RESPONSABILIDADE POLÍTICA II (Réplica): O nosso atento leitor André Soares continua a sua discussão com Neptuno:
Caro Neptuno,
É essa facilidade em distinguir os “bons” governos do PSD dos “desastrosos” governos do PS que me desconcerta. Na minha opinião, são precisamente estes dois partidos que têm maiores responsabilidades no eternizar desta “democracia bafienta” em que vivemos. Não estão em causa medidas avulsas, que servem para “apagar fogos”, meramente casuísticas e tão prezadas pela voragem mediática. É justamente nesta voragem que se elegem governos e que outros caem em desgraça. Mas o problema é de fundo e passa por tópicos já referidos: ineficácia fiscal, lentidão e incerteza jurídica (ex: prescrições), desordenamento galopante do território, caciquismo local, cumplicidades políticas na administração pública, constante entrave à livre expressão e desenvolvimento da iniciativa individual e/ou privada (excessos de burocracia, compadrios, salamaleques excessivos, falta de promoção do mérito e da competência…), etc.
Mas isto já todos sabemos. O Estado funciona mal em muitos dos sectores que em que é obrigado a funcionar bem. E aí, nesse banho-maria em que vamos lentamente cozendo, a culpa é tanto do PS como do PSD. Não há ideias a longo prazo, não há reformas sensíveis, não há um projecto para o país.
Continua a existir o “tacho”, o “dá cá o meu”, o “primo do vizinho da cunhada do meu irmão”. Tudo está na mesma. É um problema de mentalidade. E enquanto os partidos se sentirem legitimados para continuar a perpetuar este sistema “ora agora mandas tu, ora agora mando eu”, continuarão a fazê-lo.
Reconheço que não há massa crítica, programa ou consistência suficiente fora destes dois partidos (leia-se nos outros partidos). Mas, tal como funcionam, eles não são bons, não servem. Já muita gente boa, competente, esclarecida e com ideias passou por PS e PSD. Muitos ainda por lá andam. Por alguma razão, não conseguem mudar a “mentalidade aparelhística”. Creio que são tragados pela “máquina”, pelas “bases”, pelos “militantes”… Porque, para serem coerentes, não podem ser populistas, consensuais, imediatistas…
O que me parece urgente é querer mais, exigir mais. Recuso-me a escolher o mal menor. Posso até admitir que este governo é melhor que o anterior, que por sua vez foi melhor que o outro e por aí fora. O que não admito é que, lentamente, Portugal seja um país cada vez menos agradável para se viver. Porque sou português e quero viver no meu País. E por isso voto em branco. É uma escolha, uma opção política clara. Pode ser que se revele ao País uma maioria absoluta de eleitores que não se revêem nos sucessivos governos. Gostava de ver os analistas do costume a comentarem uma maioria absoluta do voto em branco…
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