UMA GUERRA ÀS NOSSAS PORTAS: Vivo numa zona de díficil estacionamento. Durante anos tive um contrato com o Pedro, um arrumador toxicodependente que literalmente mandava na rua, a quem pagava uma quantia fixa por semana e que me garantia paz, sossego e lugar cativo na chegada a casa (todos os vizinhos participavam neste esquema). Graças aos esforços de uma vizinha bem formada e ao contributo financeiro de todos o Pedro foi fazer uma cura. Passou a imperar na rua a lei da selva. Quando parei o carro há pouco, dois prestimosos arrumadores envolveram-se em pancadaria para disputar a minha contribuição.
Para os castigar, não paguei a nenhum. Não sei antes explicar, veementemente e em português de rua, que com este tipo de atitude só se prejudicam com f grande. Provavelmente amanhã o meu carro vai ter as marcas da minha presunção pedagógica. Pergunto-me como é que, aos poucos, nos fomos habituando a viver no meio da anormalidade. Entre cadáveres adiados chantagistas, soldados e vítimas de uma guerra sem quartel quotidiana. A droga é, de longe, o maior flagelo da vida moderna. E eu que sou um rapazinho um pouco viajado e que tem visto muitos amigos passarem para esse twilight zone, tenho esta certeza empírica: tem em Portugal uma expressão muito maior do que noutros países com os quais nos gostamos de comparar.
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