EUROPA: JPP assina no Público um interessante artigo sobre a proposta de Preâmbulo da Constituição Europeia. Este artigo remete-nos para uma discussão (ou um equívoco ?) que chegámos a manter com JV do No Quinto dos Impérios relativamente à inclusão da menção da herança cristã da Europa neste texto.
Começo por dizer que estou totalmente de acordo quanto ao lamentável afunilamento e sectarismo ideológico que a ausência de menções às tradições democráticas anglo-saxónicas e americanas revelam. E que estas omissões são inaceitáveis. Já quanto à menção da herança cristã ela deve ser vista não só pela dimensão histórica que a justifica (indiscutível, como JPP bem expõe), mas também pelos seus efeitos políticos futuros.
Considero que uma futura inclusão da Turquia na União Europeia era politicamente útil e estrategicamente importante. Bem como a de alguns estados bálticos que não são maioritariamente cristãos (como a Albânia, por exemplo). A experiência recente das guerras jugoslavas e do 11 de Setembro recomendam que se leve a sério um cenário de "guerra das civilizações" como o descrito por Huntington. O alargamento da União Europeia, com as suas exigências de respeito pela democracia, pelos direitos humanos e pela promoção do desenvolvimento económico e social nessas áreas que significa, seria certamente um atenuante destes riscos.
Ora bem, se a inclusão da herança cristã for efectuada de tal forma que torne a Europa num clube exclusivista cristão e impeça o seu alargamento a países ou regiões maioritariamente muçulmanos, eu sou contra. Alguém me explica porque pode a Turquia (esse país tão atlântico...) pertencer à NATO e não à União Europeia (cumpridos como é óbvio os critérios de adesão) ? E os Balcãs vão ser deixados à sua sorte, para serem palco e terreno de intolerância religiosa e de líderes sem escrúpulos democráticos, representando uma ameaça permanente à segurança da Europa ?
Estas questões ilustram a leviandade com que todo este processo tem sido conduzido desde o início. É que o problema de uma Constituição Europeia não é apenas o que revela aquilo que lá não está dito (como JPP ilustra), mas também os efeitos que resultam do que aí se consagrar. Em ambos os casos tudo isto cheira demasiado a engenharia social e política. O que como se sabe é a melhor receita para a asneira.
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