O GULAG DE GUANTANAMO II: As críticas da ala direita da tripulação do Mar Salgado (NMP e Neptuno) ao meu post , claras e esperáveis, dão voz, ao menos em parte, aos meus mais fundos receios.
Primeiro: não presumi coisa alguma - apenas dei testemunho da minha curiosidade acerca do modo como os auto-intitulados "liberais" reagiriam aos factos. E já tive a resposta: uma certa "compreensão" (Neptuno) porque a América (ainda) "está em guerra" (NMP).
Segundo: confirmam-se as minhas piores expectativas relativamente à grande confusão que reina entre "liberalismo" e "anti-comunismo". Insisto: liberal não pode ser o eufemismo fashionable que designa todo o anti-comunista. Para um liberal, a medida dos direitos não depende de se ser "terrorista" ou "cidadão" temente e respeitador. Para um liberal, o estatuto de "combatente fora-da-lei", como jeito de contornar as garantias individuais dadas pelo direito internacional e pelo direito do próprio país (!), é uma farsa. Por isso falei, não em "caricatura", mas em "caricatura obscena".
Terceiro: é surpreendente que as críticas ao meu post se esforcem por mostrar que o regime democrático ocidental permite liberdades que não seriam consentidas em Cabul, Bagdad ou Teerão! Essas afirmações são irrelevantes para o problema, que se centra no seguinte: os processos de Guantanamo correm o risco de ser o mais grave atentado aos direitos individuais perpetrado por uma democracia ocidental depois da guerra e devem ser, por isso, inequivocamente condenados. Deveria ser óbvio que não desejo os standards de direitos daqueles países - desejo apenas o respeito pelas garantias que criámos para nós próprios, numa história escrita com sangue. Aqui, creio que NMP converge, ao concluir que o sacrifício da justiça seria uma vitória dos terroristas - de todos os terroristas.
Quarto e último: como alguém disse a outro propósito, ninguém tem um diploma de democrata (nem, acrescento eu, de liberal); nem esse é um emblema que se exiba no peito - é um exercício de todos os dias. E é nestes momentos-limite (garantir os direitos dos inimigos dos direitos) que é bom saber de que lado estamos. Sem ambiguidades.
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