ESTÉTICA E POLÍTICA (3): Ouvir os Joy Division (nome sugestivo) e o seu desencanto suicida, seguir os U2 e a sua postura contestatária mais pragmática (contra repressões específicas ou temas parcelares como o ambiente), curtir os Talking Heads ou os Smiths ou idolatrar os Nirvana e o seu niilismo heroínomano são as marcas de quem foi adolescente entre 80 e inícios de 90. As crónicas do MEC, os poemas do Pedro Ayres de Magalhães com as suas declarações de amor a Portugal, sem medo de serem consideradas nacionalistas, ou o surrealismo de um Reininho foram em Portugal as rupturas estéticas com a herança dos anos sessenta. Ser muito mais anglófilo e menos afrancesado é uma marca indelével das diferenças entre a minha geração e a dos anos sessenta. Refira-se que falo mais de música do que de literatura porque, pela sua massificação, o poder da música como referencial estético é hoje muito superior ao dos livros, mas isso já é outra conversa.
Ser vanguardista (gostar dos Telectu ou dos Pop Dell'Arte ou de espectáculos de performance ou de música tecno-industrial alemã - consagrada através do techno dos Kraftwerk) passou a ser uma atitude estética, mas sem grandes consequências políticas posteriores.
Todos os movimentos contestatários da minha geração (PGA ou propinas) tinham como motivação mais funda a mobilização de sentimentos corporativos, de defesa de interesses próprios. Esta diferença é clara e motivou uma barreira intelectual na interpretação do que se passava - alguns cavaleiros andantes do Maio de 68 projectaram o seu quadro mental (que entende que os jovens têm sempre vontade de mudar o Mundo como eles tiveram, felizmente com insucesso), apelidando-os apressadamente de geração rasca.
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