O SANGUE NÃO É TUDO: De todas as perdas, as piores são as de sangue. Um corte com o pai, com a mãe, até com um irmão, instala uma espécie de desconfiança básica. Um filho que se despede da mãe ainda em vida, altera a ordem das coisas, tanto quanto um pai que enterra um primogénito. Mas a ruptura em vida, rema contra a lógica do sangue, dá-nos a impressão, por mais certos que estejamos, de navegarmos contra a nossa própria rota. São raros os casos, mas não menos sanguíferos, et pour cause. Se quem nos criou, criou-nos mal, e daí a ruptura, somos inevitávelmente mal criados. Como regressar?
No fundo, como no luto, há um longo trabalho de reconstrução pela frente. Como na cidade bombardeada, há que voltar a pôr tijolo sobre tijolo, há que voltar a afixar o letreiro com o preço do pão. Mas não nos larga uma sensação de desperdício. De anos de vida.
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