EDWARD SAID & WOLF LEPENIES: Cruzam-se a certa altura por causa da velha discussão sobre o papel dos intelectuais. Said mais à esquerda, Lepenies mais à direita, ninguém nos extremos.
Said, que desconsiderava Arafat, porque o achava um anti-democrata, explicava parte do fanatismo da extrema direita pelas suas raízes na extrema esquerda: os ex-convertidos são sempre violentos e dogmáticos. Membro do Conselho Nacional Palestiniano, criticou os acordos de Oslo de 1993 porque entendeu que a OLP capitulou face a Israel. Desprezava igualmente o olhar apaixonado que o ocidente lançava à democracia israelita, porque nos territórios, Israel comportava-se como o mais fanático dos regimes.
Como se percebe, a vida de Said não foi fácil, e aqui se discute o papel do intelectual. Como calar-se ante o McCarthysmo e falar sobre Shakarov? Said não pretendia vestir a pele do intelectual superior e moralmente equidistante, antes defendia o empenho nas causas. O problema, é que as causas têm cores, a política torna-se um entusiasmo religioso, dizia.
Lepenies acerta o passo com Said quando propõe ao intelectual europeu de hoje, o estatuto de céptico nómada, recuperado de Kant. Recordando os gritos da populaça quando Lavoisier era executado - a Républica não precisa de cientistas - Lepenies desconfia mais dos modelos utópicos-criminosos, Said esburaca os podres do triunfo capitalista-ocidental.
Nenhum deles, porém, ao contrário de outros, se lembraria de se vestir de democrata em Lisboa e despir-se em Havana. Ou de chorar as Torres e ignorar Allende. É que como dizia Plessner, há sempre tempo de chegar atrasado.
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