PSICÓLOGOS: É verdade, licenciei-me e mais outras coisas em Psicologia. Como não fui maoísta nem comunista aos 18 (tinha suficientes Vidas Soviéticas em casa), considero tal empresa o meu erro de juventude. Hoje, exceptuando umas quantas técnicas básicas que qualquer um pode aprender, trabalho e bem no meu consultório, sem precisar da psicologia para nada. Claro que não me refiro a um punhado de ideias psicanalíticas bem apanhadas, mas à langue de bois do ofício. Vem este arrazoado a propósito do feito de um iluminado do Público de ontem, que resolveu dar como novidade um artigo publicado no Psychological Bulletin de Maio. E que diz o artiguinho? Que o conservadorismo é um aparelho cognitivo determinado pela biografia socio-psicológica do sujeito. Atente-se:
* no grupo dos conservadores, os autores, incluem Hitler, Mussolini e Bush.
* a doença explicar-se-ia através da inevitável infância do energúmeno, polvilhada de pais rígidos, mecanismos fóbicos de evitamento da ansiedade, incapacidade de aceitar a complexidade e relatividade do mundo
* o assertivismo moral, e a recusa de nuances emocionais descambariam para uma atitude dogmática e intolerante face à mudança.
Diga-se que o autor da peça abrange relativamente bem os esternutos da equipa de Jost, Glaser, Kruglansky & Sullowsy, que escreveram o Political Conservationism as Motivated Social Cognition. Mas resolveu dar-lhe algum salero, lendo, certamente por acaso, doença psicológica, onde está cognição socialmente motivada.
Várias coisas são interessantes neste estudo, a começar pela sua inutilidade. Dizer que algo, uma crença, uma representação, um sentimento é socialmente motivado equivale a dizer que amanhã pode chover: motivação social abrange todas as categorias e suas infinitas combinações que a cultura humana, ocidental, neste caso, pode produzir.
Mas percebe-se o que Jost e amigos pretendem: um tipo só é conservador se tiver tido uma infância orientada, ou seja, ser-se conservador não tem a dignidade de uma escolha adulta, como o filme da nossa vida ou a mulher que amamos. Assim, a segunda coisa interessante: se a orientação política é uma escolha da emancipação, o conservadorismo nunca pode ser nem uma nem outra. Será uma espécie de prolongamento da primeira e segunda infâncias, um legado da autoridade parental, impedindo o indivíduo de heideggerianamente, se lançar-no-mundo.
Pode o leitor achar estranho que a terceira coisa interessante que encontro no artigo seja o epíteto de conservador aplicado a maníacos revolucionários-utópicos como Hitler ou Mussolini. Acho sempre interessantes todas as formas, sobretudo as larvares, de propaganda.
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