E EM CASA OS PROCURADORES NÃO PROCURAM? De Lisboa saem tantas equipas especiais de Procuradores, supostamente dos mais avisados, para irem investigar episódios em Felgueiras ou jogos do Gondomarense com um Trinca-Espinhas qualquer que eu imagino que não tenham sobrado Procuradores livres, suficientemente livres para investigarem a própria Lisboa, antiga capital do Império e hoje da pouca-vergonha.
Pois o Município que ainda há pouco se lamuriava, choramingando, por não ter dinheiro e implorava, mendigando, condições especiais (que lhe foram oferecidas) andava há anos a distribuir animadamente casinhas, lojas, ateliers e sabe-se lá o que mais aos amigalhaços. Ou aos amigalhaços dos amigalhaços. E isto corre todo o espectro partidário: todos ofereceram e a todos foram oferecidas casas sem qualquer critério, ao sabor do apetite ou das conveniências de quem mandava. Ao longo de dezenas de anos, elementos de todos os partidos deram as mãos à volta de um tal de património disperso do município para o oferecerem a quem muito bem entendiam, sem regra nem transparência. Vai daí, quem tinha conhecimentos e cunhas disponíveis dispunha também muito alegremente de uma palhota simpática a preços módicos, fosse ele pintor, escritor, jornalista, político ou até vereador ou funcionário municipal. Ou filho. Gostei particularmente daquele político (chamo-lhe Cândido) que alegava já não residir numa dessas casas por a ter cedido ao filho, justificando a transferência por si decidida por não ter meios para dar uma casa ao filho. Comovente. Também fabulosa a tese daquele que pretendia ter uma casa de reserva, para o caso de se divorciar outra vez.
E todos sabiam. E todos pediam. Todos, dentro de um círculo restrito, claro, mas que atravessava todos os partidos políticos ou aqueles mais significativos. Sem regras se distribuía pelos amigos ou a pedido destes o património público lisboeta, de forma completamente arbitrária.
Se isto se tivesse passado numa outra qualquer cidade do país cairia em Lisboa o Carmo e a Trindade e vinham de lá batalhões de Procuradores investigar, com Saldanha Sanches a comentar, indignado, a vigarice nas televisões. Como é em Lisboa e por atingir todos os amigos, os amigos todos a consideram normal e ainda se vai abafar tudo. Espero que o Senhor Procurador não a considere assim e se mexa porque é preciso saber quem deu, a quem, o quê e quando. E depois averiguar que contrapartidas se verificaram (um aparecimento na campanha eleitoral seguinte? o oferecimento de uma obra de arte? um comentário elogioso nas televisões ou nos jornais?). O que não pode acontecer é não acontecer nada.
Por motivos alheios à minha vontade, interrompo a escrita aqui na nau. Na "Ler" de Outubro defendo o bom e velho casamento ( para urticária de muitos); na "Ler" de Novembro digo que os hábitos de leitura das criancinhas obedecem, no início, aos mesmos princípios dos hábitos do penico ( também para irritação de muitos, estou certo). Espero regressar.
O sr. Perestrello está na RTP-N a fazer-se de novo e a fazer-nos de parvos. Ninguém diz que se deve "acabar com todos os investimentos públicos". Como refere o João Pinto e Castro ( no link do 1º post), a ideia será investir em projectos de curto prazo: saúde e educação , por exemplo. O que o PS queria era anunciar mega-projectos: circo, luz, propaganda e compra por atacado de votos eleitorais de autarquias e corporações várias. Já reparar tectos de tribunais, tirar alunos de contentores ou acabar com infiltrações em blocos operatórios não tem salero nenhum. Pois é, habituem-se.
Escutem a voz do mercado. Ou seja, os investidores estão dispostos a financiar projectos estatais, mas não projectos privados. Aos estúpidos, como eu, foi pacientemente explicado que os mega-projectos do governo PS iriam todos ser suportados pelos privados. E agora?
posted by FNV on 7:02 da tarde
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BIGORRILHA, BIGORRILHO, BIGORRUPTO E BIGORRECO:
Anda por aí uma crise de letras. Fala-se nos muitos "artistas e jornalistas que receberam casas da CML" , mas os nomes não aparecem ( exceptuando o de Baptista Bastos). É estranho porque os jornalistas são muito bons quando querem. Com Sócrates até desenterraram uma cópia de um ponto de inglês dos anos 80.
posted by FNV on 4:23 da tarde
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JOHN ASHBERRY, SEMPRE:
Can you walk? I asked. Sure I can, it said. I'll walk with you a little way. We can talk about love and play and the ocean that is always next door.
That's not quite right I said. Sure the ocean keeps pace with us. It would lose our respect if it didn't. Mainly it just wants to be here and loyal.
Os verdadeiros, os da Bayer, os das casas de Lisboa.
posted by FNV on 12:20 da tarde
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DIA MUNDIAL DA RAIVA:
Foi ontem. Que raiva. Perdi as comemorações, mas contaram-me o que se passou: Sarah Palin exorcizou sete demónios que estavam alojados no nariz de uma eurodeputada. O Papa ressuscitou Dante e almoçaram beringelas recheadas. Vinte africanos foram pescados ao largo de Cádiz: traziam pérolas na barriga. Um homem entrou numa escola secundária em Estugarda e matou vinte e oito livros; dois ficaram gravemente rasgados. Por cá foi tudo mais calmo. Manuela Ferreira Leite foi atada a um pelourinho em Gaia e obrigada a falar durante seis horas. Alberto Martins casou-se com Alberto Martins, naquele que terá sido o primeiro casamento esquizo-sexual registado no nosso país. Se o leitor tiver tido conhecimento de outras comemorações, faça o favor de acrescentar.
Jogámos pelas faixas quando pudemos ( Jorge Ribeiro não dá mais e Maxi, pese o raide da 1ª parte, não é lateral) e até foi de esguelha que Reyes marcou. Quique talvez tenha finalmente entendido que Amorim não é um médio-ala; às vezes não faz mal partilhar ideias com o resto da sociedade. Quim safou-nos. Mas os problemas continuam. Entre outros,
1)Martens, como lhe chama o treinador, continua convencido de que decidir sempre depressa é decidir sempre bem, e eu continuo convencido de que o moço é um trapalhão profissional. 2) Luisão, o tal da "visão panorâmica lá atrás", vai regressar. É uma pena não lhe podermos arranjar um lugar na Lua e um telescópio.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.