HUMAN, AND BEYOND (II): O que não gostei: o lado "estandarte-dos-oprimidos" dado pelas imagens projectadas por trás da banda (género lançamento de bombas entremeado com crianças famintas, agricultores orientais paupérrimos e índios desesperados por vender os seus produtos). Explico.
Sawhney assume-se como um British Asian, cuja identidade e história são definidas pelo próprio: "beyond politics, beyond nationality, beyond religion and Beyond Skin" (contracapa do CD com o mesmo título). Ora bem: o lugar da música de Sawhney é, justamente, o não-lugar que está para lá de todas aquelas formas de dividir o mundo. É aí que se cruzam os elementos étnicos e tecnológicos que tornam a sua música original e boa. Por isso, não tem sentido aquele "clin-d'oeil", através daquele infeliz expediente, aos movimentos engajados. A música de Sawhney não é a música de Dylan, nem (felizmente) a do Sting mais recente: ela vale sobretudo como produto estético. Querer torná-la em mensagem através da projecção simultânea daquelas imagens não beneficia a fruição do produto, é politicamente inócuo (como se vê pelo presente post) e, sobretudo, nega o (não-)lugar que lhe dá sentido, porque aprofunda as divisões que pretende transcender.
Que Sawhney queira expressar as suas ideias pacifistas e anti-racistas nas letras das suas músicas (como em Broken Skin), óptimo; que profira palavras inconvenientes quando recebe prémios, é com ele; se vier a adoptar o seu próprio índio Juruna, já é mau sinal; mas que não estrague as suas performances ao vivo com a sobreposição de imagens que são, afinal, incongruentes com a mensagem mais importante da sua música.
PS: Esportulei pelo ingresso 22,50 euros. Não consta que o produto da venda reverta, sequer em parte, para as personagens captadas nas imagens projectadas.
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