O DEBATE CONTINUA: O grande André Soares vai receber o título de lobo do mar honorário pela sua capacidade em manter vivo um excelente debate:
O debate em torno da cidadania vai-se alargando na blogosfera (nunca tinha escrito esta palavra) com contributos vários. Motivado, em primeira instância, pelo post “Cidadania”, do Neptuno, penso que vai beber do que também por ele ficou escrito nos postes “Política e Responsabilidade” e, uma vez que é referida a questão, nos meus textos relativos ao voto em branco, que me mereceram aliás, por simpatia e/ou ironia do NMP, o epíteto de apóstolo.
Este tema (cidadania) interessa-me. Não, não faço um discurso anti-política ou anti-políticos. Não é, também, um discurso niilista. Trata-se de tentar perceber como é que alguém (como eu) que gosta de política e que acredita que, através da política, se podem resolver alguns problemas comuns de um povo, pode participar politicamente na vida de um País estando fora dos partidos, destes partidos, do “aparelho”…
Desde logo, sei que se faz “política” na condução da nossa vida pessoal e profissional. É através da afirmação e prática da “ética” nas relações interpessoais que se ganha legitimidade para exigir que todos os outros procedam para connosco do mesmo modo. E “todos” inclui, obviamente, as pessoas colectivas (entre outros, partidos, associações, fundações, cooperativas, empresas e, maxime, Estado).
Vamos agora aos partidos, que acabam por assumir a condução da máquina Estado e são, por isso, peça fulcral: os dirigentes partidários são sucessivamente referendados pelas “bases” até atingirem cargos de responsabilidade. E estas bases não são necessariamente melhores (mais informadas) do que o cidadão que está fora dos partidos. Alguns há que, como já escrevi, "pertencem" ao PS ou ao PSD como são do Sporting, do Benfica ou do Porto. São e pronto. Ponto. E assim o “são”, também, de determinadas “facções” ou “sensibilidades”. E no fim, apresentam a factura…
A questão mais urgente é, parece-me, a reforma do sistema eleitoral. Permitir que grupos de cidadãos sejam candidatos. Permitir que quem não pertence à nomenclatura, quem tem ideias para debater mas rejeita demagogias e populismos, possa apresentar as suas ideias sem passar por plebiscitos de “bases”.
Porque há um “povo” partidário e, muitas vezes, faccioso, que rumina nas esquinas das sedes as melhores formas de “assalto ao poder” e há “outro povo” que gosta de ideias e reconhece-as quando as encontra, porque não permitir que essas ideias sejam directamente sufragadas? Porquê a obrigatoriedade de “passar” pelos partidos? Quem tem medo dos círculos uninominais? - Todos os partidos que existem em Portugal, diria…
Quando se diz que uma maioria absoluta do voto em branco permite leituras que lhe retiram o sentido de rejeição das actuais organizações partidárias, obrigando a uma reformulação do “sistema”, está-se a estender a mão aos demagogos. O voto em branco é o que é: uma rejeição de todas as propostas que se apresentam – não escolho A nem B, porque não acredito em nenhum deles. É isto que quer dizer o voto em branco. É diferente da abstenção. Não é a mesma coisa nem tem a mesma leitura.
Será uma boa maneira de obrigar à reforma do sistema eleitoral? Não sei. Apóstolo, não (falta-me o carácter militante e dogmático). Ingénuo, talvez. Mas é preciso fazer alguma coisa. Críticas destrutivas abundarão, certamente. Sugestões alternativas para a reforma dos partidos e da democracia, alguém tem?
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