir fazer sexo com o infinito, à frente das câmaras das TV's, teria sido a altura certa.
posted by FNV on 9:57 da tarde
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MULTICULTURALISMO GAY XIITA: Estes episódios são muito incomodativos, por isso não têm lugar em grande parte dos media (os que estão sempre prontos a babar-se com a "culpa ocidental") . O Ayatollah Ali al-Sistani aceitou retirar do seu website uma fatwa que incitava todos os xiitas iraquianos "a matar o maior número de homossexuais da forma mais severa possível". A pressão do Iraqui LGBT-UK ( antena inglesa da organização clandestina iraquiana) não foi suficiente para que al-Sistani retirasse uma fatwa idêntica contra as lésbicas. Toda a história na edição on-line de anteontem do www.ukgaynews.org.uk.
posted by FNV on 3:53 da tarde
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AS LOCOMOTIVAS: Para Schopenhauer, só existem três: o egoísmo, a maldade e a piedade. Não fosse a última ( influência do budismo que aprendeu com Maier ) e o bom do Arthur teria dado um magnífico leopardo.
posted by FNV on 12:36 da tarde
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ANÍBAL ÀS PORTAS: Fernando Santos já está em segundo lugar no inquérito on-line de "A Bola", destinado a preparar o terreno. Não esmoreceremos! Todos a Canas!
SÉRIE "OS EUA E O NARCOTRÁFICO" (IV): Continuemos na América do Sul. Na história das drogas - e julgo que noutras - repetem-se movimentos que adquirem um carácter quase circular. O envolvimento norte-americano na repressão ao narcotráfico sul-americano data dos anos 50. O Opium Protocol de 1953, claramente inspirado pelos EUA, foi o que de melhor se arranjou para arrumar a casa depois da guerra. A sua aplicação prática necessitou de muita pedra partida:
1) os estados produtores, como já aqui foi lembrado, multiplicaram-se como cogumelos com a descolonização. 2) Arrastava-se o debate sobre se seria preferível o controlo na origem ou o controlo do mercado .
Seria a Single Convention, assinada em Nova Iorque em 1961 sob a batuta de Robert Curran, a tentar resolver a questão. E o principal ponto foi afastar da agenda do controlo das drogas a restrição à produção agrícola. Se isto poderia ( acabou por não poder...) ter servido para os países envolvidos no comércio do ópio, para a América do Sul foi um Kinder Surpresa: simultaneamente um golpe, uma oportunidade e uma novidade. Um golpe nas pretensões do enfranquecido Anslinger ( que pugnava precisamente pelo controlo da produção agrícola) , uma oportunidade para o crescimento das plantações de coca e uma novidade: os EUA passaram a ocupar-se pessoalmente dos assuntos sul-americanos. Nos anos 50, entretidos com o ópio, os homens do velhinho PCOB ( o Permanent Central Opium Board criado em 1928) assumiam que a América do Sul era um gigante adormecido que poderia voltar a emergir como grande centro mundial de produção. Os EUA tentaram então, a partir do início da década de 60, controlar o Peru e a Bolívia. Os regimes de Belaunde e Barrientos, lançados na cruzada anti-comunista, lançaram também as bases do que viria a ser o problema americano nas décadas seguintes:
1) Zonas de coca cada vez mais longe da acção dos exércitos regulares ( O vale do Huallaga, o Guaviare e Santa Cruz por exemplo) . 2) Desequilíbrio da posse da terra ( em 1980, na Colômbia, 13 milhões de hectares estavam na posse de 8000 famílias, enquanto 800.00 detinham apenas 4,5 milhões), incitandor de revolta e de movimentos de migração interna. 3) Exploração marxista e/ou maoísta destes desequilíbrios, criando o início de uma aliança objectiva entre cocaleros e guerrilheiros .
Nos anos 60, os americanos podiam ter aprendido que quando se limpa um vespeiro as vespas mudam-se para outro. Foi assim do Peru para a Bolívia, poderá vir a ser assim da Colômbia para a Bolívia e (novamente) para o Peru dos nosso dias. As zonas de coca foram quase sempre entregues, de mão beijada, aos traficantes por regimes empenhados na luta contra as guerrihas e partidos marxistas legalizados. Estes regimes, como o Peru de Velasco nos anos 70, muito ajudaram ao estabelecimento das zonas cocaleras e respectivas correias de produção ( extracção do alcalóide) e transporte. Quando o tempo do crack ( anos 80) e o da moda da cocaína sem necessidade de cozinha ( anos 90) chegou, tudo estava pronto. Hoje, na Colômbia, os EUA emendaram alguns erros: apoiam um regime democrático e apostam numa erradicação mais eficaz das plantações de coca. Mas tal pode não chegar dada a mobilidade dos vespeiros ( zonas de produção), das vespas ( os narcotraficantes) e da permanência de focos de miséria que tornam atractiva a actividade cocalera. Depois, a América do Sul andina está em pé de guerra ideológica.
Fontes utilizadas: variadíssimas, mas sobretudo W. McAllister ( 2000) e Paul Gootenberg ( 2004).
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