ESTÉTICA E POLÍTICA (1): A propósito de uma sua tradução de um Haikai, JPP avança a ideia de que, para a sua geração, as opções estéticas precederam a radicalização política. Este testemunho fez-me pensar se para a minha geração (nasci em 1970, no dia em que o Jimmy Hendrix morreu) estabelecer uma ligação tão clara entre estética e política fará sentido. Cresci, como quase todas as pessoas do meu tempo, habituado a assistir à glorificação estética e política dessa década. A ruptura geracional que o 25 de Abril também trouxe, fez com que muita gente que era jovem nos anos sessenta ascendesse a lugares e cargos de influência política, económica, cultural e social. Como resultado, as pessoas da minha idade tornaram-se consumidores precoces e forçados de horas infindáveis de discos dos Beatles, do Jacques Brel, de música de intervenção em geral, de poesias anti-guerra colonial ou Vietname, de horas de documentários sobre o flower power, dos livros do Jack Kerouac, e de glorificações de seres esotéricos e profundamente desinteressantes como o Tim Leary. Os anos sessenta foram-nos impostos como anos irrepetíveis e extraordinários. Hoje, com uma visão mais clara sobre esse tempo, penso apenas que éramos vítimas forçadas de doses maciças de ataques nostálgicos de meia idade.
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