AVANÇOS E RECUOS: Acabo de saber pela BBC World que o Não venceu na Suécia, no referendo de adesão ao euro. Sou um convicto europeísta e este resultado é portanto um desapontamento. Os suecos lá saberão o que fazem: preferiram a certeza do mundo em que vivem, da sociedade com assistência social generalizada. Resta saber se este tipo de sociedade é sustentável económica e financeiramente, sob a pressão da concorrência acrescida que a globalização impõe e com as tendências demográficas a que assistimos.
Outra dimensão curiosa e importante deste resultado é o impacto que este resultado terá nos políticos ingleses. E a adesão ou não dos ingleses tem outra relevância para a Europa (afinal de contas, Londres é o maior centro financeiro do Velho Continente). Blair prometeu um referendo e deverá fazê-lo nesta legislatura. O homem já demonstrou que dá grande importância à sua relação com a História e como esta o tratará no futuro. Gosta de desafios difíceis e parece não se assustar com ter de defender opiniões aparentemente menos populares. A adesão ao euro é o outro teste à sua dimensão como líder de dimensão internacional - em matérias de política internacional tornou-se no mais relevante dirigente europeu (contrariando as previsões de quem lhe chamava líder de plástico - como Soares - e resistindo bem melhor que herdeiros do socialismo dinossáurico como Jospin).
Paradoxalmente, os argumentos de grande parte dos defensores do Não ingleses (nomeadamente os conservadores) são diametralmente opostos dos defensores do Não suecos: entendem que a Europa é uma construção burocrática, pejada de garantias socias que apenas limitam o crescimento e progresso económico. Nas duas críticas haverá certamente elementos a considerar. O modelo de construção europeia tem muitos defeitos. Mas a união monetária não é certamente o campo onde as coisas têem corrido pior. E é o acto mais racional em termos puramente económicos. Contudo, os referendos de adesão ao euro tornaram-se um campo de discussão e projecção de outro tipo de argumentos.
O cimento desta coligação negativa é sobretudo o medo da mudança. O que une conservadores (alguns), nacionalistas, tradicionalistas, sindicalistas, verdes, fascistas e comunistas é o temor de se estar a construir uma Europa onde os seus valores e interesses não sejam acautelados. É este conjunto de paradoxos, de aparentes contradições, de conflito entre defensores da sociedade aberta e representantes da sociedade fechada, de concepções de liberdade económica distintas (a anglo-saxónica e a continental) que torna a construção europeia num processo fascinante e a discussão de temas políticos europeus numa das mais importante do nosso tempo. Esperemos que em Portugal com a aproximação das eleições europeias, os cidadãos ganhem consciência disso. E participem, desta vez mais do que noutras ocasiões, em eleições fulcrais para o seu destino.
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