DON'T MENTION THE WAR!: O incidente Berlusconi tornou-se subitamente no assunto fundamental da União Europeia. Creio que o fenómeno é muito mais complexo do que parece. Suspeito que vou ser muito mais "de direita" (seja lá o que isso quer dizer) do que o resto da tripulação do Mar Salgado neste ponto, mas tenho que dizer o seguinte:
Primeiro: embora não goste de Berlusconi nem do que ele representa, não acho que seja caso para se falar de um "Orror di patria". Foi uma intervenção descortês, deslocada, tal como o discurso de Schulz sobre os receios de contágio da União com os "vícios" italianos - mas o Parlamento Europeu é um órgão político, sujeito às vicissitudes da vida política (como se demonstrou, aliás, com a vergonhosa exibição da sua ala esquerda durante o discurso de Berlusconi). A resposta de Schulz, invocando o respeito pelas vítimas do fascismo, suspende-me, lembrando-me o fabuloso cartoon do grande Reiser "Ach, la guerre, gross malheur".
Segundo: é tempo de os alemães saberem conviver com a menção ao regime torcionário do Reich. No século XXI, no contexto daquela luta política, é inadmissível que o Estado alemão reaja a essas referências como se alguém tivesse saltado para a cueca da sua única filha virgem. Essa é uma atitude que me enoja e revolta há muito tempo e que, hoje, não tem a mínima razão de ser. Aconselho a todos a (re)visão do hilariante episódio da série Fawlty Towers "The Germans", de onde tirei o título do post.
Terceiro: No momento em que se discute uma Constituição para a Europa (Vital Moreira, Jorge Miranda), não é despiciendo notar como questões desta natureza são capazes de criar atritos (ao que parece, tão graves) entre os povos europeus e os seus representantes. Nem se diga que isso se deve, apenas, ao carácter "anormal" de Berlusconi, pois o bobo apenas deu voz a ressentimentos calados que estão gravados no coração da "Europa profunda". Se qualquer Constituição aspira a (tem de) ser um instrumento de consenso mínimo, reflictamos um pouco sobre um "povo europeu" (?) que se deixa partir desta forma.
Quarto: Não vejo que ligação pode ter o incidente Berlusconi com a "paixão cega" da esquerda, com o referendo da regionalização, ou com a governação socialista no Portugal do fim dos anos 90. Mas estou certo de que Neptuno, na sua divina sabedoria, esclarecerá o seu críptico post tão brevemente quanto lhe seja possível.
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