HOJE DEU-ME PARA ISTO: Para me meter com o nosso FNV. Não gosto de tornar este blogue numa conversa entre amigos, pelo que este post é uma excepção. Mas ao nosso FNV, fugiu-lhe o pé para a demagogia barata no post Oxalá.
Nasci e estudei em Coimbra, mas já não vivo lá há bastantes anos. Regresso com alguma irregularidade. Para rever família e amigos. Tenho hoje, portanto, uma relação mais afectiva que efectiva com Coimbra. Constato (e não gosto) que a cidade nos últimos vinte anos ficou mais feia (urbana e esteticamente falando). Que porventura perdeu influência à escala nacional, ainda que eu ache que a suposta importância do burgo sempre foi mais mítica que real. Tudo isto graças a um conjunto de factores: nascimento de novos pólos de ensino pós-25 de Abril e aumento da concorrência como centro do saber, o conservadorismo de algumas instituições da cidade e sobretudo cerca de 3 décadas de gestão autárquica ruinosa, sem rasgo, desprovida de ambição e (não gosto muito da expressão, mas lá vai ter que ser) provinciana.
No entanto, a cidade tem ainda muitas coisas das quais se deve orgulhar: por exemplo, um pólo de ensino universitário muito relevante nacional e internacionalmente (isto não se altera em vinte anos), é um centro de excelência na Saúde e permite uma qualidade de vida difícil de obter em grandes metrópoles (que o descalabro urbanístico ainda não destruiu totalmente).
O nosso FNV resolveu mencionar que a cidade vai receber os Rolling Stones sem ter a Alta recuperada (que tem de ser uma aposta estratégica dos próximos anos) e com problemas como o Hospital Pediátrico por resolver. Ora bem, isto é demagogia (involuntária talvez, mas demagogia). Porque o concerto dos Rolling Stones é uma iniciativa privada, que se paga a si mesmo. Ou seja, não houve nenhum desvio de verbas públicas destinadas a outros fins para se efectuar este concerto.
Coimbra só fazia bem se alastrasse esta lógica a outras áreas: a Alta só será recuperada se se conseguir atrair capitais e interesses privados, numa parceria com as entidades públicas para esse projecto. Se essa recuperação tiver interesse económico e o espaço tem bastante potencial para isso. Tal depende de muitas coisas (alterações legislativas, da lei do arrendamento, da ousadia da autarquia) mas não do concerto dos Rolling Stones. Nesta medida o facto de se efectuar um concerto desta dimensão é até uma boa nova, quanto a uma nova ambição para a cidade.
Por isso vão a Coimbra curtir os Stones e, se puderem, deitem uma olhada e passeiem pela linda Alta da cidade. Porque é da mistura de tradição e modernidade, de cosmopolitismo e bairrismo, de urbanidade e ruralidade que se farão as cidades médias competitivas no futuro. Sabendo que nessas mudanças, nem todos ficarão contentes: uns por conservadorismo, outros por ficarem aquém do seu progressismo exaltado, outros ainda por mera tacanhez de espírito e gosto pela maledicência (um hábito há muito instalado por aqueles lados). Mas como bem canta o Mick Jagger, you can't always get what you want !
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