NOTÍCIAS DO IMPÉRIO: O paradigma das finanças públicas saudáveis foi promovido pela escola monetarista, pelos Chicago Boys que muito ajudaram definir e implementar a reaganomics. Ganharam o debate intelectual e só em inícios dos anos noventa os democratas conseguiram eleger um Presidente, porque precisamente assegurou aos americanos que não aumentaria o défice das contas públicas com programas sociais. Prometeu e cumpriu. Graças ao maior período de expansão económica da História da América, Bill Clinton deixou o governo americano com um superávite orçamental. Se o mérito foi dele ou da expansão permitida pela liberalização da economia iniciada por Reagan é outra conversa (eu inclino-me mais para a segunda hipótese).
Os herdeiros políticos de Reagan, ou seja a administração Bush, conseguiram um brilhante feito: as previsões para o défice orçamental chegam a quase 6,1% do PIB americano no final deste ano. Um corte de impostos e gastos com o Medicare e sobretudo com a guerra ao terrorismo levaram a este infeliz resultado.
O corte nos impostos (como o qual concordo em teoria) foi polémico: há quem diga que estimula pouco o investimento e apenas favorece a acumulação de poupanças de 1% dos americanos mais ricos. Não sabemos, não o conhecemos em pormenor. Mas parece estar a fazer os seus efeitos: a economia americana cresceu no 2º trimestre do ano cerca de 3,1%. No entanto, o desemprego é enorme, fruto da crise que se arrasta desde finais de 2000. Se a amplitude da retoma económica não permitir a criação de muitos empregos até ao Verão de 2004, George W. Bush está feito. Segue o caminho do pai: presidente de um só mandato.
A pressão de uma guerra prolongada e desta conjuntura económica farão com que os americanos prefiram outra pessoa na Casa Branca. Mas apenas se esse outro fôr alguém que continue a garantir a sua segurança. É por isso que o personagem-chave das próximas eleições americanas será provavelmente o General Wesley Clark. Não sei se como candidato a presidente, se como vice de Howard Dean (esta segunda hipótese é mais díficil - Dean precisa mais de Clark, que Clark de Dean). Apesar de Dean estar agora a viver o seu momentum, é demasiado fora do mainstream para poder ser eleito - a não ser que revele uma capacidade política inesperada, de cavalgar o eleitorado de esquerda mais militante agora e centrar o seu discuro mais tarde sem soar a falso. Porque agora soa a McGovern, a anti-guerra do Vietname, Woodstock a mais e música country e jazz a menos.
Clark é popular, é um general com provas dadas no terreno (Bósnia e Kosovo) e é conhecido da maioria do eleitorado americano (dois terços dos americanos não sabe nomear um candidato democrata às primárias). Bill Clinton assassinou subtilmente todos os candidatos ao afirmar (e deixando que se soubesse) que o Partido Democrata só tem duas estrelas (Hillary - quem havia de ser ? e ... Wesley Clark). As primeiras eleições primárias são em Janeiro. Ainda há tempo para novos candidatos se apresentarem. Sem Clark os democratas parecem muito mansinhos em matérias de segurança. Com Clark, o principal argumento de Bush é esvaziado. Passa a ser a economia outra vez, estúpido !
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