REVANCHISMO: Pensámos não voltar ao tema. Mas parece começar a surgir um pouco por todo o lado uma espécie de revanche dos sectores anti-guerra do Iraque. Os temas usados são as armas de destruição maciça, os presos de Guatanamo e o eventual conhecimento prévio dos atentados de 11 de Setembro pela Administração americana. Estes temas são diferentes entre si. Um é apenas um descabelado disparate (a questão do 11 de Setembro). A questão das armas de destruição maciça ocupa os espíritos mais formalistas, que apenas considerariam uma guerra com a declaração da ONU e provas vivas da existência destas armas (espera-se que não apenas com a sua eventual detonação). O problema dos presos de Guantanamo é um teste à capacidade americana de viver de acordo com os princípios que proclama e pretende exportar para o Mundo.
Mas na forma como todas estas questões são abordadas pelos sectores anti-americanos há um ponto comum. A visão conspirativa da América. Como a terra dos cowboys, sempre prontos a disparar. Onde o complexo político-militar esconde dos cidadãos a verdade. A alegria dos iraquianos perante a sua libertação não é nada perante a hipótese de sustentarem a posteriori esta sua visão. Talvez seja por isso bom recordar alguns factos básicos.
Estes debates têm ocorrido sobretudo na sociedade americana. Que é uma sociedade aberta, como muitos países europeus não são. Onde o público jamais aceitará que a administração lhes tenha mentido ou ocultado, relativamente a questões como as armas maciças. Onde nenhum governante poderia mandar colocar uma bomba num barco do Greenpeace sem ser investigado e sancionado, como os campeões da paz e do multilateralismo franceses fizeram. País onde o problema dos direitos dos presos de Guatanamo é discutido aberta e frontalmente. Onde não se coloca a hipótese de eliminação sumária dos suspeitos de terrorismo, como ocorreu com os membros do grupo Bader Meinhof.
Se se provar que Bush argumentou para lá do aceitável no debate político, mentindo e ocultando, não tenham dúvidas que será punido eleitoralmente. E outra administração entrará na Casa Branca. Que não hesitará em usar o poder americano para defender a segurança dos EUA. Que sendo democrata talvez até tenha um gatilho mais rápido (lembram-se do Vietname, da Somália ?). E caso haja mais ataques da Al-Qaeda em solo americano, essa nova administração irá reagir de forma dura - talvez até sem a mesma contenção da administração Bush (Clinton bombardeou o Iraque sistematicamente durante oito anos, bem como os campos de treino da Al-Qaeda). E se a Al-Qaeda resolver mudar de destino e atacar na Europa, a quem é que os senhores pensam que os governos europeus vão pedir ajuda ?
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