MAIS CRENÇAS: Porque esta vida são dois dias, e para aligeirar o assunto, aceito o desafio da Fernanda Câncio no "DN" de hoje: e se eu engravidasse? Prometo sexo durante toda a gravidez ( não se negam desejos a um grávido) e um atestado de 24 meses para recuperar. Quanto ao aleitamento, contrataria uma jovem e ruiva cabeleireira francesa, com dotes de charolesa, que nos ( a mim e ao bebé) cantaria berceuses relaxantes. Depois divorciava-me, mudava de sexo, voltava a fazer pesos e a beber uns copos. Porque esta vida são dois dias.
posted by FNV on 4:01 da tarde
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CRENÇAS:Alguns ( se não todos ) dos que votam contra a legalização do aborto até às dez semanas dizem que se o "Sim" ganhar, o número de abortos disparará. Paulo Portas dizia o mesmo, em Julho de 2000, sobre as consequências da lei da droga de Vitalino Canas : "Prometemos sol, praias e qualquer droga que desejarem". Não, não se registou nenhuma invasão, o dr. Portas dormiu sossegado. Como liberal à moda antiga, apesar de não me entusiasmar com muitas realizações humanas, acredito no indivíduo ( e não nos chimpazés). Acredito que as mulheres não vão desatar a abortar só porque é permitido. Acredito que o juízo humano se sobrepõe - por vezes imprevisivelmente - aos sistemas sociais.
posted by FNV on 3:49 da tarde
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SOBE, SOBE, BALÃO SOBE: Sócrates sobrevive, para espanto de uma marrafa de artigoleiros. Uns, porque ignoram que é cedo para calçar os sapatos do defunto, outros, porque desconhecem uma regra básica da natureza humana, pelo menos desde que há grupos organizados e desde que Bion escreveu sobre eles: quanto mais se diz que há perigo, mais precisamos de quem nos livre dele. A crença no Messias é directamente proporcional ao sentimento de orfandade: Cavaco com o tabu, Guterres na sua saída desembolada e Barroso na sua retirada calculada, deixaram o povo à nora. E as pessoas querem um pai, de preferência num balão que paire acima delas. Por isso sopram.
NEM SEMPRE TEMOS UM POR PERTO: Ao contrário dos chimpazés, os cães são mais simples. Pascoaes descreve o encontro de Napoleão, em traje de caçador, com Pio VII, em Fontainebleau, no meio de cães e tocadores de buzina. Pascoaes queria sentir o primeiro olhar do Papa no rosto do Napoleão, porque "... sempre que o meu "Zaire" me contempla, desejaria estar nos seus miolos; seria a única maneira de me conhecer a mim mesmo...Só o cão conhece o homem.".
posted by FNV on 3:32 da tarde
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UM VENTINHO: Baptizar de "Furacão" a operação de moralização fiscal em curso parece-me certo: muito vento, algumas telhas partidas e, no final, tudo na mesma como a lesma.
posted by FNV on 11:58 da manhã
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MARAVILHAS NACIONAIS: Pois não sei de 7, como pretende o IPPAR, mas o monumento que melhor exprime a identidade lusitana já não existe. Foi o "Tolan ": um navio virado do avesso e encalhado, um provisório transformado em definitivo, um regalo para mirones e turistas.
TERMINOLOGIA: Não sei se Sá Carneiro foi um cadáver excelente, como eram baptizadas as vítimas da mafia no século passado, mas há quem queira, hoje, fazer dele um excelente cadáver.
MEGALOPATIAS; Correia de Campos tem trabalhado bastante, ao que parece algumas vezes bem. A inclusão das políticas de alcoolismo na estratégia para a droga é um exemplo de lucidez. Mas a minha receptividade encolhe quando o vejo na TV, tonitruante, a dizer que "está a fazer História ". Este "Complexo de Marquês de Pombal " impede os ministros de fazerem o seu trabalho sem preocupações com a imortalidade.
posted by FNV on 11:14 da manhã
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S.O.S.: O Mar Salgado afundou no porto de Setúbal. Todos os blogues metem água.
posted by FNV on 11:04 da manhã
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SENTIDO DE ESTADO: O líder do grupo parlamentar do PSD sai de uma reunião, privada, com o Procurador-Geral e debita para os jornalistas as mais intímas preocupações de Pinto Monteiro acerca das dificuldades do combate à corrupção. Já nem é necessário esconder microfones na Procuradoria.
posted by FNV on 10:46 da manhã
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BELO PRESENTE DE NATAL é o regresso deste monstro dos anos 80.
O GRANEL: A minha - já longínqua - experiência de oficial miliciano conseguiu fazer-me parecer um indivíduo poupado, o que é deveras assinalável. Estes reformados emproados, calçados com pneus de marca e endividados com as prestações da casa de férias, não acreditariam numa sublevação nem que lha explicassem na TV. Exceptuando as bem remuneradas ( e indispensáveis) forças expedicionárias, o resto é granel bafiento. Se o povo soubesse o que se faz - e o que se gasta - nos quarteis, a tropa é que punha as barbas de molho.
posted by FNV on 11:43 da tarde
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"SUPOSIÇÃO DE MATERNIDADE ": O decreto de Henrique II, promulgado em 1557, enquadrou a perseguição. Se antes, as mulheres que simulassem ser mães de crianças que não tivessem efectivamente gerado eram castigadas, a partir de 1557 o encobrimento de uma gravidez que resultasse na morte do recém-nascido passou a ser punido com a pena de morte ( Munchebled, 2000), como consta nos arquivos do Comissariado do Vº Bairro da Prefeitura de Paris. As bruxas andavam potentes nesses tempos e tinham uma ajuda de peso que, muito mais tarde, o dr. Hofmann, numa bela tarde de Abril de 1943, experimentou nele próprio: o LSD. O útero do LSD é o Claviceps purpurea, um fungo que parasita o centeio nos verões húmidos, e a partir do qual Hofmann sintetizou em 1938 o "25º derivado da dietilamida do ácido lisérgico". Muito camponês foi tomado como possesso por ter comido pão amassado com centeio contaminado ( ergotismo) , mas as bruxas sabiam ao que iam. Nos tempo de D. Alfonso Tostado, bispo de Ávila, acreditava-se que as bruxas administravam intra-vaginalmente o Claviceps para seduzir as jovens aprendizes incautas e iniciá-las em orgias babilónicas. Em Hannover, em 1778, o Claviceps foi proibido : era utilizado como abortivo ou como desencadeor do trabalho de parto, daí ser conhecido como Mutterkorn ( centeio da mãe). Mas a associação das bruxas ao Claviceps, ou seja, a associação do sexo louco à maternidade, baptizou o nosso fungo com outros nomes: roggenwolf ( lobo-do-centeio), tolkorn ( grão louco) ou roggenmutter ( mãe-do-centeio). Inocêncio VIII, eleito porque Rodrigo Borgia não quis Marco Barbo, atira-se aos albigenses, aos hussitas e às bruxas alemãs. Daí a Bula de Dezembro de 1484, que Sprenger e Kramer robustecem com o famoso Malleus Maleficarum - o "Martelo das Bruxas" -, que não era mais do que uma actualização do Formicarum de 1434, de Johannes Nider ( G. Knowles). O corpo feminino ilustrava dois poderes: o da maternidade e o do prazer. Mães e bruxas, as primeiras pelo poder civil, as segundas pelo eclesiástico, foram convenientemente domadas.
RUÍNAS: Se são os lenhadores que conhecem os caminhos ( Heidegger) , os ferreiros coxos, filhos de Hefesto, é que sabem do lume e das bigornas. Nestes dias de ruínas molhadas, o espírito deve manter-se enxuto: na falta de uma pravaz, um álcool seco reconstitui a imagem do palácio intacto.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.