RESPONSABILIDADE E POLÍTICA: A propósito dos recentes posts do nosso FNV sobre a novela dos deputados Elisa / Cristóvão, parece-me que o famigerado problema educacional deste país tem a sua principal origem na cultura de irresponsabilidade vigente, a qual foi alimentada e e fomentada pelos nossos políticos nos últimos vinte anos.
Esta "cultura" reflecte-se, entre outras coisas, na generalizada fuga ao fisco, em atropelos generalizados à lei na certeza da inexistência de uma justiça célere e eficaz e na forma como os portugueses encaram um contrato de trabalho sem termo - como uma reforma - e como os empresários encaram os seus trabalhadores - como os otários temporários que o vão ajudar a comprar um Ferrari...
Porquê responsabilizar os políticos?
Em primeiro lugar, porque nunca assumiram a justiça como uma prioridade, deixando que se degradasse ao ponto da moral actualmente vigente ser a do "crime não é roubar mas sim roubar e ser apanhado!"
Em segundo lugar, porque o exemplo (não) vem de cima. E, infelizmente, neste país, responsabilidade política é algo que não existe: quando fazem asneira, ou continuam "agarrados às cadeiras" como uma chiclete num sapato ou fogem a sete pés quando a bronca é incontrolável (PM's incluídos).
Em terceiro e mais importante, embora todos tenham a noção da falência do nosso sistema político no que toca à representatividade (com todos os inerentes problemas a jusante), nada é feito para mudar esta situação. Mais de 90% dos representantes dos portugueses não são sufragados pelos eleitores. Quantos portugueses é que conhecem os candidatos números dois e seguintes das listas distritais dos maiores partidos portugueses?
Talvez seja este o berço da irresponsabilidade que campeia na nossa sociedade: o (actual, note-se) parlamento. Com noventa por cento dos seus membros como meros algarismos, anonimamente escondidos atrás da cadeira, cujo único anseio é o de que a sua mediocridade lhes permita a discrição suficiente para não serem nunca responsabilizados por coisa alguma ou vítimas de sufrágio directo e que, a divina providência e o cacique partidário de que são tributários lhes conceda a graça da almejada reforma.
O resultado está à vista.
Atentas as consequências produzidas na sociedade em geral e atendendo ao facto de nada ser feito para mudar este status quo, a dúvida final consistirá em saber se a irresponsabilidade é uma consequência de determinada conduta política ou um instrumento ao seu serviço. É que, nada melhor para uma classe dirigente mediocre do que um eleitorado mediocre que lhe permita perpetuar-se no poder.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.