AGENDAS: Concordo apenas parcialmente com o que o Paulo Gorjão afirma no seu Bloguítica Nacional, a propósito dos temas discutidos na blogosfera. Existe de facto uma tendência para o rebanho, ou seja, para discutirmos todos os mesmos temas. Mas a blogosfera permite, ainda assim, uma diversidade que não existe em muitos outros campos comunicacionais da nossa sociedade. Eventualmente o post do nosso amigo Paulo Gorjão é, apenas e só, uma manifestação de desalento por a blogosfera ainda não ter atingido uma dimensão e profundidade que lhe confira caracterísicas de diversidade e originalidade apreciáveis. Ou seja, estamos ainda longe de explorar todo o potencial deste meio.
Mas este facto está longe de ser um exclusivo da blogosfera. Os fenómenos de imitação e de rebanho existem com bastante maior frequência nos media tradicionais. Exemplo paradigmático é a discussão em curso nos jornais, a propósito do estudo do Instituto Ricardo Jorge sobre as mortes induzidas pelo calor. É um caso típico de agenda mediática importada.
Já há alguns anos que estes argumentos são apresentados. Nunca ninguém lhes ligou - até porque algumas das conclusões são, no mínimo, discutíveis (não entrarei nessa discussão, porque não falo do que não sei. Aos cientistas o que é dos cientistas).
Mas este ano houve algo de novo: em França, devido à vaga de calor, verificou-se um colapso do sistema de saúde. Os supostos mortos do calor levaram à demissão de um director geral e a uma crise política.
Pressurosos e originais, os nossos jornalistas de investigação (?) lançaram-se na divulgação e análise do supracitado estudo. E agora passaram à fase B: onde estava o Ministro da Saúde ? O sistema de saúde está preparado para estas situações ? De quem é a culpa ? Etc. e tal, até às previsões de crises políticas. O curioso é que começa num ou dois jornais e de repente alastra-se a todos. Confesso que não consigo concluir se isto é fruto de preguiça, se de falta de assunto.
Na blogosfera pode-se discutir mais uns temas que outros, mas ainda há espaço para a diversidade. Mais grave é que os jornais definam a sua agenda em função uns dos outros e do que antes se passa noutros países. Se em França não tivesse havido uma crise política, ainda hoje o Dr. Costa Alves estava a falar sozinho.
P.S. - Admito que seja um pouco cruel fazer estas considerações a propósito de factos que incluem a morte de pessoas. Mas não é certamente mais cruel que alguma da manipulação mediática a que vamos assistindo.
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