NAIPAUL: V.S. Naipaul é um dos raros exemplos de escritor conservador com sucesso global. Li este fim de semana Half a Life (Uma vida pela metade) um dos seus livros mais recentes. Caribenho de origem, emigrando para Inglaterra com 18 anos tem sido ao longo da sua vida um viajante pelo mundo inteiro.
Em Half a Life está permanentemente presente a noção de desenraízamento que atinge todos os deslocados (imigrantes ou colonizadores), bem como a fuga em frente de quem, querendo fugir às suas origens e ao seu destino, nunca encontra um contexto onde se sinta integrado. De quem sentindo revolta pela sua condição acaba por levar uma vida frustrada e vazia - ironicamente até o nome do protagonista (Willie Sommerset Chadran) é metade emprestado de um grande escritor inglês (Sommerset Maughan). A sua errância sem sentido leva-o a viver uma vida na sombra, em comunidades de imigrantes (em Londres) ou de colonizadores (em Moçambique), numa espécie de limbo de onde observa o mundo que o rodeia, mas ao qual sente não pertencer.
O livro é especialmente curioso para nós portugueses, uma vez que toda a segunda parte se passa no Norte de Moçambique, num tempo de desmoronamento da vida colonial e de alteração das relações de poder aí existentes: os colonizadores percebem então que pertencem à terra de ninguém (não querem voltar à metrópole, mas assistem dolorosamente à tomada das terras pelas populações indígenas). O livro é escrito com subtileza: o drama pessoal de uma vida vazia e inútil de errância projecta-se na vida de imigrantes e colonizadores, que se apercebem dolorosamente serem estranhos ao local onde vivem há gerações. Tudo isto através de descrições de quem se coloca à margem dos acontecimentos e sem tiradas panfletárias - quer Gandhi quer os movimentos de libertação colonial são tratados de forma absolutamente neutral, para não dizer crítica. A não perder.
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