DEUS E CÉSAR: Um dos assuntos quentes do debate sobre a Constituição europeia é a questão religiosa. Giscard d'Estaing é um lídimo representante da direita católica francesa (por contraposição à gaullista, mais nacionalista mas também mais laica). Encontra-se actualmente debaixo de bastante pressão: o Vaticano, os cristãos-democratas alemães e europeus e até a sua base de apoio francesa sustentam que a matriz cristã da Europa deverá ser incluída no texto. Optou-se, para já, por menções menos polémicas às civilizações gregas e romanas como base cultural da Europa.
Reconhecemos a matriz cristã da Europa, onde aliás nos revemos, mas temos como princípio que "a Deus o que é de Deus e a César o que é de César". A panóplia de credos e religiões do espaço europeu aconselham alguma prudência nesta matéria. Esta variedade só tende a aumentar, com alargamentos e imigração crescente que se vai verificar por mais que a União Europeia controle as suas fronteiras. Somos da opinião que se deve afirmar o projecto europeu como laico, com uma total separação entre religião e estado. E mais, pensamos que esta deve ser a posição de todos os que têm um pensamento liberal.
É que o problema não é a mera menção no preâmbulo do texto (pode até argumentar-se com razoabilidade que ela é justificável), mas sim ao que é que essa menção corresponde. A medir pelas infelizes declarações de Giscard d'Estaing a propósito da possível adesão da Turquia, a construção europeia é interpretada por alguns como um exclusivo da cristandade. Ora bem, se há coisas de que nos orgulhamos e constantemente invocamos, nomeadamente quando analisamos e criticamos o mundo árabe, é da laicidade das nossas sociedades. Não pode ser outra a opção de quem defende e promove sociedades liberais e os ideais democráticos.
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