RUI RIO PARTE II: Continuando a importunar eventuais leitores, insisto no tema. É sintomático que os primeiros anti-corpos que Rio criou tenham sido segregados precisamente pelo futebol.Um bairro e um clube sintetizam uma coutada do não-lugar político, por isso me divirto com as preocupações acerca da promiscuidade entre estes dois mundos. O lugar da política é o lugar da discussão, é o berço da koinonia politon, a comunidade de cidadãos. Na sua origem grega, a democracia estabeleceu-se contra os privilégios de casta, substituindo o sangue pelo lugar de nascimento, o demos. Mas o recenseamento visava a inclusão dos cidadãos na koinonia, explicando-lhes que não existem ilhas de decisão: a cidade é de todos.
Já sabemos que metecos, escravos e mulheres não faziam parte deste pequeno mundo, mas isso faz parte do aperfeiçoamento instrumental da coisa. O essencial na horda do bairro e da bola é que esta se comporta como um psico-útero que se coloca para lá da comunidade, como se existisse numa outra galáxia: alimenta-se ela própria dos mecanismos de regulação que cria, ingerindo do exterior o que a cada momento lhe convém. A relação da horda com os seus filhos permite ingeri-los, se necessário. Estaline enviava para a Sibéria os seus soldados que libertava dos campos nazis, porque tinham estado expostos à influência da propaganda do Reich, residualmente ocidental. Pode-se trocar de tudo menos de clube, não é?
Voltaremos a este assunto, assim o permita o salgado mar.
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