COISA ANTIGA: Noutros tempos, por alturas de fins de Agosto, as TV's não desprezavam a peçazinha da ordem sobre a chegada e sobre a partida deles. Sempre as mesmas entrevistas, os mesmos dizeres com o comboio apitar ao fundo. Esses dizeres dos emigrantes traziam-me à memória a única recordação que tenho da guerra colonial (aquela que retardou a libertação e a prosperidade de Angola), quando os soldados, um a um, pelo Natal e Ano Novo, na RTP, balbuciavam qualquer coisa para os pais e para a namorada. O retorno é o eixo comum.
Mas hoje as TV's já não se despedem dos emigrantes, embora eles continuem a partir. Agora temos os nossos imigrantes, a russa que vende peixe em Montemor, o engenheiro polaco que assenta tijolo na nova catedral da Luz, o bielo-russo que morreu atropelado no IC2. Também já não temos guerra colonial, mas ainda temos veteranos de Tete.
As coisas vão-se apagando, com a rapidez de um cão a morrer. As marcas de tanto esforço são pouco visíveis, sejam as das remessas dos emigrantes, sejam as da estafa dos veteranos, sejam as do sacrifício dos obreiros do Euro-2004. Povo curioso, que assomamos á janela do mundo, para de seguida lhe fechar as portadas, que temos frio.
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