O PRIMEIRO POST DE EDUARDO PRADO COELHO: A blogosfera tem discutido com frequência a relação entre os blogues e a chamada imprensa tradicional e, mais recentemente, o texto de Eduardo Prado Coelho no Público de ontem (dispenso-me de remeter para os blogues que o fizeram, pois seria mais simples elaborar uma lista dos que não comentaram o facto). Todavia, e com a devida vénia a todos, creio que o texto de EPC contém duas dimensões que ainda não foram totalmente exploradas.
Em primeiro lugar, apesar do muito respeito que tenho pelo colunista (embora prefira o crítico de cinema ao opinion maker; nunca esquecerei o artigo "A hipótese do anjo", sobre as Asas do Desejo, publicado no Expresso mais de uma década atrás, cuja cópia infelizmente se sumiu na selva dos meus arquivos), parece-me que a sua análise do fenómeno bloguístico deixa muito a desejar. Certo que é um texto assumidamente "didáctico", uma pequena introdução elementar à blogosfera para leigos. Mas a perspectiva de que parte é, a meu ver, errada, porventura prejudicada pelo mal-disfarçado despeito de EPC sobre os blogues e os seus autores, presente logo no título em pseudo-papiamento ("Blogue Blogue").
Tudo gira à volta da descrição dos blogues como "espaços (...) onde uma pessoa ou grupo de pessoas se sente autorizado a escrever" (itálicos meus), por contraposição à imprensa tradicional, onde vigoraria uma "complexa malha de legitimações", uma ascensão lenta e difícil e uma presença "assídua e responsável", que resultariam numa legitimação objectiva (estar autorizado a escrever).
Pois bem. Sucede que, como EPC bem sabe, não é verdade que a imprensa tradicional seja um mundo meritocrático; há lugar, como em todos os outros sectores sociais, para os parceiros ideológicos, os conhecimentos, os escreve-benzinho-e-é-filho-de-fulano-de-tal, independentemente do seu mérito pessoal. Depois, o blogger não tem um défice de legitimação (de estar autorizado a escrever) porque, pura e simplesmente, não precisa dela: não se enquadra numa instituição; não é pago pelo que escreve; não tem que respeitar uma linha editorial; não tem compromissos com os seus leitores, reais ou supostos; e, not the least, não produz ruído indesejado, ao invés do que sucede com a rádio e com a televisão (por que razão tenho de ouvir os comentários de Carlos Magno no táxi ou de gramar Conceição Lino na TV do restaurante?): é preciso procurá-lo na sua toca. Neste sentido, a comunicação na blogosfera é muito mais genuína e arriscada do que a da imprensa tradicional, porque a legitimação do blogger é, exclusivamente, pessoal(cont.).
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