A PALAVRA A UM GÉNIO: O J.P. Simões é nada menos que um génio. Jornalista cultural de nível e poeta com alma, é mais conhecido das massas por ser o vocalista, letrista, ideólogo e a imagem dos Belle Chase Hotel, que foram a melhor coisa que a cena musical portuguesa produziu nos últimos anos. Muitos, nos quais eu me incluo, suspiram pelo dia em que publicarão o terceiro álbum para sacudir o marasmo que são as edições das novas bandas portuguesas.
O J.P. Simões faz o favor de ser meu amigo há muitos anos. Suspeito (sempre suspeitei) que ele é de esquerda. Mas como acontece com todas as coisas verdadeiramente importantes na vida, isso nunca foi relevante para nós nem para a nossa amizade.
Por motivos meus, tenho andado virado para a poesia e para os meus amigos nos últimos tempos. Pelo que resolvi editar aqui um poema que ele publicou em Fevereiro na revista Egoísta. É um desiludido manifesto de amor a Portugal e uma genial denúncia da irresponsável despreocupação dos portugueses com a sua pequenez e o seu futuro, que só poderia brotar do seu espírito anarca e iconoclasta. Enfim, um momento subversivo no Mar Salgado. A palavra a um génio.
Pa larvas
Pára, pá
Pára, põe-te em pé
E desentope-te pá,
Desampara-te
Aprimora-te e desempenha-te pá
Em pânico, pois: estás à pinha, pá
Poluído, pasmacento, pleonástico
Fazes piruetas patéticas para quem passa pá
E as pombas perseguem-te com poias implacáveis
Por mais que procures poções piramidais
para os pessoalíssimos problemas
Perdes-te na palha:
E pedes apoio
Pões pinta de pobrezinho
E dás a pata pá
Dá a pata pá
Que eu passo-a a pente
com ponta de picos
Para depois te pedir perdão
Tenho tanta pena pá
Vai prescrutar a patagónia pá
Por aqui não se passa nada
Só passas tu:
Apimentado, pleno de papas e pomposo,
presa preguiçosa da piranha papal
Pobre pinóquio pedante
O teu prazer perdeu o pulso
Sapato polido sem pé
Pisa-te pá
Apunhala-te
Emporcalha-te
E põe-te a pau
Porque a paciência já é pouca
para pedir provas
A um povo tão perdido.
E podes bem pedir-me para parar
Porque é perigosa a publicidade para o país:
Mas não precisas de mim para parecer parvo
Eu só ponho no papel
A palavra que passa
Nos parques e esplanadas
Que pontua os patuás
Das pessoas porreiras
A palavra proibida
O poente, o pretérito
O pomposo passado
O património impraticável
O tempo que passa pá
Já passou pá, já passou
Pensa neste particular perfume
Esta pretensão a ser perfeito
Esta paranóia de parecer um príncipe
Entre os pilares apopléticos
E os profundos pinhais
E as pequenas propriedades privadas
A plenos portões
Para grandes patrões
E esposas mal podadas
E filhos poltrões
Que já se parecem com nada
Mimados de papillons.
Por aqui e por ali
No pequeno pátio
Tudo pronto
para apodrecer
Mas bem polido
País que os
pequenitos
Nunca pediram
Que parte o coração
A quem aproxima o pensamento
Por ser mais prático
Padecer de parkinson
Complacentemente
Não é nada pontual
As pessoas pensarem
Em partir daqui
para outras paragens
Outras expectativas:
E não te perguntas
Porque há tantos poetas cá?
Já partiram pá:
Vivem noutros planetas
Em prédios ao lado
Em pesadas penas
Ou em penugens de pássaros
Passaram a ponte
da possibilidade
Porque aqui só há
possibilidades pá
E muito pouco para partilhar
Tirando a patetice do pontapé na bola
E uma panóplia de produtos pindéricos
Que pesam a quem procura pousar
O pequeno coração no pavimento
Mas bendito sejas entre os povos do planeta
País precoce que pressentiu desde o princípio
Que a vida não pára de partir a porcelana:
E, então, porque não importá-la
E possuir apenas a aparência opulenta
A prosa do que é profundo
E não o fundo pardo do futuro que apoquenta.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.