A AMÉRICA: Comecemos pelo tema as Duas Américas. O nosso querido amigo PC lançou esta distinção. Brilhantemente como sempre. Mas a sua intenção era mais a de provar que nada o move contra a América, mas sim contra esta Administração. Que até gosta de algumas facetas da América. Que partes da sua cultura são referências suas. E se esta intenção é tacticamente compreensível (não vá a gente pensar precipitadamente que é o sistema económico e o liberalismo da sociedade americana que o fazem não a apoiar) mas é incompleta, simplista e como tal uma mera mistificação. Não há duas américas, há múltiplas facetas da América.
Apenas como ilustração gostávamos de mencionar que o Kennedy da América de PC e da esquerda europeia lançou os Estados Unidos na sua guerra mais aventureira deste século: o Vietnam. Há por aí um cineasta que acha que o mataram porque entretanto se tinha arrependido - tudo conjecturas no mundo das boas intenções, no esquema mental do nós e eles.
Quem terminou com a escravatura foi o Partido Republicano (o partido de Lincoln). O governador que, nos anos 60, proibiu estudantes negros de frequentar universidades, provocando a ira e explosão do movimento dos direitos civis, era democrata, do Alabama.
A verdade é que existe apenas uma América - onde coexistem Noam Chomsky e Wolfowitz. Pacifica e democraticamente. Que George W. Bush ganhou as eleições com uma agenda de compassionate conservatism, que se traduz no respeito pelos direitos das minorias (aliás de outra forma seria impossível ser popular no Texas, onde grande parte da população é imigrante.
É óbvio que a América não aceita o Estatuto de Roma porque sabe onde isso irá dar. Refira-se a talhe de foice que é curioso que as mesmas vozes que atacam domesticamente (e por vezes muito bem) os supostos desmandos do juíz Rui Teixeira idolatram o justiceiro global Garzón. Será que há por aqui dois pesos e duas medidas ? (do que lhe conheço, acho que o nosso PC está absolvido deste pecadilho).
É por a realidade ser mais complexa do que as análises simplistas ou os artíficios argumentativos, que nas horas graves nos devemos refugiar no que é perene e historicamente comprovado. A nossa (portuguesa) amizade e aliança com a América. Os amigos são para as ocasiões. Para estarem lá nas horas díficeis (e os tempos pós-11 de Setembro têm sido bem duros). Para poderem discordar e aconselhar (como no caso de Guatanamo). Não para discorrerem sobre se acham que os americanos deviam ter escolhido o presidente A ou B. Ou se a América de C nos cai melhor que a América de D. Muito menos para condicionar os seus apoios em função dessas opiniões. Ou se acredita no sistema democrático das nações nossas amigas ou não. O resto é fumo e espuma para esconder preconceitos ideológicos e anti-americanismos antigos. Espontâneos. Ressentidos.
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