OS INTOCÁVEIS?: A recente polémica com o nosso FNV lembra-me alguns posts já escritos neste blog, que afloraram de certo modo o essencial: a actividade jornalística - sobretudo no campo da política - contém em si um exercício de poder. Bom ou mau, isento ou instrumentalizado, mas sempre com larga discricionaridade ou mesmo impunidade. E não me refiro a uma qualquer intenção regulatória bigbrotheriana (nem a todos media indistintamente) mas apenas à aplicação da... lei. Tal impunidade manifesta-se, entre outros aspectos, no mau funcionamento dos tribunais (presente em todas as impunidades), acompanhado do nunca-integralmente-cumprido direito de resposta, da impossibilidade de ver o nome limpo com o mesmo destaque com que tenha sido erroneamente sujo e nas ridículas compensações que são atribuidas às vítimas de calúnias. Entre outras hipóteses, o exercício de um tal poder pode revelar-se ao serviço de um projecto político, concorrendo com outros projectos políticos - quando, por exemplo, os comícios partidários estão "meio cheios" ou "meio vazios", consoante o jornal ou o canal - ou mesmo abatendo-se inexoravelmente sobre um qualquer cidadão mais inconveniente - tendo como expoente máximo uma crucificação pública tipo Macário Correia.
Em qualquer caso, um exercício de poder sempre suscita, naturalmente, as opiniões e comentários do cidadão comum. E, em qualquer relação com um qualquer orgão de comunicação social, o cidadão comum será sempre um pequeno David. E, tirando as cartas dos leitores ou as declarações de entrevistados - ambas filtradas pelos próprios jornalistas - e salvo falhas técnicas, a blogosfera é, provavelmente, o único espaço onde é possível emitir opiniões sobre jornalistas (e respectiva actividade) com total garantia de publicação.
Assim, não acreditando que certas reacções a apontamentos do nosso FNV sejam manifestações de uma sinistra intolerância, julgo ser mais adequado concluir pela (perigosa) inexperiência perante a novidade da crítica.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.