HEBDOMADÁRIO DE BORDO III - COIMBRA NA BD: Estava mortinho por falar disto. Mas só hoje visitei o lugar do crime. Vou tentar arrumar as emoções.
Informação: o Museu de Física da Universidade de Coimbra apresenta a exposição com o nome do título (já comentada num post do Beco das Imagens, que parece estar, de momento, inacessível). O cartaz, da autoria (nada mais, nada menos) de F. Schuiten, pode ver-se aqui. Para além do (mediano) interesse histórico da exposição, com exibição dos álbuns nacionais e estrangeiros que contêm referências a Coimbra, tem interesse especial a parte onde se mostra o processo de elaboração do esplêndido álbum de Étienne Schréder, "Le Secret de Coimbra" (1ª ed. belga, de 1991), já traduzido em várias línguas, entre as quais o português. À volta dela surgiram-me duas ideias:
A espiral do sonho: os responsáveis pela Europália de 1991, onde se exibiram os preciosos instrumentos de física dos sécs. XVIII e XIX pacientemente recuperados pelo Prof. Mário Silva (que Salazar aposentou vergonhosamente, aos 46 anos, por razões políticas, e a quem o PR prestou recente homenagem), pediram a Schréder que desenhasse quadrinhos explicativos para os objectos, de forma a que o (fabuloso) catálogo Mecanismos do Génio não ficasse demasiado pesado com as legendas em várias línguas. A partir daí, Schréder criou uma narrativa histórico-onírica passada na Biblioteca Joanina e nas salas hoje ocupadas pelo Museu de Física, criando não-lugares facilmente reconhecíveis, bem ao jeito das Cidades Obscuras de Schuiten/Peters (cuja genealogia começa nas Città Invisibili de Calvino, que me recuso a reduzir em link, e que geraram o extraordinário As Cidades Visíveis de J. Miguel Lameiras e J. Ramalho Santos). Hoje, esses não-lugares de papel ganham nova natureza ao serem expostos na presença secular e plácida dos objectos fantásticos que os inspiraram. Não deixem de atravessar a passagem secreta por onde entra o Dr. Buisen - essa realidade é real. E a espiral do sonho continua.
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