CIDADANIA: Em recente conversa com um cidadão ucraniano, com perto de quarenta anos, residente em Kiev, fui atrás da minha curiosidade sobre a vida no leste comunista, efeitos da queda do muro de Berlim e posterior independência da Ucrânia. Não sei até que ponto o entrevistado constitui amostra válida mas, achei curioso que o grande (e único utilizado) termo de comparação era o carro. Os anos de trabalho que era preciso esperar para ter um carro, independentemente de curriculum, competência ou trabalho efectivo de cada um - exceptuando, obviamente, a nomenklatura privilegiada. Direitos, liberdades e garantias estariam em segundo plano e não eram tema tão presente como isso.
Esta realidade, por mais distorcida ou falsa que se apresente, representa bem o que é um país recém nascido ou recém libertado de um qualquer jugo totalitário. As pessoas almejam um determinado nível de vida que sabem existir noutros países mais avançados.
E também no Portugal pós-revolução, assegurado o básico (comida e derrota dos bolcheviques), o português preocupou-se com a sua casinha, com o carro da revista estrangeira e com a educação dos filhos (por esta ordem, mesmo!). Liberdade de pensamento, de expressão e de associação terão vindo a seguir e... stop! A certa altura do caminho para a cidadania os portugueses esbarraram com algo e voltaram para trás.
Esse algo poderá ser o facto da cidadania exigir a vida em sociedade. E ao sentirem a sua total impotência perante o "totalitarismo democrático" em que vivemos - que permite a durabilidade e rotatitividade em circuito fechado de gerações de políticos e respectivas organizações (?) sobre "obras" como o não funcionamento da justiça, saúde, emprego, habitação, etc. - os portugueses deixaram de acreditar nessa sociedade e viraram-se "para dentro". É o "safe-se quem puder"! O egoísmo impera e a cidadania tarda.
Será possível que os políticos não percebam que urge reformar e credibilizar as instituições democráticas, devolvendo o país aos portugueses e permitindo a construção de um - neste momento utópico - espaço de cidadania?
Será possível que não queiram?
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