SÓ ISSO: No dia em que as televisões mostrarem o que se passa nos minutos imediatos ao rebentamento de uma bomba num restaurante ou num autocarro. No dia em que a camâra continuar a filmar e a escutar o fumo, a massa encefálica escorregadiamente exposta, as tripas, pequenos pés do mesmo dono estranhamente afastados, os sexos insolentemente soltos, os cepos, os gemidos, o silêncio. Nesse dia as vítimas dos atentados já não serão tão parecidas com as de um acidente de viação ou de trabalho. Até lá, parecer-nos-á sempre mais vil uma carga do exército sobre guerrilheiros de rua, um tiro disparado por um soldado sobre um civil, numa rua esconsa: foram assassinados.
Mas um atentado não mata ninguém. Um atentado é uma identidade indeterminada, não tem farda nem bandeira, não tem rosto. Um atentado escapa à expiação da culpa, e ao nome do autor, o que todos fazemos desde que matamos Sócrates e Cristo. E existe sempre a complacência natural. E existe sempre a possibilidade disforme de o moldarmos como quisermos: é o que o Dr. Louçã faz quando diz que o terrorrismo da ETA é a resposta ao terrorrismo de Estado espanhol, ou já se esqueceram?
Um atentado é uma tentativa, que por acaso saíu bem. Só isso.
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