AINDA A MORTE: e a relativização do tempo. Quando vamos de avião ao outro lado do mundo sofremos de jet-lag. Ou seja, entre outras coisas, o nosso ritmo interno está desfazado do tempo social do local que nos acolhe. Assim, à hora em que os japoneses estão a dormir apetece-nos almoçar. Deveríamos, somatossensorialmente falando, estar a almoçar.
As perdas obrigam-nos por vezes ao jet-lag: às quintas feiras costumava jogar ténis com ele. Hoje é quinta-feira. Estou em casa. Estou a jogar ténis, somatossensorialmente falando. Esta é uma das subtilezas das nossas recordações de quem morreu e que amávamos. A morte de uma dessas personagens interrompe um ritmo estabelecido e com o qual nos sentíamos confortáveis.
Por isso é terrível quando são crianças que perdem, por exemplo, um pai ou uma mãe. Ao contrário dos adultos, esse ritmo é mais de segurança do que prazer. Já não se trata de jet-lag no Japão: é mais parecido com aterrar em Marte.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.