ALMANAQUE DAS INTOXICAÇÕES V: Bruxas, Centeio Louco & LSD: É sina das intoxicações, serem, em diferentes épocas, confundidas com outras expressões da cultura. Ontem como hoje, a hiper-valorização do papel das drogas arrasta-as para mal entendidos de consequências duradouramente nefastas.
O ergotismo foi uma doença comum, na Europa pelo menos entre os séculos VII e XVIII, tanto na forma gangrenosa como na forma convulsiva. Esta intoxicação devia-se à ingestão de centeio (ou de trigo) infectado por um fungo, o Claviceps purpurea durante Primaveras e Verões particularmentes chuvosos. A forma gangrenosa, que causava feridas e rush cutâneo, ficou conhecida por St. Anthony's Fire ou fogo sagrado, sacer ignis, uma vez que Gaston de La Valoire ergueu os primeiros hospitais para estes doentes em honra de Santo António.
Mas a mais interessante é a forma convulsiva. Os desgraçados que ingeriam o centeio infectado pelo ergot ( ou cravagem, esporão, do centeio), exibiam convulsões, espasmos musculares, tremores, alucinações. Esses tempos, do Delfinado, à Aquitânia da Idade Média, eram perigosos para quem alucinava. Por isso nessa altura a designação seigle ivre ou tolkorn, ambas para centeio louco. Assim, muitos foram tomados por bruxos e bruxas, às quais eram atribuidas as mais espantosas capacidades de metamorfose, exuberância sexual e incoerência discursiva, como avisava Francesco Maria Guazzo, no seu célebre Compendium Maleficarum, do início de Setecentos. Não espanta que na Suábia, sudoeste da Alemanha, anos gordos em julgamentos de bruxas, acompanhassem anos de magras colheitas de centeio: o ergot fazia a sua ravage, em ambos os sentidos. Também nos Tribunais do Santo Ofício, por exemplo do Friuli, no Piemonte, entre 1596 e 1700, 42% dos acusados eram putativos adeptos das artes malignas: mas muitos eram simples doentes.
A história do Claviceps purpurea inicia o seu 2º apogeu quando em 1938, o Dr. Albert Hofmann, um investigador da farmacêutica Sandoz, sintetiza o 25º derivado do ácido lisérgico existente no belo fungo. Estava descoberto o LSD, Liserg Saure Diethilamid, vulgo, dietilamida do ácido lisérgico. O que se passou mais tarde, com os meninos dos campus universitários dos EUA, nos anos sessenta do século XX, sob a batuta do grande guru Thimothy Leary, já é outra história.
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