PONTO DE ENCONTRO: Ao contrário de grande parte da blogosfera, nós não nos consideramos filhos do MEC. Educar gente como nós deu muito trabalhinho, muita arrelia, muita noite sem dormir, muitos cabelos brancos. Para, por dá cá aquela palha, nos apresentarmos ao Mundo como filhos de alguém que nem sequer conhecemos. A gratidão é muito bonita. E a gratidão filial é, antes de mais, um acto de elementar justiça e de nobreza de carácter. Não deve ser desvalorizada em trocas de piropos mediáticos, mesmo que apenas bloguísticos.
Mas o MEC fez e faz parte das nossas vidas, pelo menos desde o início da nossa adolescência. Primeiro como crítico pop. Que revolucionou a crítica musical. Que divulgou como ninguém em Portugal a new wave. Que nos introduziu por exemplo aos Joy Division. Que fez com que Portugal se abrisse culturalmente e respirasse um pouco da cena de Manchester dos anos 80 (o melhor do que então se fazia no mundo). Ao ver recentemente o imperdível 24 Hour Party People lembrámo-nos dele. Quando, por exemplo, relembramos temas dos Sétima Legião ou revemos a carreira do Pedro Ayres de Magalhães (sobretudo a fase Heróis do Mar) a sua figura tutelar está sempre presente.
Depois aprendemos a segui-lo com religiosa atenção. Primeiro aos sábados de manhã, nas suas crónicas no Expresso. No Independente. Até à experiência delirante que foi a revista Kapa. Nos seus livros de crónicas (confessamos a nossa ignorância quanto ao ficcionista MEC). Nas suas fugazes incursões políticas. Mesmo quando não concordávamos com ele, houve sempre algo que admirámos: a sua frontalidade e originalidade, a ironia inteligente e corrosiva (a sua costela british) e o sentido estético sem concessões. Os seus textos foram sempre marcados pela preocupação de serem bem escritos. Muitas vezes singularmente belos.
O MEC classificou este blogue no seu Pastilhas. Diz ser uma manifestação de "elegante e truculenta inteligência". A suposta elegância impele-nos a agradecer. A dita truculência leva-nos a desconfiar se isto será um elogio - há muito tempo que aprendemos a valorizar mais o carácter do que a inteligência. Mas no fundo isso é irrelevante. Porque fomos arrastados pela memória e pela emoção.
Tínhamos perdido o rasto ao MEC. Encontrámo-lo de novo no mar da blogosfera. Um destes dias ele escreveu que se sente excitado com os blogues. Como já não se sentia desde que tinha trazido para Portugal, clandestinamente, uma demo de um álbum dos Joy Division. E isso enche-nos de alegria. Pura. Adolescente. Para ele, saudações afectuosas e sinceras de velhos lobos do mar. Com um pedido na forma de um poema do Ian Curtis:
Morning seems strange, almost out of place
Searched hard for you and your special ways
These days, these days
Spent all my time, learnt a killers art
Took threats and abuse 'till I'd learned the part
Can you stay for these days?
These days, these days
Used outward deception to get away
Broken heart romance to make it pay
These days, these days
We'll drift through it all, it's the modern age
Take care of it all now these debts are paid
Can you stay for these days?
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