CARTA ABERTA Á DINAMARCA, IRLANDA, NORUEGA E OUTROS: Nesta altura é difícil resistir, é difícil a ataraxia epicurista. Uma catedral desportiva, o novo Estádio da Luz, impressionou o Primeiro Ministro, os Presidentes, o actual e o futuro ( por enquanto só o é da Camâra Municipal de Lisboa), e o Bispo.
Um luxo que custou 125 milhões de euros, não deixa ninguém indiferente. Por isso nesta altura, uma palavra de solidariedade para aqueles povos menos afortunados, que não podem ainda construir 10 coisas iguais a esta: que porfiem, que tenham paciência.
Um dia, se tal como os portugueses, conseguirem ter o essencial assegurado, acreditem que será possível almejar tal desiderato. Comecem pelos hospitais, construam dezenas, modernos e funcionais, despedindo de vez as macas nos corredores, e garantindo que um homem é operado cinco anos antes de morrer. Depois, construam e modernizem escolas e universidades, onde não chova, nem habite o frio no Inverno nem as pulgas no Verão. Passem então ao saneamento: metam canos debaixo da terra, levem água e tragam detritos, de forma ordenada. Não se esqueçam dos bairros históricos, das catedrais e das Igrejas das vossas cidades, recuperem-nos, embelezem-nos: são as vossas declarações para memória futura. Não se esqueçam de assegurar que juízes e funcionários só trabalhem à chuva se quiserem.
Possibilitem aos artistas os pianos, levem a ópera aos saloios, produzam um filme que custe mais de 1 milhão. Já agora, se me permitem o conselho, rasguem auto-estradas onde antes se rasgavam vidas.
Claro que não poderão resolver os males de uma penada. Não receiem construir as 10 catedrais se ainda houver fome ou miséria, aqui e ali. Sempre houve, continuará a haver. Mas se tiverem assegurado o essencial, que tão fastidiosamente vos estive a enumerar, a vossa tarefa será honesta e virtuosa.
Bem-hajam, e ponham os olhos em nós, em Portugal.
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