NOTAS DE UM DIA NO DIVÃ: Querem ser felizes, acreditam que têm um sonho, querem cumpri-lo. Uns querem mais dinheiro, ou um filho doutor, outros uma mulher mais activa sexualmente ou um grande amor, outras ainda, um peito mais rijo. E vão vivendo, como podem, raramente como poderiam. O que é curioso é que a vida lhes vai passando ao lado, com mais ou menos fluoxetina. Verem um filho a rir, acordarem sem cancro, ou chegarem vivos ao outro lado do mundo, não lhes diz nada. Aquilo que já têm, ou que que lhes foi oferecido pelo destino ou pela graça divina, não tem metade do valor do que aquilo que acreditam que lhes é devido.
Talvez tenham percebido mal a oferta. Nos últimos duzentos anos, no Ocidente, as necessidades básicas foram geralmente satisfeitas, as pessoas julgando assim que devem aspirar à satisfação de outro tipo de desejos. Ficámos moles e moleques. Não é por termos mais coisas, hoje, que deixamos de ser básicamente egoístas, dominadores e viciosos. O que se passa é que já não precisamos de cooperar para a obtenção de coisas básicas: a independência da pátria, o direito a férias pagas, a possibilidade de fornicarmos com quem quisermos. Viramo-nos para essa abstracção que é a sociedade, e julgamos que ela nos pode dar a única coisa que nos falta: sermos algo completamente diferente.
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