BE AWARE: Uma das lições a retirar do caso de Felgueiras é a urgente necessidade de modificar o regime de financiamento da actividade política e a sua fiscalização. Desde o início da nossa democracia, este é um daqueles temas em que não interessa tocar e do qual se deve falar em voz baixa (esta regra tem sido apenas quebrada por honrosas excepções como a do Abrupto JPP).
Independentemente de o financiamento ser apenas público ou também privado, importa sobretudo consagrar o princípio da obrigatoriedade do total disclosure. Só forçando quem financia e quem é financiado a declará-lo, penalizando-os em caso de incumprimento (com penas de prisão, se necessário) se poderá melhorar a "qualidade da nossa democracia", expressão com a qual alguns enchem a boca, mas para a qual pouco contribuem. Se há coisa para a qual o Estado devia servir era para dotar de meios (financeiros e outros) as entidades públicas ou privadas que se entenda deverem controlar e fiscalizar esta informação.
Desta forma, os cidadãos poderão votar conhecendo não apenas os programas políticos, mas também os interesses que tendencialmente os partidos representarão ou defenderão. Poderão então aplicar uma serena vigilância e punir eleitoralmente quem grosseiramente beneficie os seus financiadores.
Infelizmente a recente tentativa de reforma do sistema político (que provocou acesa discussão na blogosfera) concentrou-se em intromissões na vida interna de alguns partidos e na discussão se o financiamento deve ser público ou privado, abrindo porta a um grand final de gritaria geral e demagógica.
Hoje é a Sra. Dona Felgueiras mas se o Ministério Público e a PJ lhe tomam o gosto, amanhã pode ser grande parte da classe política. Não gostaria de ver pessoas em que admiro qualidades políticas e a quem o país muito deve serem achincalhadas por falhas de um sistema que é um buraco negro e sem fundo. Se não agirem agora, depois não se venham queixar.
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