DIFÍCIL: Não tem sido objecto de grande discussão na blogosfera, nem, a bem dizer, nos outros media. Falo da discussão aparentemente técnica sobre se as testemunhas do caso Casa Pia devem encarar coram populo os seus putativos abusadores. José Luis Pio de Abreu e Cristina Oliveira, psiquiatras experimentados e docentes da Faculdade de Medicina da UC, elaboraram julgo que a pedido do Dr. Rodrigo Santiago, um parecer que tende a responder afirmativamente à dúvida colocada. O Dr Allen Gomes, idem idem, escreveu há duas semanas no Expresso um artigo em que concluia que o melhor era não experimentar a coisa.
Conheço os três, muito bem os dois primeiros, O Dr. Pio de Abreu ( com quem trabalhei e aprendi) e a Drª Cristina Oliveira, há muito tempo. No entanto, neste caso, tendo a concordar com Allen Gomes.
Esta minha opinião vale tanto quanto a de qualquer outro cidadão, e era aqui que queria chegar. Neste caso, não reconheço autoridade a nenhum especialista, sejam psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, por melhores que sejam, ou por mais que amizade que lhes tenha.
* Se partirmos da hipótese que a criança ou adolescente pode ficar face a face com o seu abusador, a relação de poder reverte a favor deste, pois se está a depôr, no espírito do miúdo, é porque o mundo exterior à situação não reconhece como absolutamente válida a sua versão. É todo um mundo que desaba.
* Se partirmos da hipótese que a versão do garoto é falsa, ou que o garoto é algo mais do que isso, o confronto com, o neste caso adulto inocente, não o favorece, a ele, inocente, necessáriamente.
Ou seja, como não sabemos, à partida qual o estatuto moral das testemunhas, nem pelos vistos podemos separar a faixa etária delas ( a actual e a da altura dos factos a discutir), a prudência aconselha que seja de evitar a confrontação directa.
Não sou jurista, e por isso me escapa muita coisa. Tive já na minha consulta variados casos de abuso sexual de crianças e aprendi o valor da prudência e da reserva. Aprendi também que a inocência é um código ausente de muitas relações deste género. Mas, apesar de limitado, percebi há muito que a vantagem está quase sempre do lado de quem organiza o discurso e a palavra. Não é preciso ser especialista de coisa nenhuma para aceitar que basta haver uma criança de facto abusada, para que a confrontação directa seja de todo, desaconselhada. Há-de haver outra forma.
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