Isolamento salazarista e granel revolucionário: lá se foi meio século. O dinheiro da CEE, ( que julgámos ser para gastar como nos aprouvesse talvez como reparação histórica pela perda de Malaca e da Ilha de Moçambique): mais vinte anos de tripa forra. Veio a crise. O que se fez: costuras excêntricas ( não necessariamente mal feitas) - energias renováveis, novas tecnologias, liberalização de alguns costumes. Talvez a excessiva unidade linguística e religiosa, que anulou confrontos sangrentos e rupturas demolidoras, tenha impedido o desenvolvimento do espírito de cooperação. Os psicólogos sociais ( Moscovici e Doise, por exemplo) gostam de dizer que o conflito aumenta a possiblidade de se atingir um acordo. A ideia é que quanto mais discutirmos e divergirmos mais sólida será a solução escolhida. Isto explica por que motivo os tenebrosos planos jacobinos do século passado falharam espectacularmente. Mas também ajuda a perceber por que motivo um povo que cala as diferenças ( seja por conveniência, ignorância ou receio) exibe enormes dificuldades em conseguir soluções duradouras e ajustáveis à realidade. Espero que MFL não tenha medo de partir a louça nas semanas que se vão seguir. Pode custar-lhe as eleições, mas não lhe pesará o país.
Your task is to entertain. Foi esta a resposta que uma candidata recebeu de uma assistant director of studies de uma escola inglesa de jornalismo. A candidata , mulher de um mineiro, submeteu dois artigos sobre a vida dos mineiros, mas a assistant director não se comoveu: "Ninguém quer chegar a casa, cansado e aborrecido, e ler sobre os problemas dos outros". Isto passou-se em 1944 e foi Orwell que o contou no Tribune. O que o deprimiu foi o facto de as "bombas não terem servido de nada", de tudo ter continuado na mesma. E nós por cá? Tudo como dantes em Abrantes.
O Max foi viver com o João. Adoptaram uma criança, o Martim, com um ano de idade. Passado um par de anos, o Max conheceu o Tiago e deixou o João. Divorciaram-se e escolheram a guarda conjunta do pequeno Martim. Entretanto o João arranjou a sua vida e casou-se com o Pierre. Hoje em dia, o pequeno Martim divide o seu tempo entre a casa do Max e do Tiago e a do João e do Pierre. Tem quatro pais ( dois adoptivos e dois padrastos) e nenhuma mãe. Esta situação é , para alguns, sinónimo de "progresso civilizacional".
Com O'Neill em itálico. Mendespintando por aí: muita gente empenhada, que sabe "escolher" lados, que se "assume", que "ousa lutar". Então boa sorte e não carreguem nos coentros. Quando o blogger trabalha é pior do que quando destrabalha.
posted by FNV on 9:38 da tarde
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TUDO AO CONTRÁRIO (I):
Jared Diamond, num livro essencial ( Colapso - Ascenção e queda das sociedades humanas) , percorre várias tristes histórias. Pelo meio ( quase no final para ser franco) , alinha as quatro principais razões da desgraça: ignoramos o problema, não o ignorando não lhe atribuímos importância, não o queremos resolver, não o sabemos resolver. Em Portugal, caiu em cima da pobreza, que já havia, uma crise mundial. Quando esta se for embora, vai ficar a pobreza que estava mais a que se criou. A eleição de MFL terá pelo menos três vantagens: a de encarar o problema, a de reconhecer a gravidade do problema e a de querer resolver o problema. Acredito que o PS pense saber resolver um problema, mas estará certamente a pensar noutro problema qualquer. Não sou economista, por isso o que escrevo tem o peso da mera opinião anónima. Já há muito tempo que aqui digo que me parece estranho querer instalar ar condicionado automático numa casa que está a arder. Não me parece bem. Nem a mim nem aos outros homens da rua como eu. E somos nós que contamos, não é? É do nosso país que estamos a falar, não é? Quanto ao PSD, também visto de fora, nenhuma surpresa. Um puro exercício de autoridade a escolha de A. Preto: só vale o que custa mantê-lo. Uma cruel manifestação de hipocrisia: a candura de L.F. Menezes numa altura em que, por coincidência, tem um filho nas listas de deputados. O país convive razoavelmente com estas inutilidades - recordo-me de uma vez me terem explicado por que motivo um fulano "ia a deputado" por Coimbra: Já colou muitos cartazes.
Os ingleses vêm para o Algarve beber cerveja inglesa, ler jornais ingleses, ver televisão inglesa, comer salsichas inglesas, dançar com ingleses. Razão tinha Debord quando falava do turismo como o prazer de ir ver o que se tornou banal; mais razão tinha quando apostava que roubámos à viagem o tempo e a realidade do espaço.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.